Críticas


NOSSO AMIGO EXTRAORDINÁRIO

De: Marc Turtletaub
Com: Ben Kingsley, Harriet Sansom Harris, Jane Curtin
07.09.2023
Por Marcelo Janot
Uma fábula delicada com o ET mais sem carisma do cinema

Jules, o “Nosso amigo extraordinário” do título brasileiro, não tem muita coisa de extraordinária. Na verdade, ele é um dos extraterrestres mais sem graça e insossos que o cinema já produziu. Felizmente, apesar de dar nome ao filme de Marc Turtletaub (produtor de “Pequena Miss Sunshine”), o protagonismo não está nele, mas sim em Milton (Ben Kingsley), o viúvo que uma noite se depara com uma nave espacial caída no seu quintal. Em uma cidadezinha na Pensilvânia onde idosos vivem confortavelmente, mas têm pouco o que fazer, a solidão pode ser mais assustadora que uma visita alienígena.

É disso que fala esta fábula, que tem um certo parentesco com “Cocoon” (1985), o filme de Ron Howard que mostrava moradores de uma casa de repouso revitalizados por mergulhos numa piscina recheada de casulos extraterrestres. Ninguém acredita em Milton quando ele tenta alertar seus vizinhos e a polícia sobre uma nave espacial que destruiu sua premiada plantação de azaleias. Pelo contrário: para sua filha, isso é mais um alerta de senilidade, de que ele não poderia mais viver sozinho.

É a cumplicidade de Sandy (Harriet Harris) e Joyce (Jane Curtin), que junto a Milton tentam ajudar Jules a voltar para casa, que garante os momentos divertidos e delicados do filme. Seu “segredo” é um antídoto contra o tédio e a indiferença dos que os rodeiam, mostrando o efeito positivo que um fato novo pode trazer, mesmo que seja a companhia de um ET caladão, de olhar perdido e zero carisma.



(publicado originalmente em O Globo 7.9.23)


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