A Segunda Esposa, de Umut Dag
Casamento no interior da Turquia. Logo após a cerimônia Aysan, a noiva é levada para Viena, onde dividirá um apartamento com a família do noivo – os sogros e três cunhados (duas jovens e um menino) aparentemente bastante aculturados à cidade. Só que a vida da doce Aysan não será bem assim, a começar pelo marido, na verdade pai do rapaz com quem se casou. Não, a crítica não está ‘entregando’ o plot, apenas uma de muitas reversões de expectativas de A Segunda esposa (Kuma), longa de estréia do diretor curdo-austríaco Umut Dag, que assina também o argumento e a co-autoria do roteiro.
Apesar da gênese masculina, A segunda esposa apresenta uma visão basicamente feminina do que ocorre entre quatro paredes de uma família radicalmente conservadora com regras e condutas praticamente inassimiláveis pelo mundo ocidental. Para começar, a jovem noiva é recebida com inesperado calor pela matriarca e primeira esposa, que a protege, inclusive, do ciúme das filhas, sobretudo da mais velha, já casada. Fatma quer que a segunda mulher do marido se sinta bem em sua nova casa – e tem motivos para isso. Só que a vida da família não seguirá bem o roteiro pretendido pela voluntariosa anfitriã.
É com uma câmera tranqüila que o diretor descortina os desdobramentos da inusitada convivência, concentrada no âmbito doméstico, com raras incursões pelo exterior, como um parque, um supermercado. Entre as paredes do apartamento a vida deve seguir regras estabelecidas. No entanto, revelações e fatos inesperados promovem reviravoltas de alto calibre até uma explosão de violência de raros paralelos na área feminina. No elenco, destacam-se duas feras de interpretação: Nihal Koldas, magnífica como Fatma, e Begum Akkaya, como a dócil Ayse. Um filme inquietante e perturbador, que abriu a Mostra Panorama do Festival de Berlim 2012, onde recebeu o prêmio do público de melhor filme de ficção.