Críticas


INTRODUÇÃO AO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO

28.04.2006
Por Carlos Alberto Mattos
INTRODUÇÃO AO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO

Uma parcela importante da história do cinema brasileiro ainda está por contar. Todas as melhores iniciativas nesse sentido se prenderam à evolução dos filmes de ficção, restando aos documentários não mais que alguns parágrafos “complementares”, notas de pé de página etc. Parte dessa dívida começou a ser saldada recentemente por livros como Documentário no Brasil – Tradição e Transformação, organizado por Francisco Elinaldo Teixeira, e alguns volumes dedicados a realizadores ou movimentos em particular. No entanto, o mais completo levantamento historiográfico, ainda que panorâmico e forçosamente superficial, continuam sendo os verbetes “Documentário Mudo” e “Documentário Sonoro”, de Fernão Ramos, na Enciclopédia do Cinema Brasileiro.



Por tudo isso, é de se louvar o aparecimento de Introdução ao Documentário Brasileiro, de Amir Labaki, pela editora Francis. Embora não se apresente como tal, o livro é uma pequena história dessa modalidade de cinema no Brasil, estruturada a partir de seus nomes e momentos definidores. Originado de um curso do autor no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, o texto tem caráter didático, cronológico e apenas levemente opinativo.



Labaki criou e dirige o Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, que nutriu e ao mesmo tempo se nutriu do grande momento vivido pelos documentários brasileiros desde a retomada. As retrospectivas nacionais já programadas pelo festival constituem, em si, uma bela introdução ao nosso moderno cinema de não-ficção: Geraldo Sarno, Eduardo Escorel, Walter Salles, Globo Repórter e Globo Shell Especial, Jorge Bodanzky.



A intimidade do autor com o seu objeto transparece na fluência com que ele articula as diversas linhas e células criativas, dos pioneiros da era muda até as conjunções com a videoarte e o experimentalismo contemporâneo. Quando qualifica o parentesco entre Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, e Chico Antônio – Herói com Caráter, de Eduardo Escorel, por exemplo, Labaki dá provas de ser um analista atento, que não se contenta em enumerar e acumular informações. Em outras passagens, ele arrisca aproximações mais ousadas, como afiliar os perfis de artistas realizados por Carlos Adriano ao réquiem pós-tropicalista Di-Glauber. É onde a coragem do crítico se sobrepõe à cautela do professor-historiador.



Mesmo em ritmo de travelling veloz, pouco de importante escapa ao radar de Amir Labaki. Uma rara lacuna é o trabalho do libanês Benjamim Abraão no Nordeste dos anos 30, fundamental para a constituição da estética do cangaço no cinema. Percebe-se também uma certa confusão de conceitos entre cinema direto e cinema-verdade – o que, aliás, atinge boa parte da historigrafia mundial dos documentários e não facilita o pleno entendimento das grandes transformações ocorridas nos anos 1960 e seus reflexos posteriores.



No mais, essa Introdução é um serviço inestimável ao estudo do cinema brasileiro. Após a leitura, inevitável será o desejo de ir ou voltar aos filmes. Pensando nisso, Labaki complementou o trabalho com uma lista fundamental de 50 títulos comentados, todos disponíveis no mercado de VHS ou DVD.



Nessa nova ocupação do audiovisual brasileiro pela realidade, os documentários assumiram enorme importância e mesmo prestígio cultural. Rever sua evolução, num livro como esse, é compreender ainda melhor o que hoje se dá.





# INTRODUÇÃO AO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO

Editora Francis

São Paulo, 2006

R$ 16,50


Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário