Especiais


FESTIVAL DO RIO 2012: PIETÁ

04.10.2012
Por Dinara Guimarães
PLASTICIDADE NUA E CRUA

Pietá, de Kim Ki-duc



A escultura "Pietá", de Michelangelo, que dá título ao filme Pietá, de Kim Ki-duk, é o pré-texto para que ele penetre nas entranhas do sistema financeiro que engendra dívidas pagáveis com o corpo dilacerado do trabalhador. O cenário é o bairro miserável de Cheonnggyecheon na Coréia do Sul habitado principalmente pela família de artesãos que trabalham em ferro. Kim Ki-duk metaforiza a impotência dos trabalhadores em quitá-las, por meio da amputação dos seus membros com as ferramentas de seu próprio trabalho. Amputação executada pelo coletor dos empréstimos devidos ao agiota, Kang-do (Lee Jung-jin), implacável. E, no núcleo perverso desse sistema, Kim Ki-duk introduz uma dívida transferida de mãe para filho, encenada pela chegada de uma mulher (Cho Min-so). Ela alega ser a mãe de Kang-do que abandonou quando bebê.



ATENÇÃO: SPOILER



Nesse primeiro momento do filme, a brutalidade de Kang-do, incapaz de ser afetado por qualquer sentimento, vai sendo substituída pela piedade e outros sentimentos maternos de culpa e perdão. Entre o momento inicial e o final, dá-se uma reviravolta, quando o espectador finalmente compreende, no momento de concluir, que o determinante da cena é a vingança da mãe pela morte do seu filho, uma das vítimas de Kang-do, não sendo possível, no relacionamento entre os dois, nenhuma forma de redenção ou resgate. Assim, a plasticidade explosiva de Kim ki-duck nua e crua, mostra o que a escultura da Pietá reveste de beleza: Jesus Cristo como representante de todos os homens e redentor de seus pecados morto na cruz e Nossa Senhora como a mãe protetora que chora o destino do homem, pede piedade a Deus.

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