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ROUND 6

De: DONG-HYUK HWANG
Com: JUNG-JAE LEE, HAE-SOO PARK, GREG CHUN
25.10.2021
Por Marcelo Janot
Uma metáfora da falta de empatia no mundo pandêmico

A crise econômica leva quase 500 sul-coreanos a participarem de um jogo misterioso em um ilha remota, que tem como recompensa um valor milionário. A primeira rodada da brincadeira revela o que as regras ocultavam: quem não atingir a meta é sumariamente assassinado pelos organizadores, destino de mais da metade dos participantes já na etapa inicial.

Quando a grande maioria aceita, por livre e espontânea vontade, continuar o jogo, mesmo após testemunhar aquelas mortes brutais, enxergamos ROUND 6 como uma metáfora da falta de empatia no mundo pandêmico. “A economia não pode parar”, “todo mundo vai mesmo morrer um dia”, parecem pensar aquelas pessoas, em discurso alinhado com os negacionistas da Covid-19.

Talvez esteja aí o que faz da série bem mais que um mero entretenimento como “Jogos Vorazes” e algo do gênero. Naquele universo regido por supostas regras “democráticas”, a deterioração das relações sociais, a banalização da morte e o incentivo à barbárie mostram o capitalismo putrefato em seu momento mais dramático.

Uma bola gigantesca vai se enchendo de dinheiro à medida em que os participantes são “eliminados” – quanto menos gente, mais sobra pra quem fica. Ora lembro de Silvio Santos vendendo ilusões com seus “baús da felicidade” ou jogando aviõezinhos de dinheiro no auditório; ora enxergo nos patéticos espectadores “VIPs” os patrocinadores do BBB rindo de orelha a orelha e tendo orgasmos milionários na sala do Boninho enquanto o pau come dentro da casa.

Não sei se o criador e diretor da série, Hwang Dong-hyeuk, é fã de Stanley Kubrick. Mas não me parece aleatória a escolha da valsa “Danúbio Azul” para ilustrar musicalmente o momento em que os participantes sobem e descem escadas naquele ambiente que remete ao futuro incerto de “2001”, nem as máscaras vestidas pelos participantes da orgia milionária de “De Olhos Bem Fechados”. Sem o mesmo talento de Kubrick na criação de atmosferas, ele sabe como enxergar a complexidade do ser humano pelo viés do entretenimento em um mundo cada vez mais violento e infantilizado.

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