Trilhas


LISBELA E O PRISIONEIRO

16.09.2003
Por Marcelo Janot
BREGA CHIQUE, SOFISTICADO E PESADO

A bela regravação de Caetano Veloso para Você Não Me Ensinou A Te Esquecer, que transformou a música “brega” de Fernando Mendes num hit instantâneo, poderia dar a entender que o restante da trilha sonora de Lisbela e o Prisioneiro também seria, como o filme, um produto deliberadamente calculado para o êxito comercial.



Ledo engano. A balada dor-de-cotovelo cantada por Caetano é só isca para uma trilha eclética mas coerente, de alto nível artístico e conceitual, que faz pouquíssimas concessões comerciais. O trabalho de produção e arranjos de João Falcão (mais conhecido como encenador teatral) e André Moraes consegue a proeza de conferir unidade a um disco que reúne artistas de estilos tão variados quanto Sepultura, Elza Soares, Los Hermanos e Yamandu Costa.



Boa parte das canções segue o mesmo conceito de Você Não Me Ensinou A Te Esquecer: dar novos e sofisticados arranjos a pérolas do cancioneiro popular das décadas de 60 e 70. Nem todas funcionam, como Para o Diabo os Conselhos de Vocês (Carlos Imperial/Nenéo), que virou um rockinho convencional pelo grupo Os Condenados. Por outro lado, Elza Soares dá uma interpretação comovente a Espumas Ao Vento. E Caetano e Jorge Mautner parecem se divertir relendo, em clima de Jovem Guarda, Oh Carol, de Neil Sedaka.



A presença do Sepultura em duas faixas (uma delas com Zé Ramalho) repete a parceria do grupo com o produtor/músico/compositor André Moraes, com quem tinham trabalhado na ótima trilha de No Coração dos Deuses, filme dirigido pelo pai de André, o cineasta Geraldo Moraes. A forma como André adiciona elementos sinfônicos ao peso do som do Sepultura dá contornos épicos às músicas, que no filme encaixam bem nas cenas envolvendo o matador vivido por Marco Nanini. Aliás, a delicadeza das únicas duas (e pequenas) faixas instrumentais deixam a sensação de que o filme merecia um disco só com os scores da dupla.



Outra bola dentro de André Moraes e João Falcão como compositores é a canção O Amor é Filme, que encerra o filme. Ela parece ter sido escrita sob medida para a interpretação catártica de Lirinha, cantor do grupo Cordel do Fogo Encantado. Já a canção-tema Lisbela, composta por Caetano Veloso para a peça, aparece rapidinho no filme, na versão do Los Hermanos, mas ficou melhor gravada pelo Trio Forrozão, que entrou apenas como bonus-track do CD com a trilha. Um ótimo CD, muito menos pop que o filme, mas que graças ao toque de midas de Caetano certamente irá vender como água.



# LISBELA E O PRISIONEIRO

Vários intérpretes

Produção:João Falcão e André Moraes

Gravadora: Natasha/BMG

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