Críticas


TRAMA INTERNACIONAL

De: TOM TYKWER
Com: CLIVE OWEN, NAOMI WATTS, ARMIN MUELLER-STAHL, ULRICH THOMSEN e MICHEL VOLETTI
18.06.2009
Por Leonardo Luiz Ferreira
O MISTÉRIO DO THRILLER INTELIGENTE

Um close-up do rosto de Louis Salinger (Clive Owen) abre e encerra Trama Internacional, pois é em seu semblante que a ação dramática transcorre na narrativa em meio a sua busca por justiça contra uma grande instituição financeira. É nesse terreno do thriller, com pitadas de política, que o filme se insere em um grande número de produções atuais, capitaneadas pelo êxito de A Identidade Bourne, que buscam inspiração na realidade para providenciarem um entretenimento distante da espetacularização pura e simples ou da fantasia. Esse procedimento também acometeu o último filme do James Bond, Quantum of Solace (2008), de Marc Forster, que está entre os piores do agente secreto. Porque não adianta criar uma motivação para o personagem e não trabalhar o artesanato cinematográfico. No caso de Tykwer, há uma eficiência de gênero, mas que esbarra em suas limitações como realizador, que por fim não permite distingui-lo de inúmeros outros diretores e do cumprimento de um expediente para um grande estúdio.



Corra Lola, Corra (1998) surge no cenário de cinema como uma obra que condensa, em sua pouca duração, as características positivas e negativas do pós-modernismo em termos de linguagem audiovisual: aceleração de imagens; ritmo vertiginoso; montagem inspirada em videoclipes; reviravoltas na trama; visual estilizado; e a aproximação com a história em quadrinhos e desenhos animados. Ou seja, conjuga a cultura pop em um liquidificador de referências. Apesar da experiência não ter sido repetida pelo realizador, ela delimita seu trabalho, com preocupações maiores relativas à forma do que ao conteúdo. E, estranhamente, não dá para identificar o cineasta por trás de seus filmes posteriores, sempre em desacordo com a escolha do material e a maneira de filmá-lo - o que resulta na impessoalidade de Paraíso (2002), que reverencia Kieslowski sem nunca compreender o sentido do cinema do polonês, e na interpretação rasteira de Perfume (2006), baseado no romance de Patrick Süskind. Para não repetir os mesmos erros, Tykwer busca em Trama Internacional situar demais a trama, com inúmeras locações para reforçarem apenas o título original do enredo que envolve inúmeros países, e fazer com que o público compreenda o texto e as entrelinhas do roteiro, que esbarra na ingenuidade, como o olhar de Salinger ao ser surpreendido com a corrupção e impunidade, e em inúmeros furos para tornarem funcionais às ações.



A primeira parte de Trama Internacional traz uma decupagem problemática das cenas, que são realçadas por uma montagem inadequada: os planos de diálogos são repletos de cortes desnecessários em que a fala parece estar veiculada a uma proposta de que a tensão aumente, mas se utiliza dos elementos errados para que isso aconteça. A cada tomada se decodifica um corte para cada interlocutor e um plano médio ou geral; em um constante estabelecimento da relação espacial do ambiente, que retira o interesse tanto pelo que se diz quanto pela composição do quadro. Então, de um lado temos esse pretenso ar de thriller inteligente para reforçar a qualidade do roteiro de Eric Singer, que não traz nenhuma qualidade acima do trabalho de rotina, e um diretor com uma assinatura visual placebo, sem o risco de Paul Greengrass e sua aproximação com o documental em O Ultimato Bourne (2007). Ainda que Tykwer tenha diminuído seus cacoetes estilísticos de uso ostensivo de grua e câmera lenta, ele ainda é refém de uma concepção de descrição de movimento da ação com travellings básicos, e de que o ritmo e fluência só podem nascer a partir da movimentação entre um ponto e outro.



Trama Internacional traz a política em sua superfície, as ações progressivas seguem a obviedade padrão, e não há nenhuma relação especial com as locações, pois não basta colocar seus personagens em frente a prédios gigantes ou a correr no meio da rua. A arquitetura está ali, mas só como acessório estético. Por essa razão que uma sequência em particular salta aos olhos, porque o diretor, finalmente, consegue colocar em prática tudo que sugere em todo o filme: a luta de um homem contra uma máquina muito maior do que a sua existência. É no tiroteio no museu Guggenheim, que evoca Brian De Palma, que Tykwer coloca lado a lado a barbárie e a arte do século XXI. Entretanto, esses 15 minutos de puro cinema acabam deslocados em meio ao esquematismo dominante que impregna a narrativa.



# TRAMA INTERNACIONAL (The International)

Alemanha/EUA/Reino Unido, 2009.

Direção: TOM TYKWER

Roteiro: ERIC SINGER

Fotografia: FRANK GRIEBE

Montagem: MATHILDE BONNEFOY

Produção: CHARLES ROVEN, LLOYD PHILLIPS e RICHARD SUCKLE

Elenco: CLIVE OWEN, NAOMI WATTS, ARMIN MUELLER-STAHL, ULRICH THOMSEN e MICHEL VOLETTI

Duração: 118 minutos

Site Oficial: http://www.everybodypays.com/

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