Moacyr Góes tem como poucos uma carreira marcada por contrastes. Nos anos 80, era visto como legítimo representante de um promissor teatro aberto à experimentação. Adaptou com brilho obras de Brecht ( Baal ), Guelderode ( A escola de bufões ) e Strindberg ( Epifanias ). Aos poucos, o diretor começou a migrar para a televisão e o cinema, onde passou a ocupar um lugar imprevisto, a julgar por seu histórico: o de porta-voz do entretenimento popularesco. Fez filmes para Xuxa, transportou sucessos comerciais do teatro para a tela grande ( Trair e coçar...é só começar ) e investiu em adaptações pouco cuidadosas ( Dom ).
Apesar do resultado modesto, O homem que desafiou o diabo representa um avanço de Moacyr Góes – que continua fazendo cinema ao gosto do grande público, mas não completamente sintonizado com as imediatas tendências mercadológicas do momento. Tanto que o diretor recupera aqui com certo vigor a comédia erótica, mistura de gêneros que, apesar de ter rendido produções de sucesso em décadas passadas, deixou de ser valorizada no cinema brasileiro.
O começo dessa adaptação do romance As pelejas de Ojuara , de Nei Leandro de Castro, é promissor. Marcos Palmeira encarna muito bem a figura do herói malicioso e Lívia Falcão confirma suas qualidades de comediante como uma mulher autoritária e fogosa. Helder Vasconcelos também marca presença segura na pele do diabo. O humor, porém, não demora a perder força, em boa parte devido aos fracos desempenhos de Flávia Alessandra e Fernanda Paes Leme.
# O HOMEM QUE DESAFIOU O DIABO
Brasil, 2007
Direção: MOACYR GÓES
Produção: LUIZ CARLOS BARRETO, LUCY BARRETO, PAULA BARRETO, FÁBIO BARRETO
Elenco: MARCOS PALMEIRA, LÍVIA FALCÃO, HELDER VASCONCELOS
Duração: 106 minutos