Depois da maratona do Rio de Janeiro, a overdose de filmes se muda pra São Paulo, com a 27a Mostra BR de Cinema, de 17 a 30 de outubro. Para facilitar o trabalho de vocês, lá vou eu tentar novamente ajudá-los a escolher o que privilegiar num universo de mais de 300 títulos. A dica dada anteriormente permanece: se você quer otimizar seu tempo ao máximo, só vale a pena ver os filmes com legendas em português e os longas brasileiros se a vontade for incontrolável, porque mais cedo ou mais tarde estes títulos deverão entrar em cartaz. Não esqueça que em www.mostra.org você encontra mais detalhes sobre cada filme e a programação completa de salas e horários. Observe que muitas sessões terão curtas nacionais e estrangeiros como complemento.
Confira na seção de Críticas, que será atualizada periodicamente ao longo da mostra, as críticas de vários filmes em exibição no evento.
Bons filmes!
Marcelo Janot
Editor
janot@criticos.com.br
A seguir, a 27a Mostra BR de Cinema, seção por seção:
PERSPECTIVA INTERNACIONAL
Traz a nata da produção mundial, incluindo filmes premiados nos principais festivais e produções recentes de diretores consagrados, como Stephen Frears, Raoul Ruiz, Michael Haneke, Jafar Panahi, Manoel de Oliveira, Jacques Rivette, entre outros medalhões. Alguns desses devem entrar em cartaz.
O que eu privilegiaria:
- A História de Marie e Julien, de Jacques Rivette
- A Volta do Filho Pródigo – Os Humilhados, de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub (tem forte parentesco com Gente da Sicília, obra-prima dos mesmos diretores)
- Crianças do Petróleo, de Ebrahim Forouzesh (diretor iraniano de O Jarro)
- Dez Minutos Mais Velho – O Cello e O Trompete (dois filmes em que 15 cineastas de renome, como Wim Wenders, Bernardo Bertolucci, Jean-Luc Godard e Spike Lee têm 10 minutos cada para desenvolver ensaios sobre o significado do tempo)
- Dogville, de Lars Von Trier (versão integral, com meia hora a mais da versão que será lançada nos cinemas)
- Luzes Distantes, de Hans-Christian Schmid (prêmio da crítica – FIPRESCI – em Berlim este ano)
- Naquele Dia, de Raoul Ruiz
- Neste Mundo, de Michael Winterbottom (Urso de Ouro no Fetival de Berlim deste ano)
- Ouro Carmim, de Jafar Panahi (o diretor dos admiráveis O Balão Branco, O Espelho e O Círculo foi premiado em Cannes – seção Un Certain Regard - com este seu novo filme)
- Pai e Filho, de Aleksandr Sokúrov (novíssimo filme do diretor de Arca Russa e Moloch)
- Tempos de Lobo, de Michael Haneke (a resposta do diretor de A Professora de Piano e Código Desconhecido aos filmes-catástrofe de Hollywood, segundo as suas palavras)
- Um Filme Falado, de Manoel de Oliveira
NOVOS DIRETORES – MOSTRA COMPETITIVA
Uma das características mais marcantes da Mostra de São Paulo é a tradição de revelar novos talentos, grandes diretores totalmente desconhecidos no Brasil. Portanto, fora os títulos já premiados, o resto é meio loteria. Vale a pena arriscar, pois a maioria dos títulos desta seção jamais voltará ser exibido no país.
O que eu privilegiaria:
- Aposta Cega, de Li Yang (proibido pela censura chinesa, ganhou o prêmio de roteiro este ano em Berlim)
- Distante, de Nuri Bilge Ceylan (este surpreendente filme turco ganhou os prêmios de direção e interpretação masculina em Cannes este ano)
- O Retorno, de Andrey Zvyagintsev (Leão de Ouro no último Festival de Veneza
- Silêncio Entre Dois Pensamentos, de Babak Payami (mesmo diretor de O Voto É Secreto)
- Osama, de Siddiq Barmak
- Vodka Lemon, de Hiner Saleem (melhor filme na seção Contracorrente em Veneza, é um dos xodós do diretor da Mostra, Leon Cakoff)
BLUES – PERSPECTIVA INTERNACIONAL
Sete documentários sobre blues produzidos recentemente, alguns deles dirigidos por nomes consagrados. Os de Clint Eastwood, Martin Scorsese e Mike Figgis já têm lançamento garantido, portanto privilegie os demais, que incluem A Alma de Um Homem, de Wim Wenders.
