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ZIDANE – UM RETRATO DO SÉCULO XXI

17.08.2007
Por Carlos Alberto Mattos
ZOOM EM ZIZOU

Como registro de uma partida de futebol, Zidane – Um Retrato do Século XXI é um fracasso. Na maior parte do tempo não se vê a bola, nem craques como Ronaldo, Beckham, Roberto Carlos e Riquelme, escalados para aquela partida entre Real Madrid e Villareal, em abril de 2005. Mas como experiência documental sobre um jogador, nada existia parecido. Exibido no último festival do Rio, o filme chega ao mercado brasileiro diretamente em DVD da Paris Filmes.



Naquele jogo, as 15 câmeras dispostas no estádio Santiago Bernabeu, em Madri, só tinham lentes para Zinedine Zidane. O filme o segue por quase 90 minutos: esperando, deslocando-se, apanhando, caindo, driblando, desarmando, catimbando. A poderosa zoom desenvolvida pela Panavision para o exército dos EUA capta o suor, a saliva, detalhes da expressão facial, das meias, da bandagem no pulso. E um único momento de descontração, quando Zizou troca sorrisos com o companheiro Roberto Carlos. Antes mesmo que a partida terminasse, o cabeça-quente fez um trailer da cabeçada que o tiraria da Copa de 2006: agrediu um adversário sem bola e foi expulso de campo.



Zidane tinha mesmo vocação para sabotar os épicos montados em torno dele. Zidane, o filme, era para ser a glorificação suprema de um artista da bola. Por sinal, foi concebido e dirigido pelos artistas plásticos Douglas Gordon e Philippe Parreno. Mas acabou como a eternização de um atleta destemperado.



A montagem do filme é um curioso exercício de continuidade em tempo real, passando do pormenor íntimo para o plano aberto e vice-versa. O som, bastante manipulado, destaca ora o clamor das torcidas, ora as falas e ruídos individuais dos jogadores, ora a trilha sonora (atmosférica e contemplativa) do grupo escocês Mogwai. O trabalho com o som produz efeitos interessantes, como o de alienar o entorno e sugerir a absorção esporádica do jogador em seus pensamentos.



Se a técnica permitisse algo assim em 1960, o nosso clássico Garrincha, Alegria do Povo teria esse formato. A idéia original do produtor Luiz Carlos Barreto era filmar somente Garrincha durante 90 minutos. Mudou o século e Zidane conquistou o privilégio.



Obs.: a cópia digital é de excelente qualidade; os extras se resumem ao trailer e a um making of curto e superficial.



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