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FESTA DO CINEMA EM NOVA YORK

02.10.2003
Por Carlos Brandão
FESTA DO CINEMA EM NOVA YORK

Considerada por muitos a mostra cinematográfica mais sofisticada dos

Estados Unidos, o Festival de Nova York, que acontece de 3 a 19 de outubro deste ano, sempre se caracterizou por apresentar uma seleção do que de melhor foi exibido nos grandes festivais do ano - Sundance, Berlim, Cannes e Veneza - acrescido de obras criativas e inovadoras garimpadas pelos programadores do Lincoln Center Film Society

no mercado cinematográfico mundial.



Assim, ao longo desses últimos quarenta anos, estiveram no festival lançando seus filmes nos EUA nomes como Luis Buñuel com O Anjo Exterminador, Yasujiro Ozu com Dia de Outono, Jean-Luc Godard com Alphaville, Bernardo Bertolucci com O Último Tango em Paris, Luchino Visconti com Violência e Paixão, François Truffaut com O Homem que Amava as Mulheres, Sergio Leone com Era uma Vez na América, Akira Kurosawa

com Ran, Chen Kaige com Adeus, Minha Concubina e Krzysztof Kieslowski com A Fraternidade é Vermelha, só para citar alguns.



Uma outra característica do evento é a de não ter nenhum tipo de premiação : como diz Richard Peña , diretor do Festival, "o cineasta que mostra seu filme aqui não precisa ficar preocupado se vai ganhar ou perder: ele só se preocupa em exibir o seu trabalho e curtir o filme dos outros diretores. O nosso festival é um evento para celebrar o cinema",

define. Não deixa de ser saudável. Como nos anos anteriores, a edição 2003 se caracteriza pela diversidade, mostrando filmes de vários países , diferentes estéticas e estilos de

cinema.



Desta vez, estão no programa 22 filmes de 15 países . Entre eles, a maior representação será a dos Estados Unidos - com seis filmes ; a cinematografia americana também abrirá o festival com Mystic River, de Clint Eastwood, um drama sobre o reencontro de três amigos de infância, após a morte trágica da filha de um deles : o elenco inclui Tim Robbins, Sean Penn e Kevin Bacon. Como sempre acontece de uns anos para cá, um filme de Eastwood é sempre esperado com interesse e uma certa ansiedade pelos críticos e cinéfilos americanos. O festejado diretor mexicano Alejandro González Iñarritu (Amores Brutos) encerrará o evento com 21 Grams, uma produção americana que concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, com Benício del Toro , Sean Penn e Naomi Watts nos papéis principais.



Além desses, os destaques da representação americana são Elephant - a versão ficcional de Gus van Sant para a tragédia de Columbine - vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes ; e A Bruma da Guerra (The Fog of War), de Errol Morris, um documentário sobre Robert Strange McNamara, também mostrado na Croisette. O filme, que será apresentado no NYFF numa sessão especial, retrata os períodos (Kennedy e

Johnson) em que McNamara ocupou a função altamente estratégica de Secretário de Defesa dos Estados Unidos e influenciou a guerra e a paz do mundo .



Outros dois grandes destaques vindos de Cannes , são Invasões Bárbaras,

que deu a Denys Arcand o prêmio de roteiro no festival francês e retoma a história do seu bem sucedido filme de 86, O Declínio do Império americano; e Dogville, de Lars von Trier, filme realizado completamente fora dos padrões tradicionais, em mais uma inovação do criador do Dogma 95. A Flor do Mal (The Flower of Evil), de Claude Chabrol, que concorreu ao Urso de Ouro na última Berlinale, representa a França ao lado de Since

Otar Left, de Julie Bertucelli e Raja, de Jacques Doillon, este uma produção franco-marroquina.



Entre os europeus, destacam-se ainda Distant, de Nuri Bilge Ceylan, da Turquia, vencedor do Grand Prix em Cannes; Free Radicals, de Barbara Albert , da Austria; Pornography, de Jan Jakub Kolski, da Polônia; e o aguardado Bom Dia Noite, do italiano Marco Bellocchio que, no ano passado, impressionou a platéia com seu iconoclasta O Sorriso de Minha

Mãe. O novo filme de Bellocchio refaz os passos do atentado que culminou com o assassinato do Primeiro Ministro Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas em 1978.

Do oriente - cujas filmografias sempre ocupam um espaço generoso no festival novaiorquino - serão mostrados Goodbye, Dragon Inn, de Tsai Ming-liang (Taiwan) ; PTU , de Johnnie To (Hong Kong), que teve sua premiere no último Festival de Berlim ; Mansion By the Lake, de Lester James Peries (Sri Lanka); e Crimson Gold, do iraniano Jafar Panahi, que fez muito sucesso na edição de 99 do NYFF com O Círculo. Baseado numa

história real, Crimson Gold segue um entregador de pizza em Teerã, tendo como pano de fundo o desfile de imagens marcantes do regime teocrático repressivo do país.



O Festival de Nova York, que em sua primeira edição, em 63 incluiu na programação Barravento, do então estreante Glauber Rocha, mais uma vez não selecionou nenhum longa do Brasil. A última inclusão de longas metragens brasileiros no Festival foi em 2000, com o controvertido Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi.



Eventos Especiais

O grande destaque dessa tradicional seção do festival é O Melhor da Juventude, de Marco Tullio Giordana, um filme de 366 minutos originalmente feito para a televisão, que segue a vida de dois irmãos do final dos anos 60 até os dias de hoje, tendo como pano de fundo eventos cruciais da história recente italiana. O filme, mostrado no último Festival de

Cannes e adquirido pela poderosa Miramax, vem emocionando o público por

onde tem passado. Destacam-se ainda a exibição de Piccadilly, de Ewald André Dumont, de 1929, que será mostrado numa sessão solene com acompanhamento musical ;

Stalingrad, de Sebastian Dehnhardt, da Alemanha ; e uma mostra do mestre Yasujiro Ozu, o grande homenageado do festival pelo seu centenário de nascimento.

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