Especiais


FESTIVAL DO RIO 2010 – ÚLTIMA CHANCE

08.10.2010
Por Críticos.com.br
ÚLTIMA CHANCE no Festival do Rio 2010

CARANCHO (Carancho)



de Pablo Trapero.



Argentina / França / Chile, 2010. 107min.



por Luiz Fernando Gallego



O cineasta argentino Pablo Trapero retoma algumas características de seu excelente filme anterior, Leonera (2008) no mais recente Carancho: há um enredo ficcional que se desenvolve sob uma questão social. Na obra anterior, presidiárias grávidas ou com filhos pequenos que ficam nas cadeias até os 4 anos para serem separados das mães nesta idade; agora, oportunistas que, como aves de rapina (e é isso que quer dizer “carancho”), buscam vítimas de acidentes automobilísticos, atropelamentos e colisões graves, seja nos hospitais, seja em delegacias e até mesmo nas ruas onde os acidentes acabaram de acontecer – mas para enganar pessoas humildes e ficar com a melhor parte das indenizações.



Em Leonera havia intencional omissão de dados sobre a personagem central que acabava presa e condenada, ficando o foco centrado na vida dentro do presídio feminino e na questão da maternidade dessas mulheres. Era interessante a falta de definição sobre sua conduta moral e verdadeira culpabilidade, deixando de lado a busca da simpatia apriorísitca do espectador. Em Carancho, também há omissão sobre o motivo que fez o personagem masculino perder uma licença profissional, e é por isso que trabalha como um “urubu” em busca de vítimas para uma agência que busca obter procurações dos acidentados ou de seus parentes (quando há mortes) visando receber os seguros. Em princípio, este sujeito também não é nada simpático, mas virá a aparentar ser “menos criminoso” do que outros do mesmo ramo e ainda piores do que ele em enganar os clientes mais ingênuos e desinformados.



Da mesma forma, há todo um desenvolvimento do relacionamento entre este homem e uma médica de pronto-socorro cuja atividade a deixa sempre próxima dos feridos nas ruas. A vida dela também tem aspectos sórdidos - e é como dois perdedores que vão se identificar e viver a possibilidade de escapar dos aspectos mais mórbidos do que fazem e de como vivem.



Como no filme anterior, a protagonista feminina é Martina Guzman (esposa do diretor) em outra excelente criação. E ao lado dela Ricardo Darin surge recuperado do “piloto automático” menos expressivo que foi sua participação em O Segredo dos seus Olhos. A tela larga de Trapero busca os rostos dos atores em planos fechados, situação em que os desempenhos ficam mais expostos – e a dupla mostra-se exemplar no que é exigido.



A câmera é tensa e há várias tomadas circulares nos planos-seqüência em movimento quase incessante, mantendo a atenção e tensão da plateia: tanto para o que é visto em foco como no que sai e entra em cena à medida em que a câmera se move. A linguagem utilizada não é gratuita para atender a um modismo ou virtuosismo estéril, mas faz parte de uma variação sobre um tema típico do “filme noir”: a corrupção envolvente e a busca de redenção por parte de alguém que tenta emergir da lama moral a qualquer preço.



Pode-se questionar o desfecho com algo na base de uma “solução” de roteiro com ajuda de um “deus ex machina” (ou mesmo de um anti-deus ex machina”). Mas não há prejuízo do melhor que o filme sustenta habilmente.



Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2010.



Foco Argentina - (LEP) - 16 anos



09/10 15 horas Estação Botafogo 1



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NOSSA VIDA EXPOSTA (We Live in Public)



de Ondi Timoner. Estados Unidos, 2009. 89min



por CARLOS ALBERTO MATTOS



O máximo de exposição pode se equivaler ao máximo de repressão – eis o que demonstra esse ótimo doc de Ondi Timoner. Ex-funcionária da pioneira webTV Pseudo.com, ela herdou a tarefa de montar o filme a partir das 5 mil horas filmadas em torno do arauto da internet Josh Harris ao longo de duas décadas. O que resultou é um mergulho sem precedentes na lógica que comandou os primeiros anos de vida virtual, antecipando dramaticamente a realidade atual da autoexposição e das redes sociais.



