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DEADPOOL & WOLVERINE

De: Shawn Levy
Com: Ryan Reynolds, Hugh Jackman, Emma Corrin
01.08.2024
Por Luis Gustavo Ribeiro
Disney tenta parecer ousada e descolada

Deadpool é um anti-herói da Marvel criado em 1991 por Rob Liefeld. Inicialmente apenas um coadjuvante de outras histórias, começou a ganhar destaque pela sua excentricidade. O mercenário apresenta, de forma exagerada, características de dois grandes heróis: a tagarelice do Homem Aranha e o poder de regeneração semelhante ao de Wolverine. Entretanto, o que o destaca são seus comentários metalinguísticos.

Entre o fim da década de 1990 e o início do século XXI, a editora Marvel estava em crise financeira e teve que vender os direitos de algumas de suas propriedades: dentre elas, os populares X-Men e seus personagens secundários para o grupo 20th Century Fox. O estúdio norte-americano, com isso, iniciou uma série de filmes que moldou a indústria cinematográfica desse século. O gênero de heróis se tornou os dominantes nos blockbusters, em especial com o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), feito pela Disney após a compra da editora, mas sem os X-Men, que eram propriedade da concorrente.

Com a compra da Fox pela Disney, a inserção dos mutantes no universo cinematográfico ficou livre. Apesar de ter sido homologada, a compra sofre críticas por se tratar de um virtual monopólio no entretenimento global. A absorção de um concorrente menor é vista como predatória e nociva para o mercado como um todo. As propriedades adquiridas pela Disney vão além dos X-Men e seus personagens. Fox News, por exemplo, noticiário conservador e um grande apoiador de Donald Trump, entrou nessa compra. No Brasil, a absorção do conteúdo do streaming Star + pelo Disney + –  que vai além de séries e filmes, contemplando também transmissões ao vivo da ESPN – criou uma dependência do plano assinado (quanto maior o valor assinado, mais acesso). Além de elitizar o consumo de mídia, devido à importância cultural do entretenimento, o público geral fica à mercê das ideologias e das práticas desse grande estúdio.

Neste cenário, o popular e tagarela que faz piadas metalinguísticas Deadpool foi escolhido como símbolo dessa integração. O terceiro longa do personagem, interpretado por Ryan Reynolds, começa anos após os acontecimentos do segundo filme. Wade Wilson, nome verdadeiro de Deadpool, tenta uma vida diferente, após ter terminado com sua amada e não ter sido aceito pelo time dos Vingadores. Wade é sequestrado pela TVA, uma organização multiuniversal, para consertar a sua linha do tempo que está sendo destruída com a aquisição da Fox pela Disney. Tendo um papel central na trama, o filme ganha a adição importante do super-herói Wolverine, que, no universo de Deadpool, havia morrido em seu último filme (Logan), além de o ator Hugh Jackman ter dito que tinha se aposentado do personagem.

Reforçados pela direção do canadense Shawn Levy, diretor de filmes familiares como
Uma noite no museu e O grande mentiroso, os dois personagens entram numa aventura digna de sessão da tarde, sem abandonar a violência gráfica e sua classificação indicativa para maiores de 18 anos. Deadpool & Wolverine exagera nas referências ao passado cinematográfico dos X-Men, como personagens clássicos ou esquecidos, numa grande ode nostálgica aos anos 2000. O longa é um deleite para os fãs de quadrinhos e os que cresceram assistindo a essa franquia no cinema. Mas esse é o problema para alguns.

Para alguém menos vislumbrado pelo gênero, o filme não se sustenta. A ousadia característica do Deadpool, a metalinguagem e a violência não são usadas para subverter ou ressignificar o gênero de heróis no MCU, mas sim para reforçá-lo. Além disso, as piadas de autorreferência ao estúdio acabam sendo usadas para renovar a imagem da atual dona dos direitos, muito marcada por ser mais infantil e conservadora. 


A Disney tenta parecer ousada e descolada com esse filme, buscando novos públicos que estavam afastados do cinema ou dos produtos da empresa e surfando na popularidade desses heróis e na nostalgia. Utilizando um personagem dito subversivo para colocar as suas divisões criativas como alheias a esse processo empresarial, ela tenta se valer da emoção e do apego do público aos personagens. Para um espectador menos crítico ou fanático pela Marvel, pode ter funcionado, mas, para os mais críticos e céticos, não funciona nada bem.



* Luis Gustavo Ribeiro é estudante da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ).


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Outros comentários
    5345
  • Angelo
    01.08.2024 às 12:52

    Você sabe das coisas