Críticas


MENSAGEIROS, OS

De: OXIDE PANG CHUNG e DANNY PANG
Com: KRISTEN STEWART, DYLAN McDERMOTT, PENELOPE ANN MILLER
14.09.2007
Por Luiz Fernando Gallego
COMPULSÃO (SEQÜELADA) À REPETIÇÃO

Filmes de terror da linhagem “casa mal-assombrada” interessam quase que apenas aos fãs que cultuam o gênero, sendo - talvez - uma tarefa um tanto árdua tentar inovar em um time que estaria ganhando. Mas está mesmo ganhando? Só se for em bilheteria... E será que não daria, pelo menos, para não repetir - até a náusea - os mesmos clichês dos enredos (melhor dizer “do único e mesmo enredo”) que se escolheu para perpetuar nos últimos anos como um fantasma que se recusa a morrer?



A suposta “criatividade” de cada “clone” que é lançado nesta área fica cada vez mais por conta de truques estilosos de ambientação, criação de “clima” pelo capricho na fotografia e abuso de efeitos especiais visuais - e sonoros – visando sacudir o espectador da poltrona a cada cinco ou dez minutos. Tudo isso para repetir uma same old story repleta de barulhos e de fúria que não traz nada, nada de novo. E é nisto que se resume Os Mensageiros.



Poderíamos arriscar duas hipóteses para a enorme preguiça dos roteiristas (e são três, neste caso!), produtores (como o experiente Sam Raimi) e seus diretores, os irmãos Pang, em seu primeiro filme em língua inglesa.



Uma hipótese se refere à platéia jovem, que deve ser a quem estes filmes são prioritariamente destinados: não é de graça que a personagem central é uma adolescente (que andou aprontando com o carro dos pais) e que vai ser com quem se espera que o público se identifique no desamparo: tanto frente aos adultos reais que a criticam, como em relação aos eventos sobrenaturais que só ela - e o irmãozinho mudo - parecem presenciar.



Este público adolescente se renova constantemente e pode ser que os mais velhos desistam de ver “de novo” o que parece ser sempre o mesmo velho filme. Já a nova turma que está chegando ainda não se cansou de ver uma-família-com-problemas que se muda para uma casa-afastada-dos-grandes-centros, casa esta com a cara de casa-da-Família-Adams, só-que-zangada, ou seja, com um aspecto-sinistro-que-não-engana-ninguém (exceto à família protagonista do filme) e onde, obviamente, residem fantasmas-em-busca-de-vingança que perturbam os incautos novos moradores... E enchem a paciência de quem tem esperado encontrar algo original em filmes do gênero, qualidade de Os Outros (2001), de Alejandro Amenábar, que subverteu a expectativa consagrada em filmes de terror com crianças desde o clássico de quarenta anos antes, Os Inocentes, de Jack Clayton. Que, por sua vez, era baseado em um conto genial de Henry James, a obra-prima, A outra Volta do Parafuso.



No entanto, quem esperou encontrar algum sopro de inventividade na enxurrada de filmes de horror recentes tem esperado sentado nas poltronas dos cinemas e mesmo assim vem se cansando... O único acréscimo, já nem tão recente, veio dos fantasminhas maldosos de Ringu, o japonês, que é de quase dez anos atrás, e que teve continuações, plágios e mínimas "variações", como ocorrem aqui. Por sua vez, famílias que não vêem filmes de terror vêm cismando de morar em mansões com a maior pinta de amaldiçoadas desde Amytville (de 1979!) com suas inúmeras “seqüelas” - numa tradução “selvagem” para o termo sequels (continuações), onde o que vale aqui é a conotação em nossa língua para o falso cognato: a enorme maioria destes filmes parece mesmo coisa de “seqüelado”...



A outra hipótese diz respeito ao prazer de levar sustos no cinema, tema já apontado há décadas, dentre outros, por Hitchcock (cujo clássico Os Pássaros é lamentavelmente “citado”/copiado em algumas cenas neste Mensageiros). Curtir levar sustos deve ser algo com uma explicação análoga ao prazer que muitos sentem em esportes radicais, passar por emoções fortes com algum controle sobre os riscos, montanhas russas, enfim: fissura com a adrenalina rolando no sangue (de preferência, com a adrenalina e o sangue mantido dentro das veias, é claro). O cinema ofereceria a vantagem de ser virtual, mantendo os riscos reais bem longe do espectador que pode, sentadinho em sua poltrona, passar por perigos e emoções vicariantes que não o atingem diretamente de fato.



Mas também vale lembrar a teoria freudiana de que podemos auferir mais prazeres inconscientes do que imaginamos: afinal, não deve ser apenas para satisfazer nossas inclinações sádicas reprimidas na vida fora das telas que tais filmes oferecem cenas escatológicas, de enorme violência gratuita (e muitas vezes asquerosas): afinal, o que filmes como este sugerem é que haveria mesmo vida após a morte e que a justiça tarda, mas não falha, mesmo que venha do além. Isso deve ser tão importante - e até mais - do que as fugazes sensações “adrenalínicas” dos sustos em intervalos programados. Até o ponto em que a mínima coerência – mesmo dentro da diegese fantástica – fica de fora. O "consolo" é de que a morte não seria o fim: e deve ter muita gente que prefira viver para sempre, mesmo que seja como alma penada. Pediríamos a estes que talvez o consigam para não cansarem a paciência de quem tolera a transitoriedade de tudo e torce para que estes filmes também acabem um dia. De preferência, sem "segunda chance" de nos cansarem com sua compulsão à repetição.



# OS MENSAGEIROS THE MESSENGERS

EUA/Canadá, 2007

Direção: OXIDE PANG CHUNG e DANNY PANG

Roteiro: MARK WHWATON, baseado em história de TODD FARMER.

Fotografia: DAVID GEDDES

Montagem: JOHN AXELRAD, ARMEN MINASIAN e TIM MIRKOVICH

Direção de Arte KEN WATKINS

Música: JOSEPH LoDUCA

Elenco: KRISTEN STEWART, DYLAN McDERMOTT, PENELOPE ANN MILLER, JOHN CORBETT.

Duração: 84 minutos

Site oficial: clique aqui

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