Entre seus pares, Harris teve o diferencial de fazer isso como uma proposta radical de comportamento. Para o projeto Quiet: We Live in Public (1999), ele reuniu mais de 100 voluntários para viver num bunker subterrâneo sob vigilância constante (mesmo!) de dezenas de webcams, em regime de total conectividade. A todos era concedida liberdade total e, ao mesmo tempo, um tratamento de Guantánamo. Mais tarde, Harris repetiu a experiência com ele mesmo e sua namorada, dividindo com o público cada segundo da convivência do casal durante meses. Que todas essas empreitadas tenham terminado mal não chega a afetar sua importância visionária. O teor de disponibilidade, vigilância e mesmo sadomasoquismo da autoexposição servem como reflexo antecipado – e aumentado – do que vivemos hoje cotidianamente.



Nossa Vida Exposta (We Live in Public) nos familiariza um pouco com “internet enterpreneurs”, “surveillance artists”, “interrogation artists” e toda uma fauna de “dot.com boys” que passou do anonimato ao estrelato e de volta à obscuridade em poucos anos. Josh Harris é um deles, talvez o mais performático, a ponto de ter sido chamado de “Warhol da webTV”. Ele é o eixo central de um roteiro primoroso, tão coeso que cada depoimento ou cena de arquivo parece ter nascido já dentro do filme. O gigantesco e energético trabalho de edição não deixa fios perdidos e mantém o sabor de entretenimento. Ao fim da projeção, é como se saíssemos de uma montanha russa, mas com um gap de informação preenchido sobre as origens da contemporaneidade.



Midnight Movies - (LEP) - 14 anos



09/10 23:30 Estação Botafogo 1



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ILUSÕES ÓTICAS (Ilusiones Ópticas)



de Cristián Jiménez , Chile/Portugaql/França, 2009 (105’)



Por Luiz Fernando Gallego



Neste filme chileno não deixa de haver boas idéias para expor o ridículo de certas situações humanas bem comuns na atualidade. Fala-se de sistemas de saúde privados que não atendem bem os pacientes (e que, como tantas empresas deficitárias, economizam sacrificando seus empregados em demissões disfarçadas com outros nomes); da ilusão de embelezamento através da febre de cirurgias estéticas que atenderiam ao “gosto atual”; de cirurgias de outra linhagem que visam recuperar a visão de cegos, mas com resultados apenas medianos – e aliás, atendendo ao título Ilusões óticas, o olhar equivocado também se faz presente na questão da monitorização de segurança dos shoppings através de câmeras que buscam clientes que roubam lojas (mesmo sem necessidade financeira).



Seria, portanto, um filme-painel de vertente irônica e humorística, ao contrário dos mosaicos cinematográficos, habitualmente dramáticos, trágicos ou melodramáticos. Mas várias boas piadas isoladas se perdem em um ritmo lentificado devido a cenas desnecessariamente alongadas e em uma distribuição irregular dos núcleos que compõem o pretendido mural – há personagens que são enfocados, despertam o interesse, tal como o “ex-cego” que enxerga mal mas... que desaparece por muito tempo durante o qual o roteiro se prende em outra situação eventualmente menos interessante, desequilibrando a evolução dos episódios, ainda que se cruzem superficialmente, como é comum neste formato.



Outra questão é que a ironia de muitas cenas, inclusive ironias visuais e de certo “nonsense”, tangenciam aspectos mordazes de humor negro, mas recua-se em desenvolvimentos mais banais, como no caso do segurança que se envolve com uma cleptomaníaca de nível sócio-econômico muito acima do dele. Também a questão religiosa entre filho e pai (sendo o filho mais ortodoxo, e o pai, um ateu) é explorada de forma menos leve, apesar do bom desempenho de Gregory Cohen como o pai. Da mesma forma, o rosto deprimido do “ex-cego” interpretado por Ivan Araya é ótimo, mas mal explorado.



Premiere Latina - (LEP) - 16 anos



11/10 15:15 Estação Botafogo 1



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JOSÉ & PILAR



de Miguel Gonçalves Mendes. Portugal / Brasil / Espanha, 2010. 125min



por CARLOS ALBERTO MATTOS



Apreciará mais José & Pilar quem não entrar no cinema esperando um documentário sobre José Saramago. Disso terá pouco mais do que já se sabe: a convicção ateísta e comunista, o humor ferino por trás da carranca, as ideias profundas expressas de maneira corriqueira. Melhor abrir-se a um filme sobre a dinâmica de um casal. Nesse aspecto, há observações de sobra para colocá-los numa linha onde já se encontram Borges e Maria Kodama, Lennon e Yoko, Sartre e Beauvoir.



