Especiais


FESTIVAL DO RIO 2006: OS DESTAQUES

07.10.2006
Por Luiz Fernando Gallego
FESTIVAL DO RIO 2006: OS DESTAQUES DE LUIZ FERNANDO GALLEGO

1 - Numa mostra desse tipo, sem “o filme do festival”, os destaques vão mais para atores do que para diretores. Alguns filmes não seriam o que são sem seus intérpretes: a dupla formada por Helena Bonham-Carter e Aaron Eckhart esteve afinadíssima nos diálogos incessantes de Nosso Amor do Passado.



2 - Ainda os atores: Hermilla Guedes é mesmo tudo (e ainda mais) o que se disse dela em O Céu de Suely. Quase merece co-autoria. E ainda que sem as mesmas oportunidades que teve em Cinema, Aspirinas e Urubus, João Miguel confirma que veio para ficar.



3 - Ora, direis, curtir estrelas. O voyeurismo faz parte do cinema e elas são, desde que o cinema é cinema, objetos de desejo, admiração, culto, fetiche. E algumas também são atrizes excepcionais como a low profile Nathalie Baye (O Pequeno Tenente), Lady Gena Rowlands (um dos episódios de Paris, Eu te Amo), as densas Juliette Binoche e Miranda Richardson (em outros curtas do mesmo coletivo). Mesmo filmes de diretores consagrados como Altman e Almodóvar se beneficiam de uma Carmen Maura hilária (Volver) ou de Meryl Streep bem leve e Lily Tomlim sempre à vontade (A Última Noite). Carole Bouquet ao lado de Emanuelle Béart e mais duas menos famosas são fundamentais para Inferno .



4 - Tudo é político? Pode ser, mas alguns filmes são mais “políticos” do que outros: A Batalha de Paris, The Wind that Shakes the Barley e Crônica de uma Fuga abordam o colonialismo francês sobre argelinos, o colonialismo britânico na Irlanda e os porões da tortura na Argentina mais recente. O importante é que são, no mínimo, “cinematograficamente corretos”.



5 - Jonestown – Vida e Morte no Templo do Povo é documentário até para quem prefere ficção: demonstração involuntária das teorias freudianas dos textos Psicologia das Massas e Análise do Ego (que fala dos líderes, hipnotizadores, manipuladores e como as multidões se deixam levar coletivamente) e Futuro de uma Ilusão (sobre o desamparo humano que carece das religiões). Vale ler também Totem e Tabu. Ou ver este filme excepcional.



6 - Prá que escrever diários se ele tinha uma câmera? Epifania de ternura: Os Diários de David Perlov.



7 - Contribuições marcantes: a fotografia de Vilmos Zsgimond para Dália Negra, de Brian de Palma, e a música de Fabio Vacchi para Gabrielle, de Patrice Chéreau.



8 - A redescoberta de que há pessoas inteiras com cabeça e tronco além dos membros e em volta dos genitais: seja no bom chileno Na Cama ou no fraco Deita Comigo.



9 - A câmera suave de Robert Altman sobre as canções country cantadas por seu elenco muito à vontade em A Última Noite. Com outros cantores ninguém agüentaria aquelas músicas, mas desse jeito dá até vontade de comprar o CD da trilha sonora. Melhor será o DVD para “ouvir” a câmera de Altman e “ver” as vozes e interpretações dos atores-cantores. O roteiro é pretexto.



10 – Entretanto, o grande destaque da mostra foi a ausência de destaques emblemáticos e marcantes da produção mundial recente, seja dos filmes que vão ser lançados, seja dos que só se consegue ver em mostras. Em festivais passados houve Taking Sides, de István Szabó, inexplicavelmente inédito até em DVD apesar do nome de Harvey Keitel no elenco. E O Silêncio Depois do Tiro de um Schlöndorff refletindo sobre a reunião/divisão das Alemanhas, que ficou restrito à mostra. E desta vez? O que foi que “quem viu, viu e quem não viu, perdeu”?





LEIA OS DESTAQUES DE CARLOS ALBERTO MATTOS



LEIA OS DESTAQUES DE DANIEL SCHENKER WAJNBERG



LEIA OS DESTAQUES DE JOÃO MARCELO F. DE MATTOS

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário