Especiais


FESTIVAL DE BERLIM 2012

16.02.2012
Por Nelson Hoineff
FESTIVAL DE BERLIM 2012

CEASAR MUST DIE

De Paolo e Vittorio Taviani

Italia

Competição



Praticamente 35 anos depois da Palma de Ouro por “Padre Padrone,” os irmãos Taviani não parecem ter perdido nada do vigor e da busca por soluções criativas para contar historias poderosas. Essa diz respeito a uma encenação de “Julius Caesar” por prisioneiros da ala de seguranca maxima da cadeia Rebbibia, em Roma.



Sem muito rebuscamento, o texto shakespeariano é usado como metafora das vidas dos que o interpretam e que, por isso mesmo, vão se envolvendo com ele a medida em que o texto cresce. É um docu-drama onde os prisioneiros aprendem sobre si mesmos através do texto que leem, de uma forma ou de outra, para bem ou para mal. É imposivel precisar quando estão reagindo ao texto ou as seus proprios dramas. Desde que eu descobri a arte, diz um dos interpretes, esta cela se transformou numa prisão.



Dividido em duas partes bem distintas - a preparação e o produto final, que a principio são mostradas na ordem invertida – “Ceasar Must Die” é mais uma entre tantas revelações da atualidade do texto shakespeariano, mesmo entre homens enjaulados numa sociedade em crise. Minimalista, sujo, fragmentado e fora de contexto, os Taviani logram, com atores amadores numa prisão de alta seguranca, um prolifico dialogo entre esses personagens tão peculiares da nossa sociedade - e um Shakespeare no que ele tem de melhor.









METEORA

De Spiros Stathoulopoulos

Grecia

Competição





Num monasterio Grego Ortodoxo do seculo 14, a devoção religiosa se encontra com os desejos carnais. O diretor elege uma narrativa altamente estetizada, capaz de fascinar a muitos e incomodar outros tantos. Ela conta com elementos do teatro grego tradicional, assim como a documentação crua da vida selvagem de pequenas aldeias. A animação inspirada na iconografia bizantina dá ao filme um sabor muito especial, embora esteja no perigoso limite de banalizar o drama que está sendo contado. “Meteora” pode soar como pretensioso, arrogante, ou over. Mesmo assim é um filme singular, corajoso, que abraca uma estetica bastante propria e mantem-se fiel a ela.



Grego de nascimento, mas vivendo na Colombia, Stathoulopoulos e fiel a algumas das melhores tradições recentes do cinema agrego. Seus longos planos contemplativos evocam Angelopoulos e isso esta na base da notavel experiencia visual que “Meteora” é capaz de oferecer. Usando com inteligencia criativa os recursos sonoros, Meteora é o tipo de filme do qual não se pode ser indiferente.









CAPTIVE

de Brillante Mendoza

Filipinas

Competição





Em 27 de maio de 2001, quatro meses antes da destruição das torres gemeas, cerca de 20 hospedes de um hotel nas ilhas Palawan, nas Filipinas, foram feitos refens por um comando da Al Qaeda, o grupo Abu Sayyaf, uma organização separatista islamica que lutava pela indeopendencia das ilhas Mindanão.



Os refens, que na tela incluem Isabelle Huppert, mantiveram-se cativos o tempo necessario para que seus captores determinassem o valor de resgate de cada um e obrigassem as freiras de uma missão religiosa a manter relações sexuais com os terroristas.



Mendoza chega a tudo isso como numa novela da Record. Ha ali uma mistura do trash com politico, e evidentemente o politico potencializa o trash. O extraordinario em Captive não e o seu primarismo narrativo, o evidente contsrangimento de uma atriz como Huppert em estar ali, mas as razoes que o levam a participar da mostra competitiva de um festival como o de Berlim. Decisoes como essas deveriam ser documentadas e exibidas... em Berlim.









JAMES MANSFIELD’S CAR

Dirigido por Billy Bob Thorton

Russia - EUA

Competição





Um bom elenco, onde esta o proprio diretor, ao lado de nomes como John Hurt, Robert Duvall e Kevin Beacon, serve a uma abordagem antiga sobre conflitos raciais no final dos anos 60 no Alabama, centrados na relação tumultuada entre dois ramos de uma familia vivendo nos EUA e na Gra Bretanha.



