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CRÍTICOS BRASILEIROS NO FESTIVAL DE PAULÍNIA

01.08.2010
Por Daniel Schenker
PASSADO E PRESENTE DA CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

Na última edição do Festival de Paulínia, críticos de cinema de diversos estados reuniram-se num debate para conversar sobre as especificidades de suas associações e/ou sobre os projetos de fundação. Sob a mediação da jornalista Maria do Rosário de Caetano fizeram parte da mesa Nelson Hoineff (vice-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), Ivonete Pinto (ex-presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul), Ismaelino Pinto (da Associação de Críticos de Cinema do Pará), João Sampaio (crítico do jornal A Tarde, de Salvador), Neusa Barbosa (crítica do site www.cineweb.com.br) e Celso Sabadin (crítico do cineclick), além do secretário de cultura de Paulínia Emerson Alves.



Nelson Hoineff lembrou os passos iniciais da ACC-RJ. “A associação foi fundada em 1985, mas nosso trabalho começou um pouco antes. Havia na crítica do Rio de Janeiro tendências estéticas que vazavam eventualmente para a animosidade. Tentei juntar as pessoas. Alguns críticos eram muito difíceis de unir, como Alex Viany e Moniz Vianna. As primeiras reuniões aconteceram na minha casa. Até que passamos para a redação dos estatutos. Fizeram parte desse primeiro momento nomes como os de José Carlos Avellar, Ronald F. Monteiro, Salvyano Cavalcanti de Paiva, Sergio Augusto, José Carlos Monteiro, João Luiz Vieira e Alex Viany”, evocou Hoineff.



A preocupação com o estímulo a outras associações transparece na própria sigla. “Ronald perguntou: nossa sigla é com ou sem hífen? Eu disse que deveria ser com hífen. Porque é uma forma de incentivarmos o surgimento de outras associações. Está na primeira linha do estatuto”, destacou Hoineff, trazendo à tona o clima amistoso entre os integrantes da associação. “Nós nunca brigamos por causa de dinheiro. Até porque ele nunca apareceu”, revelou. Nelson Hoineff procurou abordar as conquistas da associação ao longo do tempo. “Hoje é muito difícil que comissões de seleção não tenham críticos entre seus membros, ao contrário do que acontecia nos anos 80”, afirmou. Segundo Hoineff, o júri da crítica surgiu no Festival de Gramado (que, agora, não diz mais respeito a todos os críticos e jornalistas de cinema presentes ao festival, e sim a um grupo selecionado que tenha visto todos os filmes em competição). “Quando percebemos que O Sonho não Acabou , de Sergio Rezende, não iria ganhar nenhum prêmio eu e alguns críticos decidimos criar o prêmio da crítica”, contou.



Atualmente, o júri da crítica do Festival de Gramado é coordenado pela ACCIRS, entidade criada há dois anos e presidida, nesse momento, por Roger Lerina. “Uma das primeiras preocupações foi criar critérios para a entrada de sócios. Não poderia ser simplesmente alguém que falasse sobre cinema no próprio blog”, destacou Ivonete Pinto, editora da revista Teorema, juntamente com Marcus Mello. Entre as primeiras iniciativas da associação esteve a realização de um encontro da crítica. “Juntamos críticos e criticados nas áreas de cinema, literatura, música, artes plásticas, teatro”, assinalou Ivonete, que, ao ser eleita primeira presidente da ACCIRS, entrou em contato com Klaus Eder. “Pelo estatuto da Fipresci somente uma entidade por país pode ser aceita”, disse Ivonete, referindo-se à ACC-RJ.



Ismaelino Silva reivindicou o título de associação de críticos mais antiga para a do Pará. “A associação vem do final dos anos 50 e foi formalizada em 1961”, garantiu Ismaelino, sobre a associação que reúne 12 integrantes. “Nós oferecemos curso de cinema para formação de plateia. Costumamos nos encontrar a cada duas semanas e temos cinco espaços próprios com programação variada. Haverá, inclusive, a criação de um cineclube dentro de um terreiro de umbanda”, informou. Crítico de cinema de Salvador, João Sampaio assumiu sua condição solitária. “A mídia impressa da Bahia se resume a praticamente um jornal e meio: A Tarde, que tem mais de 100 anos, e Correio da Bahia, fundado nos anos 80 pela família de Antonio Carlos Magalhães. Só eu respondo pela cobertura de cinema no A Tarde. Se fosse criar uma associação teria que deliberar, eleger e renunciar”, observou João, destacando, porém, que o “movimento cineclubista tem crescido muito na Bahia”.



Os críticos de cinema de São Paulo vêm procurando fundar uma associação há bastante tempo. “A APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) é uma associação antiga, respeitável, mas precisamos criar uma específica. As necessidades e critérios de artes diversas são diferentes”, sublinhou Neusa Barbosa. Ao que tudo indica, não falta muito para o projeto se concretizar. “Precisamos fazer uma reunião e eleger uma diretoria. O problema de São Paulo é o gigantismo. Nós nos encontramos nas cabines, mas marcar uma reunião é um problema”, resumiu. A necessidade de criar uma associação própria surgiu, em parte, das regras restritivas com as quais os críticos têm se deparado nos últimos anos. “No exercício do nosso trabalho começamos a sentir restrições: cabine com celular proibido, diminuição do espaço crítico em jornais e revistas. Eu vivi a ditadura militar e sei que quando nos tiram o celular antes de um filme é uma violência. Somos tratados como pirateiros. Precisamos reafirmar o respeito pela profissão”, disse Neusa Barbosa. “Houve uma época em que não existia internet. Uma cabine em São Paulo reunia oito, dez, doze pessoas. Com a internet as assessorias perderam o controle”, complementou Celso Sabadin.

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