Especiais


48º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO

17.09.2015
Por Daniel Schenker
Críticas dos filmes em competição no Festival de Brasília. Atualização diária dos textos.

RESULTADO:

Claudio Assis venceu a 48ª edição do Festival de Brasília com Big Jato, premiado nas categorias melhor filme, ator, atriz, roteiro e trilha sonora. Sair consagrado de festivais se tornou uma constante na carreira do diretor, que anteriormente conquistou os Candangos de melhor filme com Amarelo Manga (2002) e Baixio das Bestas (2006). Já Febre do Rato (2011) ganhou o prêmio máximo no Festival de Paulínia.

O júri (formado por Amir Labaki, Ana Cecília Costa, Cláudio Marques, Iberê Carvalho, Joel Zito Araújo, Luelane Corrêa e Werner Schünemann) dividiu os prêmios basicamente entre dois filmes – além de Big Jato, Para minha Amada Morta, de Aly Muritiba. Foram, de fato, as melhores produções que passaram pela tela do Cine Brasília. Em Big Jato, o experiente Claudio Assis se renovou, ao mesmo tempo em que demonstrou conexão com seus filmes anteriores. Em Para minha Amada Morta, Aly Muritiba, estreante no terreno do longa-metragem, revelou apreciável habilidade para instalar e sustentar uma atmosfera de tensão. Entre as escolhas do júri, cabe fazer restrição a uma: o Candango de melhor ator para Matheus Nachtergaele. Ainda que o ator comprove sua versatilidade interpretando irmãos gêmeos de personalidades opostas, o trabalho filigranado de Fernando Alves Pinto merecia ser privilegiado.

A safra de curtas-metragens foi irregular, mas superior a dos últimos anos. O júri – formado por Ilana Feldman, Marcelo Pedroso, Marcus Mello, Marília Rocha e Santiago Dellape – premiou o divertido Quintal, de André Novais, nas categorias melhor filme, atriz e roteiro. O diretor volta a utilizar os próprios pais como atores, como no excelente longa-metragem Ela volta na Quinta (exibido no Festival de Brasília do ano passado), agora a serviço de uma inusitada ficção científica. Entre os demais concorrentes, cabe destacar A Outra Margem, de Nathália Tereza, centrado na solitária jornada noturna de um homem aparentemente destituído de qualidades especiais; Afonso é uma Brazza, de Naji Sidki e James Gama, divertido registro do modelo de produção amador do cineasta trash Afonso Brazza; o lacunar Cidade Nova, de Diego Hoefel; História de uma Pena, de Leonardo Mouramateus, que propositadamente não fornece muitas informações sobre seus personagens, um professor deslocado e um pequeno e bem pouco interessado grupo de alunos; O Corpo, de Lucas Cassales, trabalho austero que imprime clima de pesadelo, potencializada a partir do instante em que um menino encontra o corpo de uma mulher; O Sinaleiro, de Daniel Augusto, curta sem falas, com minuciosa partitura sonora e a presença de um único ator (Fernando Teixeira) interpretando um homem repleto de chagas pelo corpo; e Tarântula, de Aly Muritiba e Marja Calafange, que reúne alguns personagens mutilados em torno de uma história macabra.



Longa-metragem:

Filme - Big Jato, de Cláudio Assis

Direção - Aly Muritiba, por Para minha Amada Morta

Ator - Matheus Nachtergaele, por Big Jato

Atriz - Marcelia Cartaxo, por Big Jato

Ator Coadjuvante - Lourinelson Vladmir, por Para minha Amada Morta

Atriz Coadjuvante - Giuly Biancato, por Para minha Amada Morta

Roteiro - Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco, por Big Jato

Fotografia - Pablo Baião, por Para minha Amada Morta

Direção de Arte - Monica Palazzo, por Para minha Amada Morta

Trilha Sonora - DJ Dolores, por Big Jato

Som - Claudio Gonçalves e Flávio Bessa, por Fome

Montagem - João Menna Barreto, por Para minha Amada Morta

Prêmio Especial do Júri – Jean-Claude Bernardet, por Fome

Prêmio Abraccine – Para minha Amada Morta

Prêmio do Júri Popular – A Família Dionti



Curta e Média-metragem:

