Críticas


DOIS IRMÃOS – UMA JORNADA FANTÁSTICA

De: DAN SCANLON
06.03.2020
Por Marcelo Janot
O sentimentalismo do filmes da Pixar atinge novo patamar em aventura de cortar o coração.

Ian é um adolescente introspectivo e tristonho, que vive às turras com o irmão mais velho e carrega o trauma de não ter conhecido o pai, que ficou doente e morreu antes que ele nascesse. Um belo dia ele descobre um feitiço capaz de trazer seu pai de volta à vida por apenas 24 horas. Esperançoso, Ian escreve numa folha de papel o que ele pretende fazer ao lado do pai durante esse tempo: jogar bola, conversar, brincar, rir etc.

A sinopse acima, que trata da possibilidade de amenizar a dor da ausência paterna em uma criança por apenas 24 horas, já é um tanto melancólica em se tratando de um filme infantil. Mas ela vai além.

A magia dá errado e só funciona parcialmente: o pai revive apenas da cintura pra baixo, sem a parte de cima do corpo. Ou seja, sem rosto, sem voz, sem braço, sem coração, sem ter como conversar, abraçar e interagir com os filhos. Ian parte desesperado atrás da solução para ter de volta o pai inteiro, carregando amarradas a uma corda as pernas bambas daquele corpo que seria de seu pai. O tempo está passando, e ele sabe que se tudo der certo terá bem menos horas pra fazer com o pai o que o destino lhe privou em toda a vida.

Numa ficção convencional adulta, seria um dramalhão barra pesada. Mas é o novo filme da Pixar, produtora que nos últimos 25 anos liderou o ranking das melhores e mais emocionantes animações. Sentimentalismo sempre foi o seu forte, como podem atestar a franquia “Toy Story”, “Up – Altas Aventuras” e “Viva – A vida é uma festa” (que também lidava com personagens mortos “recuperando” a vida). Mas com “Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica” esse sentimentalismo atingiu um novo patamar.

A ação se passa em uma cidade habitada por elfos como o menino Ian, unicórnios e outras criaturas mitológicas que se comportam como humanos, já que o mundo de fantasia há muito deixou de existir e foi cooptado pela rotina urbano-capitalista. A outrora assustadora Manticora, por exemplo uma mistura de dragão, leão e escorpião, agora comanda um restaurante temático em seu castelo.

O filme flerta com a crítica social, há também uma ligeira menção ao lesbianismo de uma policial, mas seu foco principal é a mensagem de superação das diferenças a fim de reforçar os laços fraternos, pois Ian vive às turras com o irmão mais velho, seu companheiro na “jornada fantástica” para encontrar o diamante que irá restituir a metade perdida do pai.

Como estamos lidando com uma animação com a qualidade técnica da Pixar, os personagens são bem convincentes tanto no traço quanto no comportamento, o roteiro é daqueles que envolve as crianças com um ritmo frenético, visual fascinante e bom humor para agradar também aos adultos, que mais uma vez terão que se segurar para não desabarem em lágrimas com o desfecho de cortar o coração.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário