Críticas


FRANKIE

De: IRA SACHS
Com: ISABELLE HUPPERT, MARISA TOMEI, JÉRÉMIE RENIER, GREGG KINNEAR, BRENDAN GLEESON
20.02.2020
Por Luiz Fernando Gallego
O bom elenco não consegue salvar o filme de situações artificialmente (mal) construídas no péssimo roteiro.

Com O Amor é estranho (2014) o diretor Ira Sachs ganhou alguma simpatia da crítica e prêmios para filmes independentes, embora o filme seguinte, Melhores Amigos (2016) nos pareça mais satisfatório. Nestas duas realizações, Sachs abordou situações pontuais envolvendo poucos personagens. Já em Frankie ele reúne oito personagens em torno da figura central, interpretada por Isabelle Huppert, e que dá nome ao filme: 'Frankie' é o apelido íntimo da atriz Françoise Crémont que está com os dias contados e programou “férias de família” em Sintra, Portugal. Lá estão seu marido, Jimmy (Brendan Gleeson), o ex-marido Michel (Pascal Greggory), seu filho único do primeiro casamento, Paul (Jérémie Renier), a enteada Sylvia com o marido Ian e a filha adolescente Maya.

Frankie também convidou outra atriz, sua amiga, Ilene (Marisa Tomei), pensando em aproximá-la do filho, mas Ilene aparece com um namorado, Gary (Gregg Kinnear). Estes atores trabalharam nos dois filmes anteriores do diretor em ótimas participações. Marisa Tomei é uma atriz que sempre encanta pela naturalidade com que interpreta suas personagens – e mais uma vez ela se destaca num elenco respeitável. Aliás, parte de seu diálogo com Isabelle Huppert é uma das poucas cenas que valeriam no filme - que se desenrola como uma sequência de duplas dialogando: geralmente diálogos ruins em situações artificialmente construídas pelo péssimo roteiro.

Nada é minimamente convincente e há digressões sobre a família Sylvia/Ian/Maya que nada acrescentam ao todo, exceto talvez pela pobre comparação do marido de Sylvia (angustiado com a ameaça de sua esposa pedir o divórcio) com o marido de Frankie. Jimmy está deprimido com a ameaça real de perder a mulher: um sofre antecipadamente pela morte da amada e outro pela separação. Mas nada se articula claramente neste sentido, e é o espectador que pode ficar imaginando o que é que a situação deste enredo paralelo serve ao filme. Um passeio da adolescente Maya à Praia das Maçãs talvez sirva como propaganda turística de Portugal: seu encontro com um outro jovem é um corpo estranho para o que seria central no filme.

Não dá para escolher se as piores falas estão com Gregg Kinnear ou com Jérémie Renier: nem há nada que eles consigam fazer para minorar a impressão de que os personagens não passam de títeres na cabeça do roteirista e diretor. Surpreende a co-autoria da história ser também assinada por Mauricio Zacharias, brasileiro que já participou dos roteiros de Madame Satã e O Céu de Suely, além dos dois outros filmes já citados do diretor Sachs.

Kinnear se esforça nas cenas em que propõe casamento à namorada  (e Marisa Tomei brilha aqui, mais com as sutis expressões faciais de surpresa e embaraço do que com as suas falas); e também quando propõe uma personagem para Frankie num filme a ser rodado dali a um ano, sem saber que ela não deverá viver até lá. Ele mal conhece Frankie e em trinta segundos já está lhe propondo um filme (primeiro filme a ser dirigido por ele, frustrado de ser apenas "segundo diretor de fotografia"). Só serve para sugerir que o personagem é sem-noção e não percebe nada à sua volta. Ele sai de cena tal como nem deveria ter entrado.

Mas Jérémie Renier tem o pior lance do roteiro quando encontra Tomei pela primeira vez e sai contando um episódio... digamos, bizarro - de sua adolescência. Páreo duro para as palavras de Michel (o ex-marido) que estimula o marido atual a pensar na vida que segue depois que Frankie morrer, estando ela ainda viva e o companheiro antecipando um luto difícil. Quem tem esse ex como amigo não precisa de inimigos.

Um guia turístico local também nada acrescenta à dramaturgia fraquíssima que inventa uma série de caminhadas solitárias para Frankie (mas ela não queria estar perto dos parentes?), dando margem às conversas de cada dois personagens na série de diálogos de que o filme é feito. Embora diga que está tomada de metástases, Frankie começa o filme em topless nadando na piscina do hotel onde todos estão hospedados, caminha sem parar, solitária - ou acompanhada - sofre um desmaio com crise convulsiva e logo em seguida reaparece caminhando numa boa. Não há suspensão da descrença que salve este filme. Nem a fotografia suave, as paisagens bonitas, ou a trilha musical (boa) com intervenções de Debussy e Schubert. Tudo bonitinho para situações mais forçadas do que Frankie forçou na reunião dos demais. A pretensiosa cena final, longa, sem diálogos, numa linda paisagem encerra e enterra o filme de vez.

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Outros comentários
    5011
  • Margareth
    20.02.2020 às 19:09

    Boa noite!Acabei de assistir a Frankie e serei sincera:nem Isabelle Hupert salva o filme !!!!Vi uma crítica recentemente que um filme tendo Darín(o ator) é garantia de satisfação..Eu considerava o mesmo sobre de Isabelle!!!Mas...em Frankie:a maioria dos atores falando um inglês macarrônico,roteiro péssimo,direçao ruim,dramaturgia inexistente!!Saí decepcionada do cinema.Nem Sintra(cidade belíssima que conheço) conseguiu me arrebatar!!Sorte que vi O Jovem Ahmed,que não achei maravilhoso,mas o ator-protagonisra é espetacular!!Concordo,LuizFerrnando com você em gênero,número e grau!!Um abraço.
    • 5012
    • Luiz Fernando Gallego
      21.02.2020 às 02:52

      Olá! Eu penso que cada filme é um filme, resultado de uma soma (ou somatório) de fatores. Um elemento isolado, por mais que tenha um histórico que admiremos, jamais será semore uma garantia prévia. Eu não diria que meus diretores mais admirados sempre atingiram o mesmo resultado excepcional. Nem acho que Darin, Huppert (ou Marisa Tomei que achei a mais adequada neste "Frankie") só tenham feito filmes ótimos. Darin, às vezes tem atuado em "piloto automático" e Huppert já esteve estereotipada em personagens de mulheres frias e distantes. São talentosos e carismáticos, sem dúvida. Mas como diz o final de "Quanto mais quente melhor"... nobody's perfect. Obrigado por ter escrito. Volte sempre.
    5016
  • Maria Eunice da Silva
    08.03.2020 às 19:22

    Decepcionante esse filme! Apesar dos atores bons, um péssimo roteiro! Não convenceu! Não gostei