Críticas


DEITE COMIGO

De: CLEMENT VIRGO
Com: LAUREN LEE SMITH, ERIC BALFOUR, POLLY SHANNON
15.09.2007
Por Luiz Fernando Gallego
NO PEITO DOS DESAFINADOS TAMBÉM BATE UM CORAÇÃO

Este filme se encaixa numa tendência mais recente de filmes que não são produções pornográficas de baixa extração, embora apresentem cenas mais explícitas de órgãos e/ou relações sexuais. O recente Nove Cançõesjá embaralhou mais as coisas. Há um pouco mais de tempo, Patrice Chéreau, em Intimidade, misturou atores de tradição em palcos shakespeareanos com filmagens onde o sexo não teria sido apenas representado. Estes filmes teriam a intenção (ou, às vezes,álibi) de discutir a questão de sexo no ocidente nos dias de hoje: com ou sem amor, com maior ou menor envolvimento da dupla em questão, etc. Todos descendem, direta ou (mais) indiretamente de Império dos Sentidos e de Último tango em Paris. Mas a questão, agora, não é tão dramática ou trágica como no Último Tango nem psicopatológica como no Império dos Sentidos.



O que está em pauta são os relacionamentos contemporâneos onde - mais uma vez - as pesoas não sabem "o lugar certo onde colocar o desejo". E mais ainda temem o envolvimento afetivo. Neste filme, a personagem feminina (que há não tantas décadas atrás provavelmente seria taxada de "ninfomaníaca") diz, com todas as letras, que sabe fazer sexo mas não sabe amar, e que não sabe se relacionar quando está apaixonada. Ao mesmo tempo o filme exibe um ponto de vista feminino de que os homens teriam o "coração" no pênis. Outra personagem diz que gostaria de casar com seu noivo, mas gostaria que ele tivesse o coração que tem e o pênis do ex-namorado com quem permanece transando de vez em quando.



O tema sexo & amor é pertinente e a discussão é boa - talvez eterna, sem uma "conclusão" clara na base do "certo/errado". Mas ainda não foi com este filme que a polêmica recebeu um bom impulso. Há uma boa tentativa de não se deter num espaço fechado da intimodade sexual ao mostrar o mundo familiar dos personagens principais e problemas familiares: os pais dela em separação crepuscular e o pai dele, velhinho e decrépito, precisando dos cuidados físicos do filhão até para se banhar e fazer higiene, ainda que razoavelmente lúcido.



Pena que, um pouco como nos filmes hardcore, tudo fique repetitivo e arrastado, sem um maior dimensionamento além da fenomenologia retratada. Os atores e seus personagens não despertam uma identificação imediata - o que também poderia ser uma boa tentativa - já que Leila (Lauren Lee Smith) não deixa claro que adora fazer sexo acima de tudo, mas a partir de determinado momento - prefere (ou só consegue prazer) com David (Eric Balfour). Mas teme ficar "estável" com um parceiro só. Ele, ao mesmo tempo que exibe peitorais sarados com o qual os espectadores masculinos gostam de se identificar (mesmo que imaginariamente), faz o tipo mais feioso do que o velho Belmondo - com a vantagem que não serviria de modelo para nenhuma estátua de homenagem a Príapo - outra boa tentativa de desfazer os mitos de culto ao corpo e tamanho como documento que vêm grassando no imaginário masculino há séculos e contaminando os ideais das moças, todos perdidos entre a liberdade sexual, o culto ao corpo e a dificuldade e medo de amar.



O velho tema de que em volta dos genitais existem pessoas e suas subjetividades pode soar moralista, mas é inescapável. No peito dos desafinados também bate um coração.



# DEITE COMIGO (Lie With Me)

Canadá, 2005

Direção: CLEMENT VIRGO

Elenco: : LAUREN LEE SMITH, ERIC BALFOUR, POLLY SHANNON

Duração: 92 min.

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