Coprodução entre Colômbia, Brasil (através da Bananeira Filmes de Vania Catani) e França, La Playa D.C. é um filme em busca de identidade. Seu diretor, o colombiano Juan Andrés Arango, especializou-se no Canadá e na Holanda. O estilo de filmagem lembra o dos Irmãos Dardenne razoavelmente aclimatado a Bogotá. Digo razoavelmente porque, na maior parte do tempo, as ruas aparecem tão desfocadas por trás dos personagens que poderia ser Copenhague ou Rio de Janeiro.
Nada disso vem em menosprezo da história desses três irmãos de família negra, cujo pai foi morto por paramilitares na costa oeste do país e agora se encontram como cidadãos de terceira classe (depois dos brancos e dos “latinos”) na hierarquia social da capital. Tomas, um bom garoto que poderia ter sido inspirado no Buscapé de Cidade de Deus, abre seu caminho da adolescência para a juventude tentando salvar o irmão menor das garras dos traficantes e mirando-se no exemplo do irmão mais velho, que já esteve no “Norte” (os EUA) e sabe se virar nas franjas da marginalidade.
O mapa de Tomas parece já estar traçado nas linhas das “tropas”, os cortes de cabelos desenhados que os jovens da periferia bogotana adotaram como marca de identidade. Esse costume é tratado ao longo de todo o filme como eixo narrativo simbólico e etnográfico. À medida que os três irmãos se afastam e se separam, são os cabelos que parecem comentar a ação.
La Playa é um filme surpreendentemente sereno e contido, apesar do cenário sugerir uma violência sempre iminente. Pode haver uma certa timidez por parte do diretor-roteirista, mas pode também ser fruto de um deliberado resfriamento das cores e dos humores. Daí a forte semelhança com os Dardenne: a história familiar, a tensão muito controlada, os muitos planos de personagens filmados pelas costas enquanto caminham e nos põem à mercê de seu rumo.