Os portugueses acusam Pilar de “levar Saramago para a Espanha”. Pilar e outros parentes se queixam de que os portugueses não o valorizavam. José dedicou todos os seus últimos livros a Pilar. Pilar dedicou a ele sua vida nos últimos 20 anos. Formavam um casal amoroso e cúmplice. A câmera de Miguel Gonçalves Mendes não capta muitos momentos de intimidade, mas bastam as duas tomadas das mãos entrelaçadas, em momentos cruciais, para dimensionar a importância de Pilar no metabolismo emocional de José.



De resto, há no filme um apego talvez excessivo à cronologia dos fatos – viagens, conferências, noites de autógrafo. As efemérides por vezes obscurecem a abordagem intimista. Mas é justamente isso o que deixa no ar uma questão: até que ponto essa agenda incessante, visivelmente estimulada por Pilar, levou José a descuidar da saúde? Ou estaria nisso o alimento da criação e da sobrevivência do escritor em seus derradeiros anos?



A sombra da morte atravessa José & Pilar como um vaticínio. O assunto é recorrente nas falas dele, nos trechos destacados de A Viagem do Elefante, na morte da mãe de Pilar, em notícias fúnebres que chegam ao casal. À vista do materialismo pétreo de Saramago, como devemos receber a a frase dele diante de uma câmera: “Pilar, nos reencontraremos em outro sítio”. Será pura literatura o paraíso de José?



Panorama do Cinema Mundial - (LP) - 10 anos



11/10 21:30 Estação Botafogo 1



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BURACO NEGRO (L’autre monde), de Gilles Marchand.



França / Bélgica, 2009. 104min.



por Luiz Fernando Gallego



Com um enredo excessivamente decalcado no de Veludo Azul, de David Lynch, este filme troca a droga propriamente dita do filme de Lynch por uma outra compulsão/dependência que não existia na época de Blue Velvet : a internet com seus jogos, mundos e identidades virtuais. Neste aspecto, o filme até poderia interessar a um público jovem contemporâneo, já que o “joguinho” que justifica o título original em francês, L’Autre Monde (O Outro Mundo) é razoavelmente atraente. E a narrativa visual não deixa de ser correta nos ¾ iniciais do filme, até mesmo com uma boa câmera na cena em que o casal “certinho”, ‘Gaspard’ (em boa composação de Grégoire Leprince –Riguet) e ‘Marion’ descobrem um carro fechado com um cachorro ganindo à sua volta.



Mas o roteiro deixa grandes furos abertos e muitas incoerências quando pretende “esclarecer” a situação e as atitudes dos personagens ‘Vincent’ e ‘Audrey’, reduzindo tudo à revelação de um suposto mistério de resolução banal e insossa. No final das contas, aproveitando o título em inglês (Black Heaven) e o nome do joguinho no qual alguns personagens se envolvem (“Black Hole” – o Buraco Negro do título nacional), podemos garantir que este sub-Veludo Azul não passa de um “veludo negro”. E a louraça Louise Bourgoin como ‘Audrey’, apesar de bonita, não tem uma aura como a de Isabella Rossellini para virar tanto a cabeça de ‘Gaspard’. Aliás, ‘Sam’, o avatar digital de ‘Audrey’, quando aparece cantando é bem mais atraente.



Midnight Movies - (LEP) - 16 anos



11/10 23:50 - Estação Botafogo 1



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THE COVE (The Cove)



de Louie Psihoyos. EUA, 2009, 90 minutos



por PATRICIA REBELLO



The Cove, primeiro documentário de Louie Psihoyos, ganhador do Oscar na categoria deste ano, merece ser visto por boas e por más razões. O filme traz para a cena a chacina de golfinhos que acontece anualmente no Japão. Entre setembro e abril, de acordo com o documentário, cerca de 23.000 golfinhos são mortos em um cruel sistema de triagem, que envolve parques aquáticos e aquários mundo afora, falhas na legislação de ONG’s que protegem espécies marinhas e a má fé de distribuidores de carne de peixe para consumo da população. Psihoyos, que já foi fotógrafo da revista National Geographic, chegou ao tema a partir de um encontro com Ric O’Barry, o homem que treinou os golfinhos da série de televisão Flipper, um clássico dos anos 1960. É ele o ‘grande herói’ do filme.



