O filme será exibido como hors concours no É Tudo Verdade neste domingo, 1º de abril, às 16h, no CCBB Rio, em sessão seguida de debate com o diretor e o historiador Daniel Aarão Reis, mediados por Moema Müller.
Diversos personagens de Hércules 56 não poderiam sonhar com o que seriam hoje quando tomaram parte no episódio do seqüestro do embaixador dos EUA, Charles Burke Elbrick, em 1969. Zé Dirceu, o sedutor (em muitos sentidos) líder estudantil, um dos que foram retirados da prisão em troca da liberdade do embaixador, ensaia sua volta ao proscênio político depois de controvertida passagem pelo governo Lula. Franklin Martins, então mentor intelectual do seqüestro, tornou-se jornalista respeitado e acaba de ser nomeado o homem forte da Comunicação no governo federal. Outros são funcionários públicos, músicos, historiadores, sindicalistas aposentados. O avião da História pode levar a tantos lugares.
O filme de Silvio Da-Rin lança uma ponte entre os dois períodos mediante a convivência de dois métodos documentais: de um lado, produz o encontro de cinco idealizadores e organizadores do seqüestro, ex-integrantes da Ação Libertadora Nacional e do MR-8; de outro, ouve em separado cada um dos nove remanescentes dos 15 presos políticos que embarcaram para o México em troca da libetação do embaixador.
Hércules 56 era o prefixo da aeronave da FAB que os levou ao exílio. O medo de serem atirados do avião, a primeira tequila da liberdade na chegada ao México, a posterior recepção como heróis em Cuba e a pronta volta à clandestinidade são lembranças que emergem de pessoas – quase todas – hoje mais ponderadas e reflexivas. Da parte dos organizadores da ação, vêm memórias igualmente reveladoras dos impasses humanos e das emoções contraditórias que eles experimentaram naqueles quatro dias de setembro.
Silvio Da-Rin logrou sondar a quantas anda a reflexão de cada um sobre as opções da luta política naquele momento de recrudescimento da ditadura. Ele próprio foi um militante de esquerda que vibrou com o seqüestro do embaixador. Como bom documentarista, não acredita numa verdade objetiva, mas na conjunção e no conflito de versões.
Um precioso material de arquivo – que mostra os ex-reféns no México e em Cuba – é utilizado com critério na construção de uma narrativa tensa, colorida, que em certos momentos evolui como um thriller oral. É bem raro aparecer um documentário histórico como este, que pode ser visto não como uma aula, mas como um misto indissociável de ação, emoção e reflexão.
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HÉRCULES 56
Brasil, 2006
Direção e roteiro: SILVIO DA-RIN
Produção executiva: SUZANA AMADO
Fotografia: JACQUES CHEUICHE
Som direto: VALÉRIA FERRO
Montagem: KAREN HARLEY
Música: BERNA CEPPAS, KAMAL KASSIM, FLU
Duração: 94 minutos