Em poucas horas de ação simultânea numa universidade da Califórnia, num gabinete do Congresso em Washington e numa montanha nevada do Afeganistão, Leões e Cordeiros sintetiza todo um debate que está afetando corações e mentes nos EUA. Robert Redford não está ali para brincadeiras. Não faz rodeios de dramaturgia nem enfeita o discurso. Vai direto ao ponto. Sua consciência liberal precisa se exprimir de maneira rápida e crua.
Seis anos depois do 11 de setembro, um grande mal-estar domina o país. Os ideólogos da guerra estão no comando. A juventude está apática. A imprensa, em crise de consciência. E os “garotos” continuam morrendo no front. Cada um dos três blocos do filme veicula uma parte dessa equação. O próprio Redford vive um professor de Ciências Políticas, veterano do Vietnã, que tenta convencer um estudante a colocar sua inteligência a serviço de uma boa causa. O desinteresse dos jovens pela política – mas não eventualmente pela sua face bélica, aventureira – abre espaço para as investidas de falcões como o senador republicano vivido por Tom Cruise, que impõem uma visão do mundo em preto-e-branco.
Esse “Kennedy republicano”, por sua vez, troca idéias com a experimentada repórter interpretada por Meryl Streep a respeito de uma nova estratégia militar para o Afeganistão. Ela personifica a consciência culpada da imprensa que apoiou Bush no início e agora se vê cobrada e desacreditada. Se estivéssemos num chat múltiplo, esta seria, digamos, a sala das decisões, enquanto a universidade seria a do background.
Repetir os erros do passado ou acreditar que a História se move e os equívocos de ontem podem ser os acertos de hoje – eis o dilema que Redford disseca nessas duas tensas conversas separadas por centenas de quilômetros. Ao mesmo tempo, mais longe ainda, dois marines feridos aguardam resgate ou morte num pico do Afeganistão. Esta seria, então, a sala do front. As relações entre esses rapazes, o professor e o senador, numa cadeia de repercussões distantes no tempo e no espaço, justificam a leve arquitetura dramática montada pelo roteiro de Matthew Michael Carnahan.
Desde cedo fica claro que os três pólos de ação têm um caráter eminentemente funcional, auxiliados por uns poucos flashbacks. Na verdade, o que ouvimos são lances de um debate nacional transformados em diálogos. Os personagens só existem como veículos de suas posições na controvérsia – o que, se por um lado clareia a análise política, por outro limita a densidade humana do argumento e sublinha uma certa vocação teatral (efeitos indissociados, pois não quero aqui insinuar que o teatro seja menos humano que o cinema).
Terceiro filme dirigido por Redford em quase dez anos, Leões e Cordeiros é mais – ou menos – que um exercício de vaidade autoral. O engajamento do diretor e de seus superastros num filme “pequeno”, fragilizado por inconsistências temporais (toda uma ação militar é deflagrada e concluída durante as conversas na universidade e no Congresso), só reforça seu caráter de reflexão política. Talvez demasiado nua, mas pelo menos despida de meias-palavras e de disfarces do entretenimento.
LEÕES E CORDEIROS (LIONS FOR LAMBS)
EUA, 2007
Direção: ROBERT REDFORD
Roteiro: MATTHEW MICHAEL CARNAHAN
Fotografia: PHILIPPE ROUSSELOT
Montagem: JOE HUTSHING
Música: MARK ISHAM
Elenco: ROBERT REDFORD, MERYL STREEP, TOM CRUISE, MICHAEL PEÑA, ANDREW GARFIELD, DEREK LUKE
Site oficial: clique aqui
(No site oficial, você pode incluir a causa que considera mais importante)