Depois da morte de Kathy, último dos animais a encarnar o personagem, O’Barry tomou para si a gigantesca cruz de ser o responsável pela construção do mito em torno dos golfinhos. Algo que se espalhou por shows aquáticos e performances em aquários, e que leva uma enorme quantidade de animais para o cativeiro, onde cedo ou tarde eles encontram a morte. Há mais de 30 anos, O’Barry se dedica à libertação de golfinhos, implique isso ser ele preso, detido, expulso de países, ameaçado de morte ou processado. Foi ele quem levou o diretor a Taiji, uma pequena cidade no distrito de Higashimuro, onde, desconfia-se, acontece a maior parte das mortes. Especificamente, em uma pequena baía (daí o título do filme), escondida do mundo e guardada a sete chaves por um pequeno grupo de japoneses. Estes, por sua vez, são os ‘bandidos’ do documentário. O objetivo do filme é conseguir imagens que comprovem as suspeitas e denunciem a cruel matança.



Porque se esforça na criação de um argumento convincente, The Cove merece ser visto. Diferente de grande parte dos documentários ecológicos, ele abre mão da enfadonha narração em off e da mera colagem de entrevistas que sustentam a tese central do filme, e parte para uma construção completamente inspirada na estética e na estrutura narrativa de blockbusters como Onze homens e um segredo e Missão Impossível.



Mas, ao mesmo tempo, porque fica a meio caminho entre informação e entretenimento, o documentário não se resolve nem como uma coisa, nem outra. Se busca referência nas narrativas de ação hollywoodianas, a montagem é conservadora, antiquada (imagens que repetem e sublinham o que é dito pelos personagens) e óbvia: não há qualquer dúvida de que o filme terminará com as imagens da matança. Não há vontade de cinema no ato de contar essa história, de fazer as imagens falarem (haja vista que a principal cena é ‘filmada’ por uma ‘pedra’, uma câmera escondida em uma rocha artificial no local do crime). Porque está mais interessado nas informações das imagens de vigilância e das câmeras escondidas, ainda que impressione pela riqueza dos detalhes (em todos os sentidos possíveis), The Cove é um blockbuster mais ou menos. E porque toda a estrutura de ação converge sempre para as mesmas imagens (japoneses raivosos urrando para as câmeras americanas, japoneses engravatados insensíveis à matança, inumeráveis congressos onde não se resolve nada), o filme acaba informando menos pela construção narrativa que pelas informações técnicas e as teses biológicas, sociológicas e econômicas. Mesmo jogando com uma lógica de excessos, The Cove é um filme bom para pensar importantes questões sobre o documentário.



Meio Ambiente - (LEP) - 14 anos



12/10 17:30 Estação Botafogo 1



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BUDRUS



de Julia Bacha. Estados Unidos, 2010. 78min.



por CARLOS ALBERTO MATTOS



Na pequena aldeia de Budrus, perto da fronteira entre Israel e a Cisjordânia, pode-se dizer que uma utopia se concretizou. A comunidade palestina, através da resistência pacífica, obrigou Israel a afastar o Muro de Segurança e preservar a integridade de seu território. O caráter “utópico” está na maneira como isso aconteceu: mediante a união dos líderes locais do Hamas e da Fatah, mais a participação de israelenses progressistas e ativistas internacionais.



Essa convergência de consciências, única forma de propiciar harmonia à região, aconteceu em Budrus e se propagou a outras localidades dos territórios ocupados. A diretora brasileira Julia Bacha, integrante da organização internacional Just Vision, testemunhou os acontecimentos e integrou ao seu filme materiais gravados por diversos ativistas. Algumas cenas de refregas entre soldados e resistentes são de tirar o fôlego. Budrus tem um roteiro exemplar, que articula muito bem as ações lideradas por Ayed Morrar e as reflexões de personagens envolvidos nos dois lados do conflito.



