Dá pra desconfiar de filmes que, logo na abertura, estampam “BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL” em letras garrafais. Parece que o que eles têm a dizer não é suficiente para impressionar o espectador, então se valem desse recurso para reforçar a idéia de que a platéia deve acreditar naquilo, quando na verdade o problema não é o QUE está sendo contado, e sim COMO está sendo contado. O bom filme é aquele em que, ao final da projeção, você acredita no que viu, não importando se a história é real ou absurdamente ficcional. A arte de saber contá-la é o que distingue o bom cineasta dos medíocres.
Dessa forma, o aviso de “baseado em história real” seria totalmente dispensável em Zodíaco, por que o diretor David Fincher tem em mãos uma boa história e sabe como contá-la. Mas nesse caso o aviso se justifica por uma questão ética: ao dramatizar o caso do serial killer que, no final da década de 60 nos EUA, mandava cartas para os jornais e para a polícia após cometer seus crimes, Fincher não cede às armadilhas do thriller hollywoodiano. Ao se manter fiel aos fatos, evita os clichês e faz um filme diferente na forma e verdadeiro no conteúdo.
Trata-se de um filme sobre um serial killer em que desvendar o mistério que envolve o assassino é apenas o pretexto para que se observe o que está ao redor da investigação, ao seja, as relações humanas, as obsessões e motivações pessoais, o papel da mídia e da polícia.
Fincher acertou em cheio na recriação daquele fervilhante momento que a sociedade americana, em especial São Francisco, vivia na virada dos anos 60 para os 70. A toda hora surge alguma referência, dos hippies da Haight Street ao filme Dirty Harry, passando pelo concerto dos Rolling Stones em Altamond. Os cenários, as cores frias, os figurinos e a estrutura do roteiro em muito lembram grandes filmes policiais do cinema americano dos anos 70.
O diretor dá prova de amadurecimento na condução do filme, ao optar pela discrição que acaba sendo mais eficiente como prova de autoralidade do que o exibicionismo estilístico de Seven e principalmente de Clube da Luta, os filmes que o projetaram. Melhor para o elenco, que brilha em atuações espetaculares, principalmente de Robert Downey Jr., Mark Ruffalo, Elias Koteas e Jake Gyllenhaal.
A nota dissonante fica por conta da legendagem brasileira: no encerramento do filme aparece aquele tradicional crédito dizendo que fim levou cada personagem. Só que o tradutor brasileiro só legendou parte deles. Quem quiser, portanto, saber o que aconteceu com o jornalista Paul Avery, vai ter que recorrer ao Google ou à Wikipedia...
# ZODÍACO (ZODIAC)
EUA, 2007
Direção: DAVID FINCHER
Roteiro: JAMES VANDERBILT
Fotografia: HARRIS SAVIDES
Edição: ANGUS WALL
Música: DAVID SHIRE
Elenco: JAKE GYLLENHAAL, ROBERT DOWNEY JR., MARK RUFFALO, ELIAS KOTEAS, CHLOE SEVIGNY
Duração: 158 min.