Filme - Quintal, de André Novais

Direção - Nathália Tereza, por A Outra Margem

Ator - João Campos, por Cidade Nova

Atriz - Maria José Novais, por Quintal

Roteiro - André Novais, por Quintal

Fotografia - Leonardo Feliciano, por À Parte do Inferno

Direção de Arte - Fabiola Bonofiglio, por Tarântula

Trilha Sonora - Sérgio Pererê, Carlos Francisco, Gabriel Martins e Pedro Santiago, por Rapsódia para o Homem Negro

Som - Léo Bortolin, por Command Action

Montagem - Pablo Ferreira, por Afonso é uma Brazza

Prêmio Especial do Júri – História de uma Pena, de Leonardo Mouramateus

Prêmio Abraccine - A Outra Margem, de Nathália Tereza

Prêmio do Júri Popular – Afonso e uma Brazza, de Naji Sidki e James Gama

Prêmio Canal Brasil – Rapsódia para o Homem Negro, de Gabriel Martins



6ª NOITE DE COMPETIÇÃO:

PROVA DE CORAGEM

Adaptação de Mãos de Cavalo, livro de Daniel Galera, Prova de Coragem, de Roberto Gervitz, é um filme sobre o corpo. Hermano (Armando Babaioff) e sua mulher, Adri (Mariana Ximenes), são personagens que procuram superar seus limites físicos. Acostumado a fingir que não sente (a exemplo da cena em que, na adolescência, reprime a reação quando uma amiga morde seu corpo), ele força suas próprias possibilidades a cada escalada. Já ela não hesita em conciliar um trabalho braçal extenuante com uma gravidez de risco.

No caso de Hermano, essa necessidade está ligada a um antigo sentimento de culpa por ter testemunhado, sem reagir, ao linchamento de um amigo por outros colegas, por menores que fossem as suas chances de conseguir defendê-lo. Eventuais circunstâncias da realidade reavivam a sensação de covardia de um personagem que se julga em excesso.

Mas a falta de coragem talvez seja camuflada por um (aparente?) desejo. Mesmo com os riscos que Adri corre, Hermano decide levar adiante o plano de escalar uma montanha na Terra do Fogo. Seria o desejo imperando sobre o bom senso, o sentido de obrigação, ou o temor em lidar com a realidade?

Em Prova de Coragem, os corpos se manifestam através da dor, surgem em permanente estado de sacrifício. Ao longo da projeção, os personagens sofrem hemorragias, cortes, são atingidos por pauladas, disparam socos, batem a cabeça em pedra. É o contrário da jornada da protagonista de A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, livro que Adri aparece lendo no início do filme, que realça o corpo como fonte de prazer, apesar da contundente proximidade da morte.

O conteúdo pulsante do material original contrasta com uma direção impessoal, que engessa os corpos, voltada para um asséptico padrão de eficiência. O apego a um formato convencional rende, em alguma medida, os atores, que evidenciam interpretações muito dedicadas. Armando Babaioff investe em registro em tom menor (mantendo, porém, o olhar transbordante) como Hermano, personagem que controla a exposição das emoções, que evita o extravasamento. Mariana Ximenes tenta dosar a crescente insatisfação de Adri, personagem mais à flor da pele.

O roteiro, também do diretor, é bastante explicativo. Roberto Gervitz integra uma promissora geração de cineastas, infelizmente abortada pelo governo de Fernando Collor de Mello, responsáveis por filmes autorais, ainda que bem diferentes entre si, no final da década de 1980 – como Cidade Oculta (1986), de Chico Botelho, A Dama do Cine Shangai (1987), de Guilherme de Almeida Prado, Anjos da Noite (1987), de Wilson Barros, Vera (1987), de Sergio Toledo, Dedé Mamata (1988), de Dodô Brandão, e sua versão para Feliz Ano Velho (1987). Seria interessante que o diretor retomasse algo do espírito da época em seus projetos futuros. Restrições à parte, Prova de Coragem é uma realização digna.



