DVD/Blu-ray


NOSSO AMOR DO PASSADO

05.04.2007
Por Luiz Fernando Gallego
OLHAR DIVIDIDO

Nosso Amor do Passado (Conversations with Other Women) foi exibido em 2006 no Festival do Rio e no Festival de Tókio em 2005 onde recebeu o prêmio especial do Júri e o de melhor atriz. Lançado comercialmente no Brasil apenas em DVD, o menu privilegia uma montagem que (ainda que também assinada pelo próprio diretor Hans Canosa) deturpa a idéia original que mantinha a tela dividida em duas durante todo o (pequeno) tempo de duração do filme. Mas nos “extras” encontramos a versão original, tal como o filme foi concebido para tela grande.



Quem teve oportunidade de conhecer a primeira versão ainda nos cinemas pode assegurar que, mesmo na telinha menor da TV, vale a pena assistir a edição que mostra duas tomadas simultâneas de cada cena, em ângulos mais ou menos diversos. Ao contrário do que se poderia pensar, este formato não se perde em uma superfície menor, talvez pelo caráter intimista do filme com freqüentes tomadas em grandes planos sobre os rostos dos atores - e muitas outras em plano americano, da cintura para cima.



Pelo contrário, houve quem reclamasse de ter que olhar para duas "janelas" lado a lado, o tempo todo na tela grande das salas de cinema, especialmente quando o espectador estava sentado bem perto da tela. E ainda por cima, lendo as legendas eletrônicas abaixo do enquadramento. De certa forma, este possível incômodo desaparece quando se acompanha o filme em uma superfície menor que permite ser totalmente apreendida pelo campo visual.



Nos “extras” também há uma breve justificativa do diretor sobre a opção da filmagem com duas tomadas simultâneas, coisa que parece não ter sido bem recebida e que fez com que ele também oferecesse a opção de outra montagem em tela única para TV - exceto em dois momentos-chave da história, que perderiam muito da originalidade em uma exibição tradicional. Este formato em tela "única" sofre com excesso de cortes para dar conta do que originalmente eram duas tomadas, retirando a vitalidade, humor e espírito do que foi concebido para ser narrado do modo, digamos, “cubista”.



Não é que um ângulo seja o ângulo “dele” (o personagem masculino que aparece nos créditos como “o Homem” apenas) e a outra tomada seja a visão “dela” (“a Mulher”): a duplicidade de imagem permite breves flash-backs em confronto com o momento presente, rápidas inserções de imaginação de um ou de outro, e até permite uma certa ousadia na cena de sexo – que é bastante pudica Em matéria de exibição dos corpos: só vendo a cena poderão entender o que aparece como ousado. Também é interessante escutar o diretor dizendo (nos "extras") que a tela dividida parece buscar se unir durante quase todo o filme e ver algumas cenas em que os ângulos das tomadas se "encaixam" e se completam como se fosse uma tomada única.



Mesmo com o visual da tela duplicada o filme não deixa de ser intimista: mostra um casal em cena quase o tempo todo. Eles são os únicos personagens realmente significativos para a trama. Mas não se trata de "discutir a relação" de um casal estabelecido – e, sim, de fazer um inventário dos "bons e velhos tempos". Mas foram bons, mesmo? Vale a pena insistir?



A situação que poderia parecer teatral funciona bem cinematograficamente e convence - graças especialmente à surpreendente cumplicidade da dupla Helena Bonham Carter (Clube da Luta, Uma Janela para o Amor) e Aaron Eckhart (Dália Negra, Obrigado por Fumar) nos diálogos ágeis e agridoces. E na linguagem corporal de uma meia-idade menos apolínea do que habitualmente se exibe nas telas. Ambos estão excelentes nas peles de seus personagens.



Não é uma "comédia romântica" dessas com poucos neurônios e não assustará tanto os homens que temem esse tipo de exposição no confronto com a parceira atual ou do passado. O filme é empático com ambos os sexos e com as ilusões de retomada de um “primeiro amor", ironizado em já antiga canção tropicalista como "puro e verdadeiro". Ilusões.



Se a tela dividida em dois durante todo o filme (na versão que só está nos extras do DVD) também dividiu opiniões na crítica internacional, isso não chega a cansar e tem mesmo ótimos momentos muito funcionais, sendo muito mais do que mero enfeite. O tempo de duração do filme é adequado à situação dramática: curto e fino.



Merece ser visto com carinho, apesar de algumas premissas do roteiro que se fizeram necessárias para propiciar o encontro do casal. Mas pode ser tão envolvente que a gente só pensa nisso bem depois do filme já ter acabado. Como um amor do passado que foi bom enquanto durou. Dá para querer mais?



# NOSSO AMOR DO PASSADO (CONVERSATIONS WITH OTHER WOMEN).

EUA, 2005

Direção: HANS CANOSA

Roteiro: GABRIELLE ZEVIN

Fotografia: STEVE YEDLIN

Montagem: HANS CANOSA

ELENCO:AARON ECKHART, HELENA BONHAM CARTER

Duração:84 minutos

Site oficial:http://www.conversationsthemovie.com/

DVD:VIDEO FILMES

Região: 4

Idiomas: Inglês, Português.

Legendas: Português

Extras: versão original do filme para cinema e apresentação do diretor sobre a tela dividida

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