RESULTADO:
A história da eternidade é o grande vencedor da 6ª edição do Paulínia Film Festival. O filme de Camilo Cavalcanti levou quatro troféus Menina de Ouro do júri oficial – formado por Artur Xexéo, Anna Muylaert, Carlos Cuadros, Renata de Almeida e Thiago Dottori – e mais o prêmio da crítica. Casa Grande, de Fellipe Barbosa, também foi contemplado em quatro categorias. Sangue Azul, de Lírio Ferreira, saiu da cerimônia apresentada por Caio Blat e Tainá Muller no Theatro Municipal Paulo Gracindo com dois prêmios, assim como Boa Sorte, de Carolina Jabor (contando com o prêmio do público). Os demais concorrentes receberam estatuetas isoladas. Infância, de Domingos Oliveira, e Neblina, de Daniel Pátaro e Fernanda Machado, não ganharam nenhum prêmio. Entre os curtas-metragens também houve um vencedor destacado: O Clube, de Allan Ribeiro, decisão do júri formado por Arthur Nunes, Lucia Caus, Nonato Freire, Rafael Sampaio e Sandro Fiorin.
Com curadoria do crítico Rubens Ewald Filho, o Festival de Paulínia apresentou ao público alguns longas-metragens expressivos – aliás, de qualidade bem superior a dos curtas, defasagem também constatada na programação de outros festivais. Em relação aos longas brasileiros, os elos familiares imperaram: entre o DJ e a mulher cantora em Aprendi a Jogar com Você, de Murilo Salles; entre o jovem viciado em remédios e os pais que não o entendem em Boa Sorte, de Carolina Jabor; entre o ator João Carlos Castanha e a mãe idosa, com quem mora, em Castanha, de Davi Pretto; entre o adolescente de classe média alta que percebe que os pais estão ocultando fatos importantes em Casa Grande, de Fellipe Barbosa; entre Pedro e a irmã, Raquel, com quem retoma contato polêmico ao retornar à ilha de infância em Sangue Azul, de Lírio Ferreira; entre irmãos, tio e sobrinha, avó e neto, todos imersos em sertão esquecido no tempo, onde vigora moral arraigada, em A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante; e entre os integrantes da família do pequeno Rodriguinho, alterego de Domingos de Oliveira, diretor de Infância. Destoando um pouco dessa vertente temática, Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas, transita, com organicidade, entre diferentes gêneros, com destaque para o musical. E Neblina, de Daniel Pátaro e Fernanda Machado, que colocou a plateia diante da paisagem arruinada de Paranapiacaba, destoou em termos de qualidade das demais produções.
PREMIAÇÃO:
LONGA-METRAGEM
Filme: A história da eternidade, de Camilo Cavalcante
Direção: Camilo Cavalcante (A história da eternidade)
Prêmio especial do júri: Casa grande, de Fellipe Barbosa
Ator: Irandhir Santos (A história da eternidade)
Atriz: Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Débora Ingrid (A história da eternidade)
Ator coadjuvante: Marcello Novaes (Casa grande)
Atriz coadjuvante: Clarissa Pinheiro (Casa grande)
Roteiro: Fellipe Barbosa e Karen Sztajnberg (Casa grande)
Fotografia: Mauro Pinheiro Júnior (Sangue azul)
Montagem: Eva Randolph (Aprendi a jogar com você)
Som: Thiago Bello (Castanha)
Direção de arte: Cláudio Amaral Peixoto (Boa sorte)
Trilha sonora: Juliana Rojas, Marco Dutra e Ramiro Murilo (Sinfonia da necrópole)
Figurino: Juliana Prysthon (Sangue azul)
Prêmio da crítica (Abraccine): A história da eternidade, de Camilo Cavalcante
Prêmio do público: Boa sorte, Carolina Jabor
CURTA-METRAGEM
Filme: O clube, de Allan Ribeiro
Direção: Allan Ribeiro (O clube)
Roteiro: Carolina Markowicz e Fernanda Salloum (Edifício Tatuapé Mahal)
Prêmio especial do júri: O bom comportamento, de Eva Randolph
Prêmio da crítica (Abraccine): O clube, de Allan Ribeiro
Prêmio do público O clube, de Allan Ribeiro
4ª NOITE DE COMPETIÇÃO
A História da Eternidade
Camilo Cavalcante contrasta o tradicionalismo com a singularidade, de início através da oposição entre dois irmãos, um que comanda a família de forma autoritária (interpretado por Claudio Jaborandy), e o outro que evidencia veia artística libertária (Irandhir Santos), desconectada com a vida limitada do sertão. Aos poucos, os próprios habitantes da região se veem atravessados pelo conflito entre a moral arraigada e a expressão livre do desejo.
Em A História da Eternidade (mesmo título de um curta-metragem do cineasta realizado em 2003), o diretor entrelaça as jornadas de personagens que vivem na mesma região: os já mencionados irmãos, cuja relação é acirrada com a proximidade crescente entre a filha (Débora Ingrid) de um deles e o tio; uma mulher enlutada (Marcélia Cartaxo) que passa a ser cortejada por um cego (Leonardo França); e uma avó (Zezita Matos) que mergulha em processo de desestabilização diante da presença do neto (Maxwell Nascimento), vindo de São Paulo.
O vilarejo onde as histórias se desenrolam parece estacionado no tempo, o que não significa que os personagens não tenham perspectiva temporal. “Me chama de voinha. Parece que eu regresso para um tempo bom”, pede a avó ao neto. Diante da escassez do vilarejo, o tio realiza o sonho da sobrinha de ver o mar estimulando a sua imaginação. Repleto de qualidades – a julgar pela excelente fotografia (de Beto Martins), pelo domínio de ritmo e pelo bom rendimento do elenco, cabendo fazer restrição apenas à utilização excessiva da trilha sonora (de Dominguinhos e Zibgniew Preisner, colaborador de Krzysztof Kieslowski) –, A História da Eternidade é, certamente, um dos destaques do Festival de Paulínia.
Infância
Adaptação de Do Fundo do Lago Escuro, peça de Domingos Oliveira – que rendeu prestigiada montagem de Paulo José, encenação do Grupo Tapa, ambas durante a década de 1980, e uma mais recente, em que o próprio Domingos interpretava a matriarca D. Mocinha –, Infância procura conduzir o espectador rumo aos anos 1950. Fornece um retrato da família de Rodriguinho (Raul Guaraná), que vive numa grande casa comandada com mão de ferro pela avó, D. Mocinha (Fernanda Montenegro). A mãe de Rodriguinho é Conceição (Priscila Rozenbaum), uma mulher amedrontada, casada com Henrique (Paulo Betti), homem que se sente diminuído diante da contundência de D. Mocinha e entra em conflito com ela. Há ainda o tio Orlando (Ricardo Kosovski), alcóolatra.
Domingos Oliveira apresenta menos uma história e mais um quadro familiar repleto de saborosas observações de época, como o posicionamento político de D. Mocinha, fanática por Carlos Lacerda, e o temor em apostar no Leblon, bairro isolado na geografia carioca. Infância é um trabalho assumidamente pessoal de Domingos, que tem na figura de Rodriguinho o seu alterego, perspectiva realçada pelas cenas em que contracena com Raul Guaraná na atualidade. Retrato afetuoso, impressão potencializada pela disposição de fotos antigas na tela, o filme representa também a retomada do contato artístico entre Domingos e a atriz Fernanda Montenegro, que, aliás, integrou a montagem de Paulo José, ao lado do marido, Fernando Torres, de Do Fundo do Lago Escuro. Fernanda extrai apreciável dose de humor da conservadora D. Mocinha. Diverte ao não mudar de tom quando passa de assuntos sérios para frívolos e na melodia autoritária que imprime às falas um peso cortante. Fernanda, que foi radioatriz no início da carreira, evidencia a extensão de seu domínio vocal.