MOSTRA BRASIL – PERSPECTIVA E NOVOS DIRETORES
Muitos dos filmes presentes nesta seção são ótimos e merecem ser vistos, resta saber qual o seu grau de ansiedade para tal, já que todos devem entrar em cartaz algum dia.
ESPECIAIS
Uma pequena retrospectiva do cultuado diretor Tsai Ming-Liang, conhecido como o “Robert Bresson de Taiwan”, que estará no país para a Mostra. É uma ótima oportunidade para conhecer seu novo filme, Adeus, Dragon Inn, e para rever o premiado Vive L’Amour. Outras curiosidades desta seção: El Misterio De La Puerta Del Sol, primeiro filme falado da história do cinema espanhol, em cópia restaurada pela Filmoteca Espanhola; Chicago (1927), de Frank Urson, filme que deu origem ao musical da Broadway e ao recente vencedor do Oscar; No-Do, El Tiempo Y La Memoria, compilação de cinejornais espanhóis criado pelo ditador Franco para propagandear seu governo.
RETROSPECTIVA JOÃO CÉSAR MONTEIRO
São nove longas, em cópias restauradas, de filmes do genial cineasta português falecido esse ano. De seu primeiro e tardio grande sucesso, Recordações da Casa Amarela (1989), a seu último filme, Vai e Vem, concluído pouco antes de sua morte, essa retrospectiva permite um contato único com o cinema incomum, inconformista e incômodo de Monteiro. Em Branca de Neve, por exemplo, ele dá prosseguimento ao conto dos irmãos Grimm do ponto em que terminou, mas com um detalhe: sem imagem alguma, só diálogos. O poético Veredas, de 1978, foi pensado como o primeiro movimento de uma sinfonia. O ótimo A Comédia de Deus chegou a ser lançado comercialmente no Brasil. É o próprio Monteiro quem estrela a maioria de seus filmes, levando muito de sua excêntrica persona para as telas.
CENTENÁRIO YASUJIRO OZU
Com exceção de Coral de Tóquio, de 1931, esta retrospectiva está centrada nos últimos filmes do cineasta japonês Yasujiro Ozu, aquele que melhor do que ninguém retratou as relações familiares na sociedade japonesa. É um bom complemento para a outra retrospectiva de Ozu promovida pelo Festival do Rio há alguns anos, que trouxe algumas de suas obras-primas, como Pai e Filha e Viagem a Tokio. A poesia de A Rotina Tem O Seu Encanto, seu último filme, mostra um Ozu ainda em plena forma. Vale a pena conferir também, dentro da retrospectiva, o documentário que Wim Wenders fez sobre ele, Tokyo-Ga, de 1985.
RETROSPECTIVA KIJU YOSHIDA
O diretor japonês Kiju Yoshida é um grande admirador do trabalho de Ozu, sobre quem escreveu o livro O Anti-Cinema de Ozu, que estará sendo lançado durante a Mostra de SP. Mas sua mais notada influência é a nouvelle vague francesa. Entre seus filmes programados, está o polêmico Eros + Massacre e Golpe de Estado, que lhe rendeu um boicote de 13 anos por conta dos produtores japoneses. Vale a pena prestar atenção na sua adaptação de O Morro dos Ventos Uivantes, levando a história para o cenário do Japão feudal, utilizando técnicas do teatro Nô, além do delicado ensaio sobre a velhice Promessa Humana. Yoshida estará em São Paulo, ao lado da mulher Mariko Okada, atriz dos filmes de Ozu e de seu último filme, Mulheres no Espelho.
RETROSPECTIVA MAURITZ STILLER
Retrospectiva completa do diretor finlandês de carreira sueca Mauritz Stiller (1883-1928), que se tornou um dos grandes nomes do cinema mudo sueco ao lado de Victor Sjöström. Em A Saga de Gösta Berling (1924), Stiller revelou Greta Garbo, ainda com 19 anos e assinando Greta Gustafson. O Tesouro do Sr. Arne (1919), um de seus principais filmes, exerceu assumida influência no trabalho de Sergei Eisenstein. Todas as sessões da retrospectiva de Stiller serão acompanhadas por pianistas brasileiros e estrangeiros.
HOMENAGEM A ANSELMO DUARTE
O grande cineasta brasileiro será homenageado com a exibição de seus dois primeiros filmes, a chanchada Absolutamente Certo e o drama O Pagador de Promessas, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, além do curta-metragem sobre ele Cinema Pagador, de Isabel Ribeiro e Henrique Pires.
Todas as críticas de filmes exibidos na 27a Mostra BR de Cinema estarão publicadas na primeira página de Críticos.com.br e serão atualizadas ao longo do evento
