O Balconista II, de Kevin Smith, é o único filme que Clerks II poderia ser, doze anos depois do primeiro. Ou seja, algo ligeiramente patético, quase constrangedor em boa parte do tempo. Humor que não amadureceu, conduzido por uma direção que não evoluiu, a nortear atores que são os mesmos de doze anos atrás, com o mesmo amadorismo.
O que torna o filme interessante, contudo, é que ele tematiza tudo isso. E, nesse sentido, apesar de trazer o mesmo tipo de piadas nerds/escatológicas/sexuais/pueris, e apesar de, como cinema, ser mera ilustração do texto, O Balconista II mostra, sim, que o tempo passou desde que Smith despontou com o primeiro Balconista, hit do circuito independente de 1994. E, nesse tempo que passou, ele tentou a princípio alçar vôos mais altos na temática (e conseguiu; o quase delicado Procura-se Amy e o exacerbado Dogma são as provas), para depois tentar fugir ao molde do cinema pop que discute a sua própria condição. Foi nessa etapa que fracassou miseravelmente (Jersey Girl, em que tentava ascender ao veio principal da indústria, na carona do sucesso do amigo Ben Affleck).
O Balconista II é uma cândida admissão do fracasso e uma terna tomada de consciência dos próprios limites. Kevin Smith abre o coração e diz para o mundo que é só isso o que ele sabe fazer, e que melhor fará em crescer dentro da sua praia, do que tentar se meter a fazer o que não sabe. Ele já fez filmes mais ricos, é fato. Mas O Balconista II, um definitivo passo atrás, talvez tenha sido necessário. Como filme, é pouca coisa. Mas, como carta de intenções e atestado de capacidade, tem a sua significância.
# O BALCONISTA II (CLERKS II)
EUA, 2006
Direção, roteiro e montagem: KEVIN SMITH
Fotografia: DAVID KLEIN
Música: JAMES L. VENABLE
Elenco: BRIAN O´HALLORAN, JEFF ANDERSON, ROSARIO DAWSON, JASON MEWES, KEVIN SMITH, BEN AFFLECK
Duração: 97 minutos
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