3ª NOITE DE COMPETIÇÃO
Sangue Azul
A tensão sexual entre dois irmãos – Pedro, rebatizado de Zolah, e Raquel – toma conta, aos poucos, de Sangue Azul, novo filme de Lírio Ferreira, a partir do momento em que ele retorna, juntamente com o circo, para a ilha onde vive a família, após longo período de afastamento. O diretor constrói bastante bem a atmosfera de ameaça entre os personagens centrais – os irmãos mencionados, Rosa, a mãe, e Cangulo, marido de Raquel. A sequência ambientada na casa de Raquel, com as presenças de Zolah e Cangulo, sobressai, evidenciando o bom trabalho dos atores, principalmente de Rômulo Braga.
Lírio Ferreira não realça logo o núcleo temático do filme. A estrutura bate na tela de forma propositadamente dispersa. Talvez o diretor de Baile Perfumado (1996) – ao lado de Paulo Caldas – e Árido Movie (2006) pudesse ter encorpado mais as tramas paralelas que envolvem os personagens menores. Mas, por meio deles, mostra como os moradores da ilha sofrem o impacto da chegada dos artistas. Os ânimos ficam cada vez mais acirrados.
Além disso, os personagens – não só Zolah e Raquel, que, assombrados pelo incesto, parecem descobrir na imensidão e no isolamento do mar a possibilidade de concretizarem uma relação proibida – são norteados pelo desejo sexual, absolutamente imperativo. Com bela fotografia (de Mauro Pinheiro Jr.), destacado trabalho de som (de Beto Ferraz, Valéria Ferro e Armando Torres) e ótimo elenco (que conta com a presença de Ruy Guerra), Sangue Azul desponta como uma das boas realizações da safra atual.
Casa Grande
Jean, protagonista de Casa Grande, é um adolescente de 17 anos, de família de classe média alta da Barra da Tijuca, estudante do tradicional colégio São Bento, que vive protegido numa espécie de redoma de vidro até o momento em que seus pais começam a atravessar dificuldades financeiras. A partir daí, Jean é apresentado a um mundo novo. Deixa de ir para a escola de motorista e passa a andar de ônibus. É numa das diárias e longas travessias em transporte público que conhece Luiza, estudante do colégio Pedro II, e uma realidade social inédita para ele.
As experiências atravessadas por Jean são, sem dúvida, enriquecedoras, mas também agoniantes. Sua situação econômica se torna indefinida: continua morando numa casa luxuosa, mas com cada vez menos dinheiro no bolso. Os conflitos com o pai, Hugo (ainda que Jean repita constantemente seus argumentos), se tornam mais intensos, tendo em vista a determinação familiar de ocultar a verdade dos filhos. Aos poucos, a capa de civilidade cai por terra (“A gente não faz isso nessa casa”, diz Sonia, mãe de Jean em meio à briga física entre Jean e Hugo).
Fellipe Barbosa conduz Casa Grande (título que remete inevitavelmente a Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre) com segurança e fluência. O bom resultado é favorecido pelas ótimas interpretações de Marcello Novaes e Suzana Pires. O diretor extrai ainda resultados satisfatórios dos atores iniciantes (em especial, de Thales Cavalcanti, como Jean, e de Alice Melo, como Nathalie). Há determinadas sobras – como a esticada discussão sobre as cotas – no roteiro (de Fellipe Barbosa e Karen Sztajnberg). Nada, porém, que ameace a qualidade do trabalho.
2ª NOITE DE COMPETIÇÃO
Castanha
Davi Pretto borra as fronteiras entre documentário e ficção em Castanha, centrado em João Carlos Castanha, ator de 52 anos que já fez parte do singular grupo de teatro Oi Nois Aqui Traveiz, que mora em Porto Alegre com a mãe, Celina, de 72, e trabalha como transformista em shows de nudez masculina e em espetáculos teatrais. Aos poucos, o diretor revela outras características de Castanha: a capacidade de enxergar os mortos e a determinação em afastar, de forma contundente, o sobrinho viciado em crack do convívio com a mãe.
Mas nem todas essas informações são verdadeiras. João Carlos e Celina são figuras verídicas que interpretam a si mesmas. As cenas entre os dois, que descortinam um panorama desolador e solitário, batem na tela de forma lancinante – realçadas ainda pelo noticiário televisivo repleto de notícias referentes à violência urbana. Já a circunstância envolvendo o sobrinho, por exemplo, é ficcional. Filme curioso, exibido em festivais internacionais como os de Berlim, Edimburgo e Las Palmas de Gran Canaria (de onde João Carlos saiu com o prêmio de melhor ator), Castanha soma pontos com determinadas opções da fotografia (como o close), de Glauco Firpo, e com o emprego adequadamente discreto da trilha sonora, de Diego Poloni e Tiago Abrahão.
Boa Sorte
Escorada no conto Frontal com Fanta, de Jorge Furtado, Carolina Jabor apresenta a história de amor entre João (João Pedro Zappa) e Judith (Deborah Secco), que se conhecem numa clínica psiquiátrica. Ele é viciado em remédios e sofre com a indiferença familiar. Ela é uma junkie que não tem muito tempo de vida. A relação entre os personagens principais se torna cada vez mais urgente. Não por acaso, à medida que a projeção avança, o roteiro (assinado pelo próprio Jorge Furtado e por seu filho, Pedro Furtado) fecha cada vez mais o foco em torno de João e Judith. Mas o objetivo principal parece residir na iniciação amorosa de João, que, a partir da intensidade da experiência com Judith, encontra o seu caminho no mundo.
Nesse seu primeiro longa-metragem, a cineasta evidencia boas opções, a exemplo da sequência em que Judith relata o seu vínculo com João nas páginas de seu diário. Carolina Jabor transita entre o real e a suspensão desse registro nas sequências em que os personagens “se valem” da invisibilidade para fazer o que desejam. Cabe destacar também a direção de arte de Claudio Amaral Peixoto, mais no que se refere ao apartamento antigo de Célia (Fernanda Montenegro), avó de Judith, do que à concepção da modesta clínica psiquiátrica. Talvez seja, inclusive, o elemento mais autoral num filme que, apesar das suas qualidades, carece de personalidade. No elenco, João Pedro Zappa faz de João um personagem que tende a suscitar empatia junto ao público. E vale lembrar que Fernanda Montenegro foi dirigida pelo pai da cineasta, Arnaldo Jabor, num dos seus principais trabalhos no cinema: Tudo Bem (1978).
1ª NOITE DE COMPETIÇÃO:
Sinfonia da Necrópole
Juliana Rojas volta a destacar a sua ligação com gêneros em Sinfonia da Necrópole, filme em que investe no musical (sobretudo) e na comédia. Pitadas de romance e drama também entram na bem-sucedida mistura. O elo com o terror, evidenciado nos trabalhos realizados em parceria com Marco Dutra, não está tão presente, mas o sobrenatural se impõe. Um ingrediente, aliás, bastante esperado em se tratando de uma história ambientada num cemitério, onde um aprendiz de coveiro, Deodato, é designado a acompanhar uma funcionária, Jaqueline, na tarefa de recadastrar túmulos abandonados. O objetivo principal reside em ganhar espaço dentro do cemitério por meio de jazigos verticais.
As músicas (trilha sonora a cargo da própria Rojas, de Marco Dutra e Ramiro Murilo) funcionam mais como comentários (a chegada de Deodato, vindo do interior, na cidade grande, as especificidades de cada caixão e da própria profissão de coveiro, a revolta dos mortos-vivos diante da nova determinação do cemitério para produzir espaço) do que fazem a história avançar. Há um sabor artesanal, decorrente do modo com que os atores cantam e da sonoridade extraída de gotas de chuva e do barulho das pás, que suscita bastante simpatia. O nonsense do dia a dia funciona bem, a exemplo da figura do sorveteiro comercializando seu produto dentro do cemitério, mas determinadas situações soam um pouco envelhecidas, como a do padre comendo hóstia como se fosse aperitivo e jogando palavras cruzadas no confessionário e do hipocondríaco que morre repentinamente.