5ª NOITE DE COMPETIÇÃO:

SANTORO – O HOMEM E SUA MÚSICA

Como o título indica, Santoro – O Homem e sua Música segue um formato convencional de exposição do percurso do artista retratado – no caso, o músico, compositor e maestro Claudio Santoro (1919-1989). O diretor John Howard Szerman realça a importância de Santoro por meio de uma tradicional sucessão de depoimentos de familiares e parceiros artísticos (e do próprio Santoro) intercalados por imagens de arquivo. Entre outros assuntos, destaca o começo da trajetória profissional, o exílio em Berlim durante a ditadura militar, o desafio como criador de gado, as trilhas compostas para os filmes e a inspiração em Brasília, cidade que elegeu. A jornada de Santoro é, sem dúvida, interessante. Mas o diretor não se vale de recursos cinematográficos para contá-la.

As imagens que atravessam a tela, apesar de curiosas (proporcionam evocação de décadas passadas, em especial do Rio de Janeiro), são utilizadas de maneira apenas ilustrativa, correspondendo de modo direto aos conteúdos das falas. Talvez o procedimento empregado por Szerman que afasta o documentário de um padrão totalmente acadêmico seja o espaço destinado às apresentações musicais. É como se o diretor colocasse (em certo grau) o espectador de cinema na “posição” do espectador de concerto, iniciativa que possibilita que se aprecie o filme por via sensorial. É como se Szerman acenasse com um canal de conexão diverso do da mera transmissão de informações.

Ainda assim, Santoro – O Homem e sua Música, único documentário na competição do Festival de Brasília, não se justifica sob o ponto de vista artístico. Sua inclusão parece estar mais ligada a fatores como a homenagem a um artista relevante e vinculado à Brasília e a presença do Distrito Federal entre as produções selecionadas.



4ª NOITE DE COMPETIÇÃO:

BIG JATO

À primeira vista, Big Jato parece marcar uma guinada na trajetória de Claudio Assis, na medida em que, dessa vez, o cineasta não aposta em cenas com potencial de choque. O diretor ressurge menos agressivo e contundente, mais suave. Permanece, porém, intenso no exercício de um cinema visceral.

Big Jato traz especialmente à tona Febre do Rato. Como no trabalho anterior, no novo filme há um poeta, mesmo que aprendiz – o adolescente Xico (Rafael Nicário), que atravessa rito de passagem inflamado pelo amor não correspondido por Ana Paula (Pally Siqueira), moça recém-chegada da capital. É possível perceber ainda uma espécie de contramão a uma tecnologia impessoal. Se o protagonista de Febre do Rato imprimia seu tabloide contestador num mimeógrafo, Nelson, tio de Xico, diz, em dado momento de Big Jato, que “máquina de escrever é poesia; computador é prosa”. No vilarejo isolado, Peixe de Pedra, onde a história acontece, não há sinal para telefone celular. Mas Claudio Assis não idealiza o passado, não defende a estagnação no tempo. Não por acaso, Nelson estimula o sobrinho a ir embora. “Aqui você vai fossilizar”, avisa. De qualquer modo, ao final o diretor frisa que, por mais que se ande pelo mundo, o lugar de origem é elemento constituidor de cada um.

A partir de roteiro de Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco (adaptado do livro de Xico Sá), o cineasta aborda duas perspectivas de mundo, não só diversas como contrárias – simbolizadas por Xico, o pai, chamado de Velho, e pelo irmão, Nelson, ambos interpretados por Matheus Nachtergaele. Xico, o pai, limpa fossas com o seu caminhão-pipa, o Big Jato do título, é bruto, machista e alcóolatra e acha que os filhos devem se apegar à praticidade da matemática. Trava com Xico, o filho, uma relação passional, entre a cumplicidade durante as viagens e a repressão à vocação literária. Já Nelson é anárquico, libertário e fala a favor do ócio. Xico, o filho, vive em meio à secura do sertão, mas deseja o oposto: ver o mar.

