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A MORTE AO VIVO

06.04.2009
Por Luiz Fernando Gallego
TUDO INTERESSA MAS NADA IMPORTA

A moda agora é a "celebrização" da morte. Uma moça britânica, participante de um desses BBB´s, sofrendo de câncer, fez da doença um verdadeiro reality show.



A notícia está nos jornais : Milhares de ingleses acompanham funeral de ex-participante de ´Big Brother´



"Jade Goody foi enterrada neste sábado dia 4. Ela morreu aos 27 anos, de câncer . Milhares de pessoas pararam para acompanhar o funeral da ex-participante da versão britânica do programa ‘Big Brother’ que morreu em 22 de março.



Um carro do serviço fúnebre passou por ruas de Londres com o caixão onde estava o corpo dela antes de ser enterrado. Cerca de 300 pessoas estavam na missa celebrada na localidade de Buckhurst Hill (Essex), depois que o corpo de Goody foi levado do bairro de Bermondsey, onde a jovem foi criada.



Jade morreu em casa, junto com o marido, com quem se casou recentemente em cerimônia cujas imagens vendeu com exclusividade a uma revista de fofocas, e com seus dois filhos, de 4 e 5 anos, ambos de um casamento anterior.



Goody, que tratou de aproveitar ao máximo os poucos dias que lhe restavam de vida - segundo ela própria - casou-se em 21 de fevereiro (um mês antes de morrer) com Jack Tweed, um jovem de 21 anos que se encontrava em liberdade vigiada por agredir um adolescente. Na missa de sábado, Tweed teve dificuldades para controlar a emoção, enquanto lia um poema em homenagem a Goody.



Em 2008, ela havia sido chamada para uma versão do Big Brother "só para celebridades", quando soube que sofria de um câncer cervical (do colo do útero), que se estendeu rapidamente para o fígado e o intestino. Durante seus últimos dias no hospital Royal Marsden, de Londres, Goody batizou seus dois filhos, para quem deixou o dinheiro ganho com a publicidade que vendeu de sua doença.



A lenta agonia de Jade Goody alimentou durante as últimas semanas os tabloides sensacionalistas e outros meios de comunicação da Inglaterra, contagiada por esse fenômeno e que parecia não cansar de publicar fotos da moça
"



Não é uma má idéia: os participantes do Big Brother, produtores, diretores, roteiristas, apresentadores desta lama... todos deveriam atingir a fama suprema: a morte em frente às câmeras.



Mas ficaríamos livres deles? Infelizmente, não. Para uma imprensa marron sempre houve um público ocre.



Um dos últimos filmes da Romy Schneider (e olha que ela morreu em 1982! o filme já deve ter quase 30 anos que foi feito) se chamava A Morte ao Vivo e mostrava em um futuro próximo – premonitoriamente, portanto - um programa de TV em que um sujeito instalava uma microcâmera no próprio olho; ou seja, tudo que ele via, a TV mostrava.



E ele paquerava a personagem doente da Romy Schneider para ficar perto dela, uma mulher com os dias contados por estar com uma doença grave.

Apenas para transmitir sua agonia e morte pela TV.



O ator era o Harvey Keitel antes de ficar bem mais conhecido (o filme era francês, do Bertrand Tavernier que depois dirigiu o premiado filme sobre jazz, Round Midnight e outro sobre escolas públicas francesas, Tudo começa aqui, melhor do que o atual Entre os Muros da Escola).



A diferença é que a mulher do filme não se oferecia para morrer em frente às câmeras como hoje em dia as pessoas fazem qualquer coisa (qualquer coisa mesmo) para se transformarem em "celebridades".

Mas o público já ansiava por essa necrofilia. A vida imita a arte.



Uma frase do filme (sobre o que pode ser assunto na midia):

Tudo interessa. Mas nada importa."



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