Com lançamento nos EUA previsto para 8 de outubro e já tendo passado pelo É Tudo Verdade deste ano, Budrus vem se consagrando como um dos docs mais premiados internacionalmente na temporada. Não merece menos. É um filme que escapa ao sensacionalismo e ao sentimentalismo comumente encontrados nesse gênero de documentário. Mas nem por isso deixa de ser épico.



Dox - (LEP) - 12 anos



13/10 15:15 Estação Botafogo 1



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A EMPREGADA (Hanyo)



De Im Sang-Soo. Coreia do Sul, 2010 (106’)



Por Daniel Schenker Wajnberg



O evidente domínio de Im Sang-Soo acerca da gramática cinematográfica, em especial no que se refere à segurança na condução narrativa e ao cuidado na construção dos planos, não justifica totalmente a visita a A Empregada . O espectador mais exigente pode se ressentir da ausência de uma fala mais consistente embasando esse projeto de refilmagem de um filme homônimo (de Kim Ki-young), realizado em 1960. Sobressai, ao longo da projeção, o conflito de classes – entre ricos alienados, simbolizados pelo casal Hoon e Eun-yi, e pobres solidários e frequentemente obrigados a se humilhar para garantir a sobrevivência.



A governanta Byung-sik intermedia a contratação de Lee Eun-yi para o posto de babá na aristocrática mansão de Hoon e Eun-yi. Não demora muito para que Lee se envolva com o patrão – numa relação que se dá mais pela via do desejo que da imposição –, provocando a ira da patroa e da mãe dela. Oscilando de modo algo indefinido entre o melodrama e o humor escrachado (em determinadas cenas de Byung-sik), Im Sang-Soo sinaliza certa esperança no futuro através da personagem da filha do casal milionário, menos maquiavélica e não tão mergulhada num torpor quanto aqueles que a rodeiam.



Panorama do Cinema Mundial (LEP) – 18 anos



13/10 17:30 Estação Botafogo 1



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FRAGMENTOS DE CONVERSAS COM GODARD (Morceaux de conversations avec Jean-Luc Godard)



de Alain Fleischer. França, 2007. 125min



por CARLOS ALBERTO MATTOS



O título do filme é sua perfeita sinopse e reivindicação de identidade. Sem pretensão narrativa nem de formar um perfil, Alain Fleischer simplesmente se coloca entre Jean-Luc Godard e alguns interlocutores da época em que ele preparava sua polêmica exposição Voyage(s) en Utopie, à la Recherche d’un Théoreme Perdu (Centro Georges Pompidou, 2006) e o filme-ensaio Vrai Faux Passeport.



Alain Fleischer parece partir da premissa de que Godard é interessante de ouvir o tempo todo. Assim como nos filmes, nas conversas JLG surfa no eterno jogo das referências culturais, da crítica acerba e das afirmações peremptórias. “Quanto menos eu sei, mais eu quero falar”, despista. Mesmo quando retoma temas batidos como as diferenças entre ficção (Israel) e documentário (Palestina), ele é capaz de ainda sair-se com uma frase ressonante como “A verdade é tão apreciada que mesmo os mentirosos gostariam que fosse verdade o que dizem”.



As conversas, incensadas por muitos charutos, envolvem os cineastas Jean-Marie Straub e Andre S. Labarthe, o historiador Jean Narboni, o teórico e curador Dominique Païni e um grupo de jovens artistas visuais que ouvem o velho ranzinza descascar suas instalações: “Dispositivos sempre existiram. Vocês estão fugindo do real”. Godard põe em xeque sua perene contemporaneidade ao mostrar-se um pouco mais conservador do que pensamos que é. Aqui é onde esse registro de conversas alcança maior profundidade.



Vemos Jean-Luc às voltas com DVDs que não rodam e mostrando sua videoteca caseira apinhada de velhos VHS. Divertimo-nos com o flâneur de ideias que sempre encontra uma forma de elogiar a Nouvelle Vague, implicar com Chantal Akerman e Martin Scorsese, e filosofar para a plateia como se estivesse nos anos 1960: “Um casal pode discordar de tudo e ainda ser feliz, mas se não gostarem dos mesmos filmes, acabam se divorciando”. E assim prosseguem as Histoires du Cinéma.



