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SEPARAÇÕES

20.10.2005
Por Marcelo Janot
TEATRO FILMADO OU FILME TEATRAL?

Recentemente, Domingos Oliveira protagonizou uma polêmica com outros cineastas por defender a realização de um cinema de baixíssimo orçamento – para ser mais exato, R$ 35 mil, que foi o que ele gastou com seu último filme, Carreiras. A vantagem de Domingos sobre seus colegas em discussões como essa é que ele, independentemente do orçamento, faz filmes bons – e é disso que o cinema nacional precisa, custe o filme 35 mil ou 35 milhões.



Um de suas melhores realizações é Separações, de 2002 (clique aqui para ler a crítica), adaptação para o cinema de uma de suas peças. Foi o primeiro filme de Domingos rodado no formato digital, o que não lhe traz grandes prejuízos ao assistirmos na tela pequena. O DVD tem extras interessantes, que permitem entender o processo de transposição de um texto teatral para o cinema.



O mais valioso dos extras é o denominado Comparações, que mostra as mesmas cenas no filme e na peça. Como o texto é praticamente idêntico e os atores são os mesmos, é possível observar diferentes nuances nas interpretações e na direção, que por vezes faz determinados momentos serem mais cômicos no teatro do que no cinema, ou vice-versa. No filme, a cena do diálogo entre Cabral (Domingos Oliveira) e Laura (Suzana Saldanha), em que Laura diz a Cabral “agora você vai ter que me comer”, enfatiza muito mais a frase através do silêncio e da expressão de perplexidade de Domingos do que na peça. É curioso também comparar a cena da briga entre Cabral e Diogo (Fabio Junqueira), ambientada no meio da rua no Baixo Gávea, com sua correspondente no palco, sem o automóvel, a calçada e outros elementos cenográficos.



Em outro grande filme de Domingos lançado em DVD, o clássicoTodas As Mulheres do Mundo, havia um ótimo comentário em áudio, em que Domingos e Paulo José relembravam cena a cena Leila Diniz e as curiosas histórias da época, embora muitas vezes fossem atrapalhados pelo ator Pedro Cardoso, que não tinha nada a ver com o filme, entrou de gaiato na história e quase estragou tudo com comentários redundantes e muitas vezes infelizes, interrompendo o raciocínio dos dois. O DVD de Separações não tem faixa de comentário, mas talvez nem fosse necessário, já que Domingos esmiuça bem a produção nos curtos depoimentos que compõem os extras. Em um deles, Atores, ele fala sobre seu elenco com uma afetividade tão contagiante que dá pra entender porque todos parecem tão à vontade em cena e a relação familiar estabelecida entre diretor e atores.



O último capítulo de extras também é curioso, já que reproduz a letra do poema lido por Domingos no final do filme, O Homem Lúcido, que para surpresa de muitos não é de autoria do diretor: trata-se de um texto de autor desconhecido escrito no século VI antes de Cristo na Caldéia, região sul da Mesopotâmia, situada entre os rios Tigre e Eufrates.



Um único porém em relação ao DVD: a falta de cuidado do projeto gráfico da capa do disco, que erra a grafia do nome de uma das atrizes principais, Nandda Rocha (chamada de “Mandda”), e da produtora Clélia Bessa (que virou “Cléia”), no mínimo uma pequena falta de respeito com as profissionais envolvidas na produção.



#SEPARAÇÕES

Brasil, 2002

Direção: Domingos Oliveira

Roteiro: Domingos Oliveira e Priscilla Rozenbaum

Fotografia: Paulo Violeta

Direção de arte e figurino: Ronald Teixeira

Montagem: Natara Ney, José Rubens

Som Direto: Sílvio da Rin, Paulo Costa

Produção: Clélia Bessa, Luiz Leitão

Elenco: Domingos Oliveira, Priscilla Rozenbaum, Ricardo Kosovski, Fabio Junqueira, Maria Ribeiro, Nandda Rocha.

Duração:116 min.

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