Depois de agonizar a ponto de correr o risco de virar uma Mostra Revista Caras de Cinema, já é possível dizer, sem titubear, que o Festival de Gramado mudou pra melhor. É visível, em todos os aspectos, que a organização do evento quer recuperar o prestígio que Gramado angariou durante muitos anos, quando era o principal festival de cinema do país, e de relevada importância para a cultura brasileira. A partir de meados da década de 90, Gramado foi se transformando numa grande passarela de pseudo-celebridades de novelas globais, para saciar a sanha de patrocinadores e da população local, deslumbrados pela proximidade com as “estrelas”. Com isso, a classe cinematográfica foi se afastando do evento, e a ampla cobertura dos cadernos culturais foi substituída pelas páginas de revistas de fofoca/celebridades.
O primeiro sinal de mudança se deu ano passado, quando assumiu a nova diretoria do evento, agora presidido por Alemir Coletto. Para cuidar da curadoria da programação de longas, foram convocados o crítico José Carlos Avellar e o documentarista Sergio Sanz. Não há no Brasil quem mais se distancie do perfil badalação-celebridades do que a dupla Avellar-Sanz. Eram explícitas, portanto, as intenções da diretoria do evento.
De imediato, eles “humanizaram” a programação, diminuindo o número de filmes em competição, que geralmente resultava numa maratona que obrigava as pessoas a ficar no cinema de 7 da noite até 1 e meia da manhã. Agora são 6 longas brasileiros – sem a ridícula distinção entre documentário e ficção que havia antes – e 5 latinos, distribuídos em 6 dias de evento. E o nível de qualidade dos filmes melhorou bastante, já que a presença de rostos conhecidos no elenco deixou de ser determinante para a inclusão da obra.
Outra novidade foi a criação de um novo formato de júri popular, agora escolhido através de concursos feitos por jornais de norte a sul do país. Com isso, o prêmio do júri popular passou a ser discutido e debatido por um grupo de interessados, e deixa de ser o mero somatório de notas dos espectadores do cinema, o que volta e meia favorecia os cineastas que tinham mais amigos na platéia.
É claro que não será de uma hora para outra que Gramado vai voltar a ser o que era. Ainda há uma gigantesca passarela vermelha que se estende por um quarteirão inteiro só para o público assistir a entrada das “celebridades”, tipo Ricardo “Cigano Igor” Macchi, e muitos deles, mesmo não estando no elenco de nenhum filme do Festival, têm seus nomes anunciados pelos apresentadores no início de cada noite da programação. Mesmo assim, um importante passo foi dado. Aguardemos 2008.
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