Críticas


MASSAI BRANCA, A

De: HERMINE HUNTGEBURTH
Com: NINA HOSS, JACKY IDO, KATJA FLINT
22.09.2007
Por Carlos Alberto Mattos
EU, UMA BRANCA

O tempo do colonialismo já passou, mas o olhar colonialista no cinema tomou outras formas. A atitude européia continua romântica no impulso, mas é derrotada no resultado. Em vez de gerar “aperfeiçoamentos” nas comunidades primitivas, a intenção iluminista vai provocar curtos-circuitos na própria consciência desenvolvida.



Tudo isso pode ser ilustrado pelo novelesco A Massai Branca, produção alemã baseada no livro autobiográfico de Corinne Hofmann, uma mulher de negócios que trocou sua vida na Suíça pela companhia de um guerreiro massai nos confins do Quênia. No princípio do filme, as coisas se encaminham com ares de fantasia romântica alemã – aquela atração pelo belo natural que moveu de Von Humboldt a Leni Riefenstahl. Bastam um olhar e uma aproximação para Carola Lehman (Nina Hoss) mandar o namorado de volta e decidir eternizar suas férias ao lado do majestoso Lemalian (Jacky Ido).



Não estão em jogo preconceitos ou escalas de “superioridade”, como nos velhos filmes colonialistas. Mas o ponto-de-vista do filme é o de Carola – e por extensão, o nosso. O desenho das cenas é feito para enfatizar, entre outras coisas, o contraste da pele branca da moça com o mar de negros de Mombasa ou Nairóbi. As posturas de Lemalian destacam seu porte e elegância quase irreais, de modo a “justificar” a súbita paixão de Carola. Vemos e (in)compreendemos os africanos com as mesmas projeções e limitações que ela.



O idílio agreste é logo submetido a constantes choques culturais. Depois de certo tempo, Carola não se contenta apenas em abanar com a mão os insetos, a poeira e os maus-cheiros da aldeia massai. Passa também a se insurgir contra as superstições, a corrupção, a culinária pobre, o sexo animalesco e os acessos de ciúme do marido. Se já claudicava como heroína romântica, ela vai tropeçar fatalmente como reformadora frustrada, superlotando o filme de clichês dramáticos suficientes para toda uma minissérie.



O filme é longo, povoado de coadjuvantes estereotipados, coincidências de folhetim e diálogos de doer os ouvidos. “Podemos viver com esses homens, mas nunca compreendê-los”, diz a certo momento uma alemã que havia tomado o mesmo caminho de Carola anteriormente. Mais que tentar compreender, a massai branca quer ser compreendida. Dura tarefa num mundo narrado por perspectiva andrófoba. Talvez para Corinne Hofmann e para a diretora Hermine Huntgeburth, não importam a cor da pele ou a cultura do continente, os homens serão sempre decepcionantes.





A MASSAI BRANCA (DIE WEISSE MASSAI)

Alemanha, 2005

Direção:
HERMINE HUNTGEBURTH

Roteiro: JOHANNES W. BETZ, baseado no livro de CORINNE HOFMANN

Fotografia: MARTIN LANGER

Montagem: EVA SCHNARE

Música: NIKI REISER

Elenco: NINA HOSS, JACKY IDO, KATJA FLINT, ANTONIO PRESTER

Duração: 131 minutos

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