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JOSÉ LOUZEIRO E A ARTE DO ROTEIRO

18.02.2008
Por Ely Azeredo
JOSÉ LOUZEIRO E A ARTE DO ROTEIRO

Em alguns gêneros pode-se dispensar até câmeras: é o caso de filmes de animação do pioneiro Norman McLaren, pintados ou gravados diretamente na película. Mas em todo o mundo do audiovisual o roteiro é como o Primeiro Dia da Criação. As empresas produtoras americanasvoltaram a rezar por este credo, há poucos dias, fazendo concessões exigidas pelos roteiristas após três meses de greve. Para evitar a longo prazo o apocalipse na economia dos audiovisuais, impõe-se a assinatura de um "armistício". Preto no branco. Como na estratégia do jogo do bicho, "vale o escrito" - costuma dizer José Louzeiro. Isto é, o "script".



Autor de mais de 30 livros, 15 roteiros de longas, cinco telenovelas, o romancista de Infância dos mortos, que deu origem a Pixote, a Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco - o filme brasileiro fundamental da década de 1980 -, Louzeiro estará de volta a uma de suas atividades preferidas, as Oficinas de Roteiro, a partir do dia primeiro de março.



Griffith realizou O Nascimento de uma Nação (o momento mais importante no nascimento da linguagem cinematográfica) levando apenas anotações para cada jornada de filmagem. Não era uma prática racional para a consolidação da indústria. Curiosamente, no mesmo ano, 1915, a Universidade de Columbia promovia um curso de roteiro. Outros, mais modestos, pipocavam através do país.



A década de 80 contabilizou mais de mil escolas de cinema nos Estados Unidos - a maioria delas oferecendo aprendizado aos interessados em dramaturgia. Não foi apenas pela contratação de grandes talentos europeus e pelo sistemático apoio político da Casa Branca que Hollywood se tornou a contadora de histórias preferida pelas platéias internacionais.



O histórico Centro Experimental de Cinema (Roma), onde estudaram vários brasileiros de ambições cinematográficas nos anos 50 e 60, só adotou o roteiro como disciplina regular em 1985. Na França, este ensino específico chegou anos depois.



O Rio de Janeiro se tornou referência singular no ensino de roteiro, a partir de 1980, quando fundei um centro de estudos de cinema e TV, o "Estúdio A", e consegui reunir Leopoldo Serran, Antonio Carlos Fontoura e Doc Comparato para uma Oficina de Roteiro. Somente a TV Globo promovia, de vez em quando, oficinas de dramaturgia, e eram exclusivas do "público interno" da emissora. Para acomodar os interessados no

aprendizado o "Estúdio A" precisou acomodar duas turmas, em horários sucessivos, todas as noites. Esta febre não tardou a "contaminar" várias instituições. Modéstia à parte, acredito que contribuímos bastante para difundir uma consciência da importãncia da construção de roteiros. Claro que não somos protagonistas da Retomada da produção nacional, mas tivemos um papel muito gratificante na motivação de uma geração de cinéfilos e artesãos.



Fiz oficinas em parceria com José Louzeiro e, depois, "solo" (pelas quais passaram muitos jovens talentos, como Luiz Fernando Carvalho (realizador do filme Lavoura Arcaica e da minissérie televisiva Hoje é Dia de Maria). De lá para cá, com raros períodos de recesso, ministramos sucessivos e paralelos cursos livres em núcleos criados por nós, como o Casarão das Laranjeiras e a Usina do Roteiro, e em "casas" mais tradicionais.



José Louzeiro esteve afastado por cerca de um ano e meio paratratamento de saúde. Sua nova oficina (do dia primeiro de março a 10 de maio, com aulas aos sábados) é a terceira que "produzo" para Louzeiro ministrar, no Teatro Posto 6 (Copacabana). É com certo orgulho pessoal que apresento aos cinéfilos que ainda não o conhecem pessoalmente o escritor-roteirista de Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, também dirigido por Babenco, Pixote e O Homem da Capa Preta - este um dos melhores filmes de Sérgio Rezende.



A Oficina é aberta a iniciantes. Aula após aula, Louzeiro desvenda os segredos da dramaturgia e dá aos participantes a oportunidade única de desenvolver, em parceria com ele, um roteiro para curta e um projeto para minissérie. As aulas serão de 11h às 13h, sábados, no Teatro Posto 6, que fica na Rua Francisco Sá, 51, no interior da Galeria.



No site de José Louzeiro podem ser encontrados perfil biográfico, bibliografia, roteiros produzidos e indicações sobre o programa da Oficina. Mas pedimos atenção especial para um fato: o site está em reconstrução. Portanto, dias e horários de oficinas, telefone e endereços estão ultrapassados. Para informes atualizados, é indispensável fazer contato por telefone com a Coordenadoria: 2236-5099, Maria Helena, entre 10h e 18h. Para contato com a produção do evento, utilize o e-mail ely.azeredo@ig.com.br.

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