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A DUQUESA DE LANGEAIS

14.12.2013
Por Luiz Fernando Gallego
Filme de Rivette é uma das pérolas de coleção da Folha

A DUQUESA DE LANGEAIS - na Coleção Folha Grandes Livros no Cinema Nº 18

O penúltimo filme assinado por Jacques Rivette é uma das maiores atrações da Coleção “Grandes Livros no Cinema”, lançada semanalmente em bancas pelo jornal Folha de São Paulo: realizado quando o cineasta estava para completar seus 80 anos, não foi visto em circuito comercial no Brasil, embora tenha sido exibido no Festival do Rio de 2007 [ou de 2008, não temos certeza] com o título traduzido literalmente do original francês “Não toque no Machado”.

Fiel ao pequeno romance original de Balzac, de 1834 (segundo título de uma trilogia incluída nos “Estudos de Costumes” da monumental “Comédia Humana”), A Duquesa de Langeais foi chamado originalmente pelo escritor de “Ne touchez pas la hache”, referência ao machado que decapitou o Rei Charles da Inglaterra em 1649, mencionado em um comentário do personagem masculino, Armand de Montriveau, à duquesa Antoinette de Langeais. Quando o filme começa ela está recolhida em um convento de carmelitas na Espanha e Armand tenta falar com ela. Um flashback explicitará a antiga relação entre eles, tal como na novela cujo enredo foi inspirado em um caso amoroso de Balzac.

Os DVDs dessa coleção são acompanhados por livros com farta informação sobre o filme e a obra literária em que o cinema foi se basear. É claro que esse tipo de junção parece procurar dar mais “substância” aos filmes escolhidos dentro de um critério de “roteiro adaptado”. O fato de selecionar filmes “desde que” extraídos de obras literárias significativas pode ser tomado como um tanto preconceituoso para com uma sétima arte supostamente “menor”, o que, entretanto, não impede que cinéfilos encontrem títulos dignos de nota como obras cinematográficas em si mesmas e independentes de suas origens.

No caso de Rivette, um nome de fundamental importância para o cinema francês dos tempos da Nouvelle vague em diante, mas cujos filmes permanecem em grande parte pouco acessíveis e mal divulgados entre nós, qualquer lançamento ou relançamento que lhe diga respeito é digno de atenção. Atualmente devem existir, dentre os 32 longas por ele dirigidos, nas locadoras remanescentes e para venda apenas “A Religiosa” (baseado em Diderot, com Anna Karina, e que foi um enorme escândalo quando lançado em 1966 – não confundir com uma recente versão anêmica e muito inferior a este filme já clássico) e “Céline e Julie vão de barco” (de 1974). Portanto, ter um Rivette a um preço inferior a 20 reais em bancas de jornais é uma oportunidade imperdível para qualquer amante de filmes que se preze.

Não teríamos muito mais a dizer além do que traz o livro que acompanha o DVD com ótimos textos de críticos de cinema e de literatura, além de uma entrevista com o próprio cineasta, publicada pelo jornal em 2007. Como curiosidade mórbida, cabe ressaltar que o ator Guillaume Depardieu (filho de Gérard Depardieu) deixaria sua participação em nada menos do que mais DEZ filmes nos quais esteve entre este, de 2007, e março de 2008 quando veio a morrer com apenas 37 anos, talvez ainda em decorrência (indireta) de um acidente de moto sofrido em 2005 e que levou à amputação da perna mais atingida dois anos depois do desastre – e é por isso que o personagem que ele interpreta em “A Duquesa de Langeais” aparece mancando, adaptando-se a ficção à realidade trágica do ator. Por outro lado, a atriz que faz a duquesa, Jeanne Balibar, permanece ativa no cinema e teatro, sendo que também tem incursões no canto – embora não haja menção de que no filme seja sua a voz que Montriveau reconhece no coral de uma Missa na qual ela canta já como Irmã Teresa. O livreto menciona, dentre outras curiosidades a importância da música na obra de Balzac e neste livro em particular - que Balzac dedicou a Liszt. No elenco ainda temos participações de nomes mais conhecidos como os de Michel Piccoli e Bulle Ogier.

A coleção da Folha traz DVDs editados pela Versátil, uma garantia de qualidade na área, e - dentre outros exemplares - vale a pena conhecer, no mínimo como curiosidade, senão como filmes bem significativos em si mesmos, “Ricardo III”, de Laurence Olivier, baseado em Shakespeare; “A Hora da Estrela”, de Susana Amaral, baseado em Clarice Lispector; “Os Vivos e os Mortos”, de John Huston, baseado em James Joyce; “A Queda da Casa de Usher” (ou “O Solar Maldito”), de Roger Corman, que inaugurou a discutível apropriação de contos de Poe pelo diretor – só para citar alguns dentre os 25 títulos programados, sendo que uma outra grande atração cinematográfica está no futuro lançamento de “Édipo Rei”, de Pier Paolo Pasolini, baseado em Sófocles e filmado com bastante liberdade criativa e originalidade pelo cineasta-poeta.

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