1. Diários: foram muitos os documentários autobiográficos. O melhor: Diários de David Perlov; o mais engraçado: Totalmente Pessoal, do bósnio Nedzad Begovic; o mais escandaloso: TV Junkie; o mais superficial: De Olhos Abertos, sobre a insônia de Alain Berliner; o pior, surpreendentemente: Homem-Filme, em que Alain Cavalier passa a maior parte do tempo exibindo um câncer no nariz.
2. Vidas: numa bela safra de documentários, destacaram-se os perfis biográficos do pastor Jim Jones (Jonestown); do arquiteto Frank Gehry pelo amigo Sidney Pollack; e do jovem guatemalteco que foi o primeiro soldado do Exército norte-americano a morrer na guerra do Iraque (A Vida Curta de Jose Antonio Gutierrez). Esse último é uma espécie de Ônibus 174 de um imigrante que só virou gente depois de morto. Tudo o que Você Queria Saber sobre Robert Wilson poderia entrar aqui, caso desse mais atenção ao processo criativo do artista.
3. Suicídios: o tema foi explorado pelo lado do fenômeno de massa (Jonestown); da psicologia individual (A Ponte) e do fetiche de entretenimento (Um Anjo da Guarda, de Luc Besson).
4. Vodkas: o humor do Leste europeu (singelo e grosso ao mesmo tempo) fez-se presente em duas comédias impagáveis – a romena 12:08 East of Bucharest, com a hilária gravação de um programa de TV e um ator que é a reencarnação de Totò; e O Livro dos Recordes de Shutka, vinda da Macedônia com o sabor do melhor Kusturica e sem as delongas do pior Kusturica.
5. Estilos: com a multiplicação dos fast films (produções em digital, baratas e rápidas), está cada vez mais difícil encontrar filmes com estilo, linguagem estudada e imagens bem cuidadas. Daí o destaque para a elegância bergman-viscontiana de Patrice Chéreau em Gabrielle, a interação de Stephen Frears e Affonso Beato em A Rainha e a exuberância visual do novelão egípcio Edifício Yacoubian.
6. Africanos: em Bamako, Abderrahmane Sissako esteve próximo de fundar um novo gênero, o filme-debate, integrando numa estrutura de ficção uma discussão real sobre os problemas da África globalizada. Os conflitos contemporâneos do continente também foram abordados de maneira inovadora no belíssimo O Filho do Homem, do sul-africano Mark Dornford-May, que recontou a história de Jesus em meio a guerrilhas, ditaduras e cantos cruciantes.
7. Chilenos: depois do recente Machuca, dois novos filmes deram provas de modernidade e excelência do novo cinema chileno. Na Cama e A Sagrada Família dissecaram relações de casal e de família com linguagem e interpretações magnetizantes. Os argentinos que se cuidem.
8. Superstições: o vento de La Mancha traz loucura e pode ressuscitar os mortos (Volver); entre a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa, Deus está morto e o pecado não existe (Madeinusa); para os jainistas indianos, uma mosca dentro de um carro precisa ser levada de volta ao seu ponto de origem (O Grito das Formigas); “Todos nós temos dias brancos e dias negros” (Milarepa).
9. Sorrisos: o de Zidane para Roberto Carlos, único momento de descontração do astro de Zidane – Um Retrato do Século 21; o de Cécile de France vendo Gérard Depardieu cantar breguices em Quando eu Era Cantor; o de Helen Mirren como a Rainha Elizabeth II ao conseguir afastar (pelo menos temporariamente) um belo cervo da sanha dos caçadores da Família Real.
10. Frases: “Só quem dura sai de moda” (Gérard Depardieu, em Quando Eu era Cantor); “Ruínas são a vingança da Natureza” (Havana – A Arte de Construir Ruínas); “Santa Teresa apaixonou-se por um homem nu” (Homem-Filme); “Quando se aspira a menos coisas, é mais fácil ser doce” (Isabelle Huppert em Gabrielle). “Não podemos usar um casaco abóbora na rua, então operamos o nariz” (Nariz à Iraniana); “Do you want a new life?” (slogan de clínica estética em Time).
Obs: Não assisti aos filmes da Première Brasil
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