Film Doc - (LEP) - 10 anos



13/10 21:30 Estação Botafogo 1



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NOSTALGIA DA LUZ (Nostalgia de la luz)



de Patricio Guzman.



França / Chile, 2010. 90min.



por Luiz Fernando Gallego



Em ritmo pausado, o espectador é apresentado a diferentes atividades que se desenvolvem no deserto de Atacama, Chile: há observatórios para astrônomos explorarem estrelas que podem estar sendo vistas milhares de anos depois de sua extinção (ali, tudo é mais visível pela transparência do céu no local); arqueólogos pesquisam múmias de antes da descoberta das Américas, muito preservadas devido à extrema baixa umidade da região; e um grupo de novas “antígonas” tentam encontrar restos mortais de “desaparecidos” durante a sangrenta ditadura de Pinochet que, neste mesmo deserto, manteve um campo de concentração de presos políticos e espalhou os cor



Dos “corpos celestes” aos corpos humanos, o que “costura” a reflexão deste admirável documentário (por incrível que pareça, poético), de Patrício Guzman, é a noção de tempo: o presente só existe como constructo mental interiorizado, dizem seus entrevistados, astrônomos e arqueólogos; o que existe mesmo é o passado: se o das estrelas e o das múmias é muito bem pesquisado, o passado mais recente do Chile está bloqueado, recalcado, denegado.



Mas as mães, viúvas e irmãs dos “desaparecidos” não desistem e estão lá, pateticamente arranhando a terra seca com suas pás, em busca de fragmentos ósseos: é preciso enterrar Polinyces para desenterrar o passado forcluído; é preciso manter a memória, pois, como é dito no filme, a memória tem força de gravidade: ela atrái. Quem tem memória consegue viver o fugidio presente; quem não tem memória não consegue viver.



Menção Especial no Festival deCannes 2010.



Panorama do Cinema Mundial - (LEP) - Livre



14/10 13:15 Estação Botafogo 1



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NORBERTO APENAS TARDE (Norberto Apenas Tarde)



de Daniel Hendler.



Uruguai / Argentina, 2010. (83min)



Por Luiz Fernando Gallego



A demissão do emprego vivida pelo personagem-título de Norberto apenas tarde o conduz a uma crise comum nessas situações: ele mente para a esposa ao dizer que teve a iniciativa de se despedir da empresa (como se o fato de ser despedido fosse uma vergonha e evidência de uma incapacidade profissional - que geralmente não é o motivo pelo qual há tantos desempregados).



Mas o roteiro do diretor Daniel Hendler não se interessa pela questão social do desemprego e parece pretender seguir o mesmo clima afetivo de filmes anteriores - dirigidos por Daniel Burman - em que ele trabalhou como ator, como Abraço Partido e As Leis de Família. Aliás, Burman é co-produtor desta estréia do ator Hendler na direção de um longa. Infelizmente, o roteiro é bem insatisfatório: por exemplo, no desenvolvimento da questão conjugal entre a esposa e ‘Norberto’ – enquanto outros aspectos da crise (mais existencial, talvez) do personagem merecem um espaço que pouco ou nada acrescentam à evolução do enredo.



O que permite que atenção do espectador não se desinteresse totalmente pelo filme é a composição exata do ator principal, Fernando Amaral – e um certo “suspense” sobre o sucesso ou fracasso da empreitada teatral de um personagem que se apresenta "certinho", “quadrado” e até mesmo algo insosso: chega a parecer que o ator tem este mesmo temperamento, mas quando ‘Norberto’ começa a se enturmar com a rapaziada mais jovem do que ele do curso de teatro, o ator, sem exagero algum, mostra a versatilidade que tem em ir modificando sutilmente o perfil do personagem.



É pouco, entretanto, para recomendar o filme que, caso fosse um “caso especial” de uma hora para a TV, seria mais satisfatório. E mesmo assim, necessitaria de mais cortes em aspectos que se alongam (nos trechos em que ‘Norberto’ trabalha como corretor de imóveis) e melhor tratamento da relação do personagem com sua mulher.



Foco Argentina - (LEP) - 14 anos



14/10 17:30 Estação Botafogo 1

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