Críticas


PIRATAS DO CARIBE 3 – NO FIM DO MUNDO

De: GORE VERBINSKI
Com: JOHNNY DEEP, GEOFFREY RUSH, JONATHAN PRYCE, ORLANDO BLOOM, KEIRA KNIGHTLEY
02.06.2007
Por Daniel Schenker
LUXUOSA E FRÁGIL EMBARCAÇÃO CINEMATOGRÁFICA

Não é de hoje que o chamado cinema de entretenimento vem sofrendo com o fascínio pela tecnologia. Cada vez mais superproduzidos, os filmes revelam preocupação em exibir efeitos especiais de ponta ao invés de roteiros minimamente criativos. Só para citar um entre muitos exemplos, o recente 300 , transposição da graphic novel de Frank Miller, resultou em pura overdose. Piratas do Caribe 3 – No Fim do Mundo está inscrito nessa corrente, mesmo que não de modo tão avassalador. O diretor Gore Verbinski apresenta um trabalho cercado de cuidados (destaque especial para a maquiagem), mas prejudicado por excessos (o principal deles: 165 minutos de duração!) tão em voga nos dias de hoje.



Nesta terceira seqüência, os personagens demonstram inquebrantável ímpeto desbravador (“vamos velejar por mares não mapeados”) e procuram ultrapassar a fronteira – intransponível? – da morte. Tomam, porém, o devido cuidado para não padecer numa espécie de limbo entre a vida e a morte que os condenaria “a vagar eternamente entre os dois mundos”. O gancho é interessante, apesar de perder força, a partir de determinado momento, devido ao acúmulo de frases pré-fabricadas do tipo “não basta viver para sempre; o truque é conviver para sempre consigo mesmo” ou “não há causa perdida se restar um único tolo que lute por ela”. Seguindo a cartilha habitual das cenas repletas de clichês, a destemida Elizabeth Swann (interpretada por Keira Knightley, que forma par fotogênico e sem graça com o Will Turner, de Orlando Bloom) não hesita em fazer um discurso edificante embalado por um já esperado fundo musical.



Ainda bem que o debochado e afetado Jack Sparrow ressurge para desconstruir os chavões que ameaçam tomar conta desta luxuosa e, ao mesmo tempo, frágil embarcação cinematográfica. Sparrow é mais uma criação de Johnny Depp, um ator que costuma investir em composições bastante marcadas, a exemplo de suas interpretações em filmes de Tim Burton, como Edward Mãos de Tesoura e, mais recentemente, o remake de A Fantástica Fábrica de Chocolate . O Sparrow, de Depp, e o capitão Barbossa, de Geoffrey Rush, divertem a platéia, mas não têm muita chance neste Piratas do Caribe 3 , que não voa alto no terreno do humor. Basta citar a desgastada passagem supostamente engraçada em que os personagens de Knightley e Bloom celebram seu casamento no meio de uma incessante batalha. Diante de todos os percalços, resta ao espectador apreciar uma variada alternância de locações e cenários – os ambientes abafados de Cingapura, os porões claustrofóbicos dos navios, a amplidão do oceano e a paisagem desértica onde Jack Sparrow reaparece confinado, “um lugar esquecido por Deus”, que pode evocar, muito longinqüamente, a delimitação espacial sugerida em algumas obras de Samuel Beckett, dramaturgo cujo sobrenome é partilhado por um dos vilões nesta aventura nada econômica de Verbinski.



# PIRATAS DO CARIBE 3 – NO FIM DO MUNDO (PIRATES OF THE CARIBBEAN – AT WORLDS END)

EUA, 2007

Direção: GORE VERBINSKI

Roteiro: TED ELLIOT, TERRY ROSSIO

Produção: JERRY BRUCKHEIMER

Música: HANS ZIMMER

Fotografia: DARIUSZ WOLSKI

Direção de Arte: JOHN DEXTER

Figurino: LIZ DANN, PENNY ROSE

Efeitos Especiais: INDUSTRIAL LIGHT & MAGIC

Elenco: JOHNNY DEPP, GEOFFREY RUSH, JONATHAN PRYCE, ORLANDO BLOOM, KEIRA KNIGHTLEY

Duração: 165 minutos

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