Apesar do tenso início de sessão (o diretor foi vaiado por parte da plateia presente ao Cine Brasília devido ao episódio referente à sua intervenção no debate do filme Que Horas ela Volta?, de Anna Muylaert), Big Jato recebeu entusiasmados aplausos no término da projeção. Claudio Assis confirma sua força como cineasta, tanto nos quesitos técnicos quanto na condução do elenco (com destaque para Marcélia Cartaxo, como a enérgica esposa de Xico pai).



3ª NOITE DE COMPETIÇÃO:

PARA MINHA AMADA MORTA

O longa-metragem Para Minha Amada Morta e o curta Tarântula, ambos assinados por Aly Muritiba (o segundo em parceria com Marja Calafange) e exibidos na atual edição do Festival de Brasília, têm na mutilação um elemento comum. No curta, o espectador encontra personagens mutilados fisicamente; no longa, se depara com o protagonista Fernando (Fernando Alves Pinto), que, emocionalmente mutilado depois de perder a esposa, Ana (Michele Pucci), surge na tela como uma espécie de fratura exposta ambulante.

Em Para Minha Amada Morta, a mutilação não é definitiva, tendo em vista que, no decorrer da projeção, Fernando conquista a restauração. O contraste entre os estados do personagem no início e no final soa um pouco esquemático, mas o importante reside no processo. Fernando passa por uma via-crúcis, potencializada a partir do instante em que descobre que a mulher manteve um caso com outro homem, Salvador (Lourinelson Vladimir). Começa, então, a transitar da passividade da melancolia para a vingança. Não hesita em trocar a casa confortável ao lado do filho, Daniel (Vinicius Sabagg), por uma pequena moradia nos fundos do terreno de Salvador, localizado num bairro da periferia.

Fernando assume um personagem, atua diante de Salvador. Ao mesmo tempo, uma mudança genuína se opera dentro dele. Essas questões justificam a recorrência de espelhos, relevantes em algumas cenas. Aly Muritiba, que acumula a função de roteirista, revela domínio da gramática cinematográfica. Ainda que talvez haja certo esgarçamento da situação-base na segunda metade, Muritiba imprime atmosfera de tensão e a sustenta até a última sequência. Conduz os atores com habilidade, a julgar pela interpretação econômica e bastante expressiva de Fernando Alves Pinto, que preenche as passagens com reduzida quantidade de falas, e pelos bons trabalhos de Lourinelson Vladimir e Giuly Biancato – no papel de Estela, a filha mais velha de Salvador, atriz que também marca presença em Tarântula. Cabe destacar a direção de arte de Monica Palazzo, que investe em tonalidades frias, em criação entrosada com a cenografia de Renata Rugai, e a refinada partitura de som de Alexandre Rogoski.



2ª NOITE DE COMPETIÇÃO:

FOME

Fome, de Cristiano Burlan, coloca o público diante de elementos já vistos em outros filmes, como a fusão entre realidade e ficção e a elevação de São Paulo ao status de personagem. Essas características foram, inclusive, destacadas por Burlan em alguns de seus trabalhos anteriores.

Em Hamlet (2014), Jean-Claude Bernardet se referia à transição em sua carreira – de professor e crítico de cinema a ator – como uma necessidade de se reinventar decorrente da passagem do tempo. Agora, em Fome, interpreta um personagem que largou o cotidiano acadêmico (como Bernardet, era professor da USP, dado frisado na cena de embate com o crítico Francis Vogner) para morar na rua, mudança brusca que avalia como uma libertação, uma conquista. Presença cada vez mais frequente nas telas, Bernardet costuma emprestar fatos da própria vida aos personagens. Nesse sentido, o registro em primeira pessoa fica mais evidenciado em suas atuações. A mescla entre os procedimentos do documentário e da ficção também é realçada por meio de uma estudante (Ana Carolina Marinho) que entrevista verdadeiros moradores de rua (o personagem de Bernardet entra como a única figura construída).

