Poeta de Sete Faces , docudrama de Paulo Thiago para comemorar o centenário do nascimento de Drummond, flui como um sarau, uma festa-homenagem. Atores, corais, músicos, balés, especialistas na obra do poeta e imagens de vários tipos parecem ter sido convidados a compor uma curiosa colagem. Nesta escolha o diretor foi bem pessoal, sem ser experimental. Apesar de o filme ter se originado de dois programas de 45 minutos feitos para a TV, Poeta de Sete Faces , tem um roteiro definido, que persegue a idéia de mostrar a transformação da obra do autor ao longo dos anos _ e seu constante olhar ferino sobre a realidade. Por isto o título baseado num poema publicado em sua estréia, em 1930 , usado como pretexto para que o diretor divida o legado de Drummond em fases. Algumas destas fases estão apresentadas de forma mais sedutora que outras.
Chama a atenção o incrível acervo de imagens pessoais e públicas estas últimas mostrando a participação do poeta-chefe-de-gabinete de Gustavo Capanema na ditadura Vargas, entremeadas por uma lúcida entrevista com o filósofo Leandro Konder. Também é feliz a idéia de, na fase pós-68 que Paulo Thiago chama de “memorialista”, fazer atores desconhecidos recitarem versos do livro Boitempo em meio às ruas de Itabira, para o Drummond de ficção vivido por Carlos Gregório. Quadrilha também é recriado de forma divertida e os versos de Morte do Leiteiro se transformaram num curta-metragem sensível dentro do próprio filme.
Paulo José, Paulo Autran e Ana Beatriz interpretam com paixão suas poesias, que, em todo o filme, são de estilos diversos, sempre procurando fugir do lugar comum. Quanto aos poemas musicados, interpretados em balés ou recitais, quanto mais simples a forma que lhes é dada, melhor o resultado. Neste aspecto, Samuel Rosa (do Skank) e Milton Nascimento ganham de longe de Maria Lúcia Godoy ou do Coral Calíope interpretando o E agora, José? , musicado por Villa-Lobos. Drummond falava do cotidiano, e sua obra em nada combina com interpretações barrocas.
Mas mesmo dentro desta irregularidade estética, em que momentos de bom gosto se alternam a outros nem tanto, Paulo Thiago dribla muito bem a necessidade de fazer cronologia. Os depoimentos de especialistas como Affonso Romano de SantAnna, Benedito Nunes e Luis Costa Lima comentam as imagens com frases marcantes e pontuais. Destaque para os emocionantes depoimentos de Ferreira Gullar e Adélia Prado, que destrincha a natureza divina dos poetas concentrada no iluminado Drummond. Um filme-homenagem para o poeta mineiro é pouco. Ele merecia, no mínimo, mais uns três, feitos por diferentes diretores.
# POETA DE SETE FACES
Brasil, 2001
Direção e Roteiro: PAULO THIAGO
Produção: GLÁUCIA CAMARGOS
Fotografia: GUY GONÇALVES
Montagem: CARLOS BRAJSBLAT
Elenco: CARLOS GREGÓRIO, ANA BEATRIZ NOGUEIRA, LUCIANA BRAGA, PAULO JOSÉ, PAULO AUTRAN, ZEZÉ MOTTA, OTHON BASTOS, ANTONIO CALLONI, CLAUDIO MAMBERTI, NILDO PARENTE, CRISTINA PEREIRA
Narração: JÚLIA LEMMERTZ E ANTONIO GRASSI
Duração: 94min.
Site: www.carlosdrummonddofilme.com.br