Críticas


MULHER INVISÍVEL, A

De: CLAUDIO TORRES
Com: SELTON MELLO, LUANA PIOVANI, VLADIMIR BRICHTA, FERNANDA TORRES, MARIA MANOELLA
07.06.2009
Por Daniel Schenker
MULHER NOTA 0001

Não é difícil descobrir de onde vem a sensação de déjà vu que atravessa A Mulher Invisível . A história do sujeito às voltas com uma mulher perfeita que, porém, só existe na sua imaginação remete a Mulher Nota 1000 , uma das cultuadas comédias dos anos 80 assinadas por John Hughes, que marcaria a década com outros badalados filmes de juventude, como Clube dos Cinco e, principalmente, Curtindo a Vida Adoidado . Mas Claudio Torres – que segue investindo no humor depois do elogiado Redentor e do insatisfatório A Mulher do meu Amigo – carece de frescor nesse novo(?) exemplar.



Além de revisitar um mote já explorado, o cineasta investe num roteiro algo conservador ao dar vazão a falas propositadamente machistas para, no final, pregar o amor romântico. A Mulher Invisível também louva a realidade em detrimento da ilusão, conclusão ponderada, mas atada a convenções. A falta de ousadia se estende à escalação do elenco. Selton Mello figura como aposta certa. Se por um lado não se pode negar sua competência, por outro não há como deixar de notar a repetição de recursos para extrair humor, como o uso de determinadas entonações vocais. Luana Piovani empresta sua beleza à mulher invisível. Vladimir Brichta, que comprovou ser bom comediante em incursões anteriores, parece resolver sem dificuldades a figura estereotipada do amigo com medo de se comprometer. Maria Manoella é desperdiçada numa personagem cuja graça vai se perdendo à medida que a projeção avança. E Fernanda Torres, mesmo escalada para um papel de contornos previsíveis, é quem aproveita melhor as tiradas embutidas no roteiro. Outros atores, que costumam trabalhar com o diretor (como o ótimo Lucio Mauro, em Redentor , e Maria Luísa Mendonça, em A Mulher do meu Amigo ), não encontram nessa empreitada muitas oportunidades de evolução.



Desde o primeiro instante, A Mulher Invisível pisca para a plateia, com o protagonista interpretado por Selton Mello olhando para a câmera e chamando o espectador de “você”. Bem mais adiante, Torres tangencia um registro menos histriônico. Eventuais ligações podem ser traçadas com Talvez , o bom texto de Álamo Facó, centrado num rapaz que projeta uma realidade paralela ao ser abandonado pela namorada, encenado como uma das autopeças que marcaram a comemoração dos 20 anos da Cia. dos Atores, de Enrique Diaz. Aqui, como lá, o círculo viciado e claustrofóbico da obsessão faz com que o som interno seja bem mais ruidoso do que o som ambiente. Ainda assim, Claudio Torres eleva o Rio de Janeiro – um certo Rio, do circuito Leblon-Ipanema-Copacabana – ao status de importante personagem.



# MULHER NOTA 1000

Brasil, 2009

Direção e Roteiro: CLAUDIO TORRES

Produção: LUIZ NORONHA, ELENA SOÁREZ

Música: LUCA RAELE, MAURÍCIO TAGLIARI

Fotografia: RALPH STRELOW

Montagem: SERGIO MEKLER

Elenco: SELTON MELLO, LUANA PIOVANI, VLADIMIR BRICHTA, FERNANDA TORRES, MARIA MANOELLA

Duração: 105 minutos







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