No que diz respeito à importância de São Paulo, Burlan trouxe à tona a atmosfera do Capão Redondo, bairro onde cresceu, em Mataram meu Irmão (2013), filme em que, como o título indica, abordou o assassinato de Rafael, o irmão, evocando sua tragédia familiar. Em Hamlet havia cenas ambientadas nas ruas de São Paulo, onde os atores se apresentavam diante dos transeuntes. Em Fome, a cidade (captada na ótima fotografia de Helder Filipe Martins) se agiganta na tela. Burlan privilegia o Centro, ou áreas próximas como Minhocão, Viaduto do Chá, República e Bela Vista. Mas há menções a regiões como Itaquera, Comendador Ermelino e Engenheiro Goulart. Trata-se de um filme de deslocamento – a pé (durante a maior parte do tempo) ou de carro (numa sequência). O diretor lança um olhar panorâmico sobre São Paulo, simbolizado por impactantes tomadas do alto.

Belas cenas despontam em Fome, como a do clima de sedução entre o personagem de Bernardet e um homem (Juão Nin) no Minhocão e a final, num túnel com incessante movimento de carros. O filme, aliás, ameaça terminar mais de uma vez e acaba se alongando. Além disso, mesmo que Burlan não se limite a revisitar seus trabalhos, uma certa sensação de repetição atravessa a projeção. O diretor não parece acrescentar muito material novo nem em relação ao questionamento da fronteira entre realidade e ficção, nem a discussões sociais, a exemplo do momento em que um casal bem burguês acorda o mendigo de Bernardet para entregar as sobras de um jantar numa espécie de flagrante de caridade hipócrita normalmente mostrada em filmes de Sergio Bianchi.



1ª NOITE DE COMPETIÇÃO:

A FAMÍLIA DIONTI

Alan Minas investe, em A Família Dionti, sua estreia no terreno do longa-metragem de ficção, num cinema infanto-juvenil que remete a realizações distantes do aparato tecnológico, como A Dança dos Bonecos (1986), de Helvécio Ratton, outro diretor que costuma transportar para a tela a atmosfera de uma Minas Gerais desconectada do vapt-vupt contemporâneo. Proporciona um mergulho no Brasil interiorano, com sabor de antigamente (anunciando desde o título).

O caráter artesanal fica destacado na história de um menino, Kelton (Murilo Quirino) – que se aproxima de Sofia (Anna Luiza Marques), garota que trabalha no circo, e sente cada vez mais calor – e em elementos como panos com estrelas estampadas e bonecos que ganham vida. Pai de Kelton, Josué (Antônio Edson, ator do Grupo Galpão) se recusa a levar o menino para consulta médica na capital, argumentando se tratar de uma doença de família, ligada à da esposa, mãe dos garotos, figura ausente, como o retrato retirado da parede da casa, mas constantemente mencionada durante a projeção. Se Kelton corre o risco de se dissolver em água, Serino (Bernardo Lucindo), seu irmão mais velho, secou. “Minha memória secou com tudo dentro”, diz Serino, acerca da falta de lembranças da mãe.

A Família Dionti reúne claras referências literárias – a João Guimarães Rosa e, em especial, a Manoel de Barros (realçada pelas construções das frases, pelas palavras nada convencionais, por nomes de personagens como Poesina e Ilusângela e de lugares como Angustura e Dores da Vitória). O roteiro, do próprio Minas (a partir de um conto de sua autoria), possui méritos consideráveis, mas também alguns problemas: a linguagem poética não surge de modo orgânico na boca dos personagens, eventuais observações soam forçadas (como o elo entre morrer e mudar, logo no início do filme) e o mistério em relação ao destino da mãe poderia ter sido mais desenvolvido, não no sentido de tornar óbvio, e sim no de trazer à tona, de forma mais potente, as questões do filme. A sensação de artificialidade se estende a atuação de Gero Camilo, no papel do médico. Integrando o elenco, Bia Bedran, artista vinculada ao universo infanto-juvenil.

Apesar das restrições, o saldo é bastante positivo. A Família Dionti se impõe como uma obra singela, uma importante aposta no lúdico. Deve encantar aos espectadores mais dispostos a apreciações contemplativas.

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