Especiais


FESTIVAL DO RIO 2012: HISTERIA

29.09.2012
Por Luiz Fernando Gallego
LAMENTÁVEL CINEMATOGRAFICAMENTE, HITORICAMENTE E COMO COMÉDIA

HISTERIA, de Tanya Wexler



Dez anos depois de sua direção anterior, a cineasta Tanya Wexler mostra que voltou ao trabalho bem enferrujada. Não sabemos se obteve resultado satisfatório em seus dois primeiros filmes, mas a julgar pelo tempo sem dirigir e pelo resultado aqui obtido, não é um nome a ser acompanhado com atenção.



O roteiro não ajuda, mas a direção é daquele tipo rotineiro, impessoal, sem ritmo nem vitalidade. Exceto quando apela para a gracinha de mostrar mulheres vitorianas com sintomas de carência sexual sendo manipuladas – com intenções meramente terapêuticas – por médicos que tocam seus genitais escondidos por uma bizarra cortininha que protege a visão da agora (?) famosa “perseguida” (afinal, foi até capa de uma revista de jornal carioca através do quadro de Courbet, A Origem do Mundo). Ver a dita cuja, nem pensar. Mas tocar... tudo bem para as mulheres aderentes ao insólito "tratamento".



Como chanchada (que nem se sustenta como tal), o filme tem pouca graça. Como enredo, perde-se na personagem feminista de Maggie Gyllenhaal, mais uma vez desperdiçada e incorrendo em overacting graças à personagem igualmente "over". Por outro lado, Hugh Dancy limita-se a um sorriso simpático quase estereotipado - sem poder fazer muito mais com um personagem que se mostra blasé demais em sua contenção (parece que só as mulheres ficavam excitadas e os homens não).



O resto do elenco tem nomes como os de Jonatham Pryce e Rupert Everett, mas o filme não contribuirá em nada para o currículo de nenhum deles.



Como fato histórico, a origem dos vibradores poderia ser gaiata, mas quando os letreiros finais se contentam em dizer que em 1952 o diagnóstico de histeria foi abandonado (sic), o filme perde a pouca credibilidade que poderia merecer. Afinal, se o termo entrou em relativo desuso em códigos de doenças, isso apenas significa que pelos mais variados motivos (até políticos) tentou-se novas classificações (supostamente mais úteis). Mas os fenômenos conversivos e dissociativos não deixaram de existir. E o termo ainda é usado na prática sem que se considere jamais que um orgasmo provocado por manipulação ou por vibradores seja de fato curativo. O velho “casa que passa” na verdade é mais um preconceito que o filme alimenta. Lamentável como cinema e sob qualquer outra abordagem, cômica ou não.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário