Prezado Joel,
Meu texto publicado neste site não tinha de forma alguma o objetivo de questionar a
excelência do seu filme. Por um motivo muito simples, dele, só vi um preview,
apresentado durante a inauguração do Cinema do Centro Cultural do Banco do Brasil em
Brasília, que por sinal deixou excelente impressão entre os presentes. Ainda não sou
sofisticado a ponto de ser convidado a Gramado. Mas não acredito que seja por
preconceito.
O motivo do meu texto foi exatamente a infeliz declaração de Ewald, que pareceu
justificar a premiação pela presença de atores negros em um filme gaúcho. Não vi ali
uma manifestação direta de racismo, até porque não tenho qualquer dúvida de que
Rubens o seja, mas vi uma tentativa de justificar de forma politicamente correta o prêmio.
o que não considero bom, nem para a crítica, que é o que mais me interessa discutir,
nem para o diretor e a equipe do filme. Lamentavelmente, ficou a impressão, já corrigida,
de que o filme foi premiado por um critério que eu, com ironia, defini como próximo do
critério de cotas.
Isso acontece - faço questão de repetir, sempre na minha opinião - porque as
justificativas de premiações nos festivais perderam a importância, o que é lamentável.
Veja que logo em seguida à polêmica Rubens Ewald redigiu uma crítica cheia de
adjetivos para explicar a premiação. Pela justificativa conclui-se que Filhas do
Vento é uma obra-prima. Pois bem, se assim o é, Gramado não foi tão ruim, já que ao
menos trouxe às telas um filme antológico para a história do cinema brasileiro. E que
fique, então, claro: um filme antológico pela suas qualidades fílmicas, pela excelência da
direção, dos atores e de demais membros da equipe, independente da origem cultural,
étnica, racial ou o que seja de seus realizadores.
Minha discussão, portanto, é sobre o valor das justificativas, que não devem obedecer
tais critérios. Por sinal, o critério do júri da crítica, que seguiu o padrão dos júris da
FIPRESCI, me pareceu corretíssimo. No mais desejo-lhe sucesso, parabenizo-lhe pelos prêmios, pela decisão de não devolvê-los e pela grandeza como encarou as desculpas de Ewald. Agora só anseio mesmo é por por ver em breve o resultado de seu filme nas telas brasileiras.
Atenciosamente
Ricardo Cota