Críticas


MUITO ROMÂNTICO

De: GUSTAVO JAHN e MELISSA DULLIUS
Com: GUSTAVO JAHN, MELISSA DULLIUS, GUSTAVO BECK
26.05.2017
Por Leonardo Luiz Ferreira
Une experimentalismo ao narrativo de forma consistente.

Após uma bem-sucedida carreira no curta-metragem, era natural que os cineastas Gustavo Jahn e Melissa Dullius chegassem ao longa-metragem. E Muito Romântico é uma verdadeira carta de princípios de cinema que une experimentalismo ao narrativo de forma consistente. É o chamado corpo estranho e necessário do cinema brasileiro, um olhar de fora para dentro, de uma dupla que reside em Berlim e sabe unir referências do cinema de vanguarda a contemporaneidade de videoinstalações formatando um universo imagético particular.

Muito Romântico, título de uma canção de Caetano Veloso, tem como movimento fundador a imprecisão do balanço do mar, do navegar rumo ao desconhecido. Um poema em off e narrações de um diário criam uma sustentação para as imagens granuladas e estouradas do 16mm. Alguns planos desse entrecho remetem ao estudo e utilização do digital de Jean-Luc Godard em Filme Socialismo (2010). Outro elemento estético que chama a atenção é o desenho sonoro que promove o choque entre aquilo que se vê e ouve, tão bem utilizado no Cinema Marginal, tendo como destaque Júlio Bressane.

A narrativa do filme vai mesclar porções documentais que remontam a história dos dois em Berlim, filmagens de locais por onde moraram na cidade alemã, com comentários e descrições; reencenações de momentos passados; e o segmento ficcional com a rarefação da trama, que gira em torno do amor e o ciúme: “comprei essa caixa para você guardar bem os seus segredos”, diz Gustavo para Melissa, numa sequência de cama e literatura que se conecta a outro nome da Nouvelle Vague, François Truffaut.

Muito Romântico se constitui na tela, em alguns momentos, como uma bricolagem de ideias e formatos distintos, de busca por uma voz singular. Um filme entre o cinema mudo e a videoarte, que sabe explorar o passado (Georges Méliès e textura da película) e o presente, sem ficar preso a nenhum dos dois.

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