Especiais


Festival do Rio 2012: ARGO

28.09.2012
Por Luiz Fernando Gallego
O JOGADOR RASGA A CORTINA PARA O RESGATE DO SOLDADO RYAN

ARGO

de Ben Affleck



O terceiro filme assinado por Ben Affleck é um thriller competente como há muito não se via. Não seria nenhuma blasfêmia lembrar um Hitchcock como o de Cortina Rasgada - com o qual ainda pode vir a ser associado no caso de se levantar algum questionamento político sobre o pano de fundo da ação. Em seu tempo, Hitchcock também deixava alguns de seus fãs em posição desconfortável quando colocava Cuba (em Topázio) ou a então Alemanha Oriental (em Cortina Rasgada) como vilões inimigos dos idealizados Estados Unidos no papel de “mocinho”..



Mas um filme co-produzido por George Clooney não seria tão maniqueísta, ainda que dessa vez, um certo ufanismo triunfe em oposição aos iranianos fanáticos que, sem dúvida, ocupam o lugar de vilões da vez – mesmo que o prólogo tenha um viés “compreensivo” de como as coisas chegaram ao ponto que chegaram na ex-Pérsia do Xá Reza Pahlevi. Este mini-resumo cobrindo décadas de história iraniana abre o filme com ilustrações à moda de storyboards, aqueles desenhos que funcionam como roteiro visual para filmes a serem realizados. E não é de graça que seja essa a forma do filme começar. Afinal, há várias alusões ao cinema hollywoodiano e a Hollywood como o território da farsa, da mentira e de picaretagem em geral. Esse lado do filme, um pouco menos tenso e muito bem humorado fica a cargo dos excelentes Alan Arkin e John Goodman vivendo personagens que entram na trama de modo “beckettiano” – como é mencionado em uma das falas do ótimo roteiro. Também podemos lembrar um pouco de O Jogador, de Robert Altman, em frases sarcásticas e réplicas inteligentes dessas duas participações de luxo (no elenco e na trama do filme).



Outra analogia curiosa pode ser feita com O Resgate do Soldado Ryan, de Spielberg, que traz uma fantástica cena de abertura e um final ufanista desnecessário. Também a cena de abertura de Argo, guardada as devidas proporções, é uma das melhores que o melhor cinemão americano pode produzir. E Argo não deixa de ser um filme sobre o cinema, tão ironizado em suas falas, mas ao qual cabe um lugar honroso na espetacular trama de suspense que o filme leva adiante de modo exemplar.

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