Em todo caso, o humor – já evidenciado na brincadeira do título com Berlim, Sinfonia da Metrópole (1927), de Walter Ruttmann, e São Paulo, Sinfonia da Metrópole (1929), de Adalberto Kemeny e Rudolf Rex Lustig –, destituído de apelos, atravessa bem a projeção, favorecida ainda pelo ótimo trabalho do elenco, valendo destacar Luciana Paes e Eduardo Gomes.
Aprendi a Jogar com Você
Num determinado momento de Aprendi a Jogar com Você, o DJ Duda, opina sobre os rumos do próprio filme. Consciente da sua condição de personagem, afirma que o final deve celebrar o seu sucesso profissional. Mesmo se não for propriamente verdade. Afinal, trata-se de cinema. Sem teorizar, Duda traz à tona a noção de que não há como deixar de fazer ficção – até nos documentários. Afinal, o olhar lançado sobre a realidade sempre bate na tela atravessado pela subjetividade do realizador.
Este parece ser o aspecto mais interessante desse documentário de Murilo Salles, que destaca Duda como exemplo de tenacidade: ele não economiza energia para tentar vender seus CDs, que reúnem músicas de sucesso popular, pela periferia de Brasília, vende lotes, se desincumbe de cobradores. Duda é o homem das estratégias, dos jeitinhos. Salles não julga seu personagem e registra instantes de intimidade familiar ao lado dos filhos e da mulher, a cantora Milka Reis. Numa passagem, Milka não hesita em confrontá-lo: “Porque você, com a idade que tem, não se deu bem até hoje?”. Este parece ser o fantasma que assombra Duda. O resultado suscita alguma curiosidade, ainda que o personagem renda menos do que Salles parece apostar.
Neblina
Os diretores Daniel Pátaro e Fernanda Machado se debruçam sobre a vila de Paranapiacaba, localizada a 70 quilômetros de São Paulo, região de influência inglesa e portuguesa hoje praticamente relegada ao esquecimento, a julgar pela paisagem arruinada estampada na tela. O registro da localidade, bastante úmida, poderia certamente render um bom filme, mas os cineastas optaram por um formato muito antiquado, composto por narração em off (a cargo de Suellen Ferraz) e enorme revisionismo histórico, que confere ao resultado um tom excessivamente didático. Em meio à sucessão de entrevistas com moradores, uma se destaca – com um garoto que sabe em detalhes sobre passado e presente de Paranapiacaba.
NOITE DE ABERTURA
Não pare na pista – A melhor história de Paulo Coelho
Um panorama da trajetória do escritor Paulo Coelho abriu o 6th Paulínia Film Festival (a grafia em inglês destaca a inclusão de produções internacionais na programação, relacionadas, nessa edição, às comemorações dos 25 anos da Imovision). Trata-se de Não pare na pista – A melhor história de Paulo Coelho, coprodução entre Brasil e Espanha dirigida por Daniel Augusto.
O espectador acompanha a jornada de Coelho da década de 1960 em diante. Na adolescência, destaque para a relação conflituosa com o pai, que não aceita o seu desejo de se tornar escritor, profissão que julga como destituída de sentido prático. No início da vida adulta, a parceria com Raul Seixas e a tortura nos porões da ditadura. Depois, o mergulho no universo da magia, a religiosidade e certa acomodação em emprego estável. Após tantos percalços, a conquista do sucesso através de seus livros.
O resultado sofre com problemas estruturais do roteiro. De início soa esquemático o contraponto entre duas fases de Paulo Coelho: a do jovem impetuoso, determinado a se tornar escritor, e a madura, quando se afasta de sua vocação. A alternância de tempos – dos anos 1960 até 2013 – se torna cansativa, dando a impressão de que o filme dura mais que 110 minutos. O plano do presente, com o escritor afirmando sua crença nos sinais que encontra pelo caminho, é o menos interessante. E as cenas ligadas à esfera da magia soam um tanto artificiais. Determinadas personagens, como a da atriz Paz Vega, não adquirem vida própria na tela. Mas há qualidades, como as interpretações de alguns atores, valendo destacar Enrique Diaz, como o pai de Paulo Coelho.