Em A Dama de Honra , Claude Chabrol flagra a paixão entre Philippe (Benoît Magimel, de A Professora de Piano ), rapaz aparentemente centrado, e a possessiva Senta (Laura Smet). À medida que a projeção avança, o espectador acompanha a evolução(?) do relacionamento dos dois, cada vez mais claustrofóbico e doentio. Como se pode ver, uma história de amor com tintas carregadas bem parecida com tantas outras que já bateram ponto na tela grande.
A diferença reside no fato de que Chabrol parece saber disto. Tanto que cria algumas seqüências de percurso – nas seqüências de abertura, com a câmera entrando e saindo de ruas até chegar na casa de uma moça desaparecida, da delegacia, com Philippe percorrendo corredores e salas para receber uma determinada informação, e da casa de Senta, ao ser revelada integralmente – como que para mostrar que o percurso pode ser mais importante do que o que se descortina na hora da chegada.
Assim, apesar de escorado em livro de Ruth Rendell, A Dama de Honra é um suspense propositadamente frustrante, pelo menos no que diz respeito ao desdobramento de uma trama sem surpresas diante do público. Mas o mistério não precisa estar concentrado em guinadas de trama. E se por um lado o caso de Philippe e Senta soa óbvio demais, por outro Chabrol insere alguns elementos sem fornecer muitas pistas à platéia: o fascínio de Philippe por um busto feminino, colocado no jardim de sua casa mas presenteado pela mãe, a cabeleireira Christine (Aurore Clément), ao novo namorado; a natureza da cumplicidade dele com a mãe; e a postura alienada da madrasta de Senta, que só faz treinar para um concurso de dança. É do contraste entre o excessivamente explicitado e o sem resposta que desponta o estranhamento causado por este seu filme.
# A DAMA DE HONRA (LA DEMOISELLE D’HONNEUR)
França/Alemanha/Itália, 2004
Direção: CLAUDE CHABROL
Roteiro: CLAUDE CHABROL & PIERRE LECCIA, baseado em romance de RUTH RENDELL
Produção: PATRICK GODEAU
Trilha Sonora: MATTHIEU CHABROL
Fotografia: EDUARDO SERRA
Elenco: BENOÎT MAGIMEL, LAURA SMET, AURORE CLÉMENT, BERNARD LE COQ
Duração: 111 minutos