Os EUA da Guerra Fria foram vistos recentemente no extraordinario “J. Edgar” - e conflitos raciais, embora manipulados à exaustão, foram colocados de uma forma bastante emocional em “Historias Cruzadas”. A “Jayne Mansfield ‘s Car” falta a emoção do segundo e a contemporaneidade do primeiro. É um drama filmado em planos medios, como se pensado para a televisão. Nuinguem - nem mesmo o extraordinario Hurt - acredita numa palavra do que esta dizendo. E se o bom elenco não compra o que esta dizendo, quem havera de faze-lo?









ATOMIC AGE

De Helena Klotz

França

Panorama





O que traz um filme para a contemporaneidade é em grande parte a sua propria relação com o contemporaneo. Isso pode parecer obvio, mas é na pratica verificado atraves de filmes simples como este Atomic Age. Dirigido pela jovem francesa Helena Klotz, conta a mais simples ainda noitada de dois jovens amigos que vão de club em club atras de bebidas, drogas, mulheres e confusão. Conseguem quase tudo o que querem, amparados por uma diretora que, com a musica, a fotografia e a edição, sabe exatamente do que esta falando.



Os jovens de Klotz não expressam o declinio dos valores, a falencia da sociedade e nada parecido com isso. São pessoas simples iguais a tantos que alguns de nós conhecem, outros não; que não vão mudar o mundo e nem estão ai para mudar a si proprios.



Mas Atomic Age expressa sim a naturalidade e o frescor que estão num jeito simples e cativante de fazer cinema, de falar de nos mesmos - seja la que idade tenham os personagens - sem engessamentos, molduras e formas. Um tipico filme do oxigenio que a seção Panorama lança frequentemente sobre o Festival de Berlim.









SHADOW DANCER

de James Marsh

Irlanda, UK

Hors Concours





Entre tantos filmes sobre os conflitos promovidos pelo IRA, Shadow Dancer é uma saudavel exceção. Na infancia, Collette foi parcialmente responsavel pela morte de seu irmão mais novo, ao manda-lo para a rua quando tropas britanicas se aproximavam para conter um dos riots dos separatistas irlandeses. Ja madura, ela faz parte da organização ate que é presa quando se preparava para plantar uma bomba e colocada diante de duas opções. Ir para a cadeia (deixando atras seu filho ainda crianca) ou tornar-se uma informante do servico secreto britanico.



Shadow Dancer transforma-se então numa pequena contrafação de O Espiao que Sabia Demais, exceto pelo fato de que a jovem terrorista tem diante de si o amor por um integrante do Servico Secreto que a principio é seu inimigo. Marsh constroi idas e vindas com requinte e muita, mas muita precisão. Shadow Dancer segue algumas das mais caras tradições ao genero, das viradas as revelações e aos grandes desempenhos. No universo maisntream, é uma das mais gratificantes experiencias do 62o Festival de Berlim.









THE FLOWERS OF WAR

De Zhank Yimou

Chine

Hors Concours





E dificil saber o que Yimou ganhou com sua meteorica transição para o maisntream. Cada vez mais ocidentalizado, seu heroi é agora Christian Bale, no relato sobre a sangrente batalha que, e, 1937, leva a invasão japonesa em Nanking, deixando a cidade no caos e destruição e um rastro de 200 mil mortos. As cenas são especialmente violentas para qualquer padrao. Mas um grupo de estudantes encontra miraculosamente refugio na capela de Winchester. Varias prostiitutas conseguem pular os muros e tambem se refugiar no local - assim comoo americano Dale, que la se abrigou a procura de bebida e dinheiro.



O primeiro contato de Dale com as prostitutas lembra um quadro qualquer de Zorra Total. E com Dale, as estudantes e as prostitutas no local, não e dificil imaginar que os papeis de inverterao quando o perigo estiver mais proximo. Não é outra coisa que acontece. O bebado fanfarrao transforma-se em heroi e as prostitutas ganham coração para salvar as virgens.



Ja vimos este filme antes, mas o passado de Yimou parece ainda impregnar as imagens que cada vez são menos suas.

The Flowers of War é talvez o mais tipico e menos entusiasmante filme da trajetoria de Yimou para o cinema que antes o via como um genio diferente.

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