A celeuma que se criou em Cannes ajudou a chamar atenção para "OKJA", o filme do sul-coreano Bong Joon-Ho que chega agora ao Netflix, que o produziu e proibiu seu lançamento nos cinemas. A partir do ano que vem Cannes não aceitará mais filmes que não sejam lançados no cinema. Faz todo o sentido. Mas infelizmente perde o Festival e perde o Netflix, que abre mão de uma incrível janela de divulgação. Na ocasião, lancei uma ideia: por que a Netflix não se associa a uma sala de cinema em cada uma das principais cidades do mundo para exibir suas produções? Se já se investe tanto dinheiro no filme, porque não investir um pouquinho mais e dar ao público a chance de ver o filme no cinema por um tempo limitado? Inclusive potencializaria o público que veria por streaming depois, acredito.
Depois de ver “Okja” em casa, constatei que Bong Joon-Ho não fez um filme pensando no formato de exibição em tela pequena. Desde o início, quando o porco gigante e sua pequena dona brincam no meio da floresta, já fica claro como a fotografia de Darius Khondji vai explorar os planos abertos e a profundidade de campo, culminando com as magníficas tomadas da área externa do matadouro. Bong Joon-Ho e Kohndji fizeram CINEMA.
Um cinema que não chega a ser tão bom quanto a obra-prima do diretor, “O Hospedeiro”, ou os ótimos “Mother” e “Expresso do Amanhã”, mas que tem qualidades, sobretudo pela ousadia de, sendo parte de um processo de produção industrial, conseguir imprimir toques autorais e críticas à ganância capitalista do mundo corporativo. Entretanto, “Okja” funciona melhor se visto como uma fábula singela sobre a amizade entre um porcão geneticamente modificado e a jovem fazendeira que o criou, a carismática Mikha (Ahn Seo-Hyun). É nesse aspecto que ele tem mais força. A perda de inocência da menina é um pouco a nossa quando percebemos as implicações embutidas no prazer de comer carne.