RUBY SPARKS: A NAMORADA PERFEITA
de Jonatham Dayton e Valerie Faris
Com roteiro da própria atriz principal, Zoe Kazan (neta do diretor Elia Kazan), por sua vez namorada do ator Paul Dano, os realizadores de Pequena Miss Sunshine obtiveram um resultado bem mais conseqüente do que em seu grande sucesso inicial de seis anos atrás. Fizeram bem em esperar e em contar de novo com Paul Dano no elenco.
Os minutos iniciais não prometem muito: mais um filme em que um jovem consegue dar vida à mulher dos seus sonhos? Mas o desenvolvimento do roteiro supera - com corpos de vantagem - outros congêneres ao se aproximar não só da fonte original desse tipo de argumento (que é o mito de Pigmalião apaixonado pela estátua que esculpiu até que Afrodite dá vida à escultura), mas também da mais famosa versão moderna do mito: a peça de Bernard Shaw, Pigmalion que por sua vez deu origem ao musical da Broadway (e ao filme) My Fair Lady.
Mas se a versão de Shaw se passa ainda antes da I Guerra Mundial, em Ruby Sparks: a namorada perfeita, a dupla Jonatham Dayton e Valerie Faris (também um casal) fala mais diretamente às platéias atuais sobre os eternos desencontros de expectativas entre homens e mulheres em ambientação contemporânea.
Não há dúvida de que, se alguma mágica existe no filme, mais do que a do escritor nerd que (mesmo sem querer ou saber como) "cria" - na realidade - uma personagem ao seu gosto, alguma coisa do tipo encantamento também acontece nos corações de Zoe e Paul Dano, propiciando seus desempenhos irretocáveis - um dos trunfos desta empreitada: esperta e ligeira ao mesmo tempo em que se faz simpática na abordagem de um tema tão árido como o da escolha narcísica de um objeto amoroso.