Holanda/Portugal/Espanha, 2002. 105min. Leg.Eletr. Português.
De George Sluizer
Com: Federico Luppi, Icíar Bollaín, Gabino Diego, Ana Padrão, Diogo Infante.
Circuito: Dia 3 (Estação Botafogo 1, 21h30), dia 4 (Estação Barra Point 1,19h), dia 5 (Estação Ipanema 2, 17h) , dia 7 ( Estação Botafogo 1, 12h).
Adaptado pelo diretor George Sluizer, Yvete Biro e o próprio autor português José Saramago para o cinema, A Jangada de Pedra se baseia num romance do prêmio nobel escrito em 1986. Nada fácil transpor Saramago para o cinema, sua marca é falar da linguagem e da arte ocidental com ironia - isto tudo em forma de fábula. No caso desta história, seu foco é a cultura ibérica, pois ela começa com eventos sobrenaturais acontecendo em vilas e aldeias de Portugal e Espanha. Estes eventos são vivenciados por cinco personagens: Joana, Pedro, Maria, José e Joaquim. Eles pressentem um grande cataclisma: uma rachadura nos Pirineus, que leva a penísula ibérica a se separar do resto da Europa! Portugal e Espanha viram a enorme jangada de pedra do título e saem vagando pelos oceanos.
O fenômeno é comentado com humor ao longo de todo o filme: os americanos tentam “colar” a fenda; o presidente português renuncia quando imagina que irá se chocar com os Açores; mas o melhor de todas as constatações ocorre quando os cinco iniciados atingem o cume dos Pirineus. O deboche sobre o isolamento da cultura ibérica ganha seu lado lírico com os personagens. Primeiro, na maneira como são “escolhidos”: Joana, por exemplo, através de uma brincadeira de criança; já José vira o rei dos passarinhos. Guiados por um cachorro sem nome, que a tudo assiste, eles se reúnem e decidem descobrir o que está acontecendo, transformando-se em andarilhos.
Em sua trajetória errante – por locações incríveis - , os cinco lembram Dom Quixote de la Mancha e até mesmo Os Saltimbancos, como bem quer o metafísico Saramago. Por isto o filme deve se transformar em mil outros, caso leia-se o livro. Jangada de Pedra é sobretudo um ato de coragem de Sluizer (do tenso O Silêncio do Lago , produtor de Fitzcarraldo), que deu uma forma à riqueza de palavras do delirante autor.