Jason é filho de Ivan Reitman - diretor renomado por Os Caça-Fantasmas (1984), entre outros comédias -, mas é fruto mesmo de uma geração Sundance no cinema americano. Isso quer dizer que a sua filmografia é taxada como independente, pois é feita com liberdade criativa e longe dos cortes e controles dos grandes estúdios. O que na prática gerou um grande número de cineastas que fazem o que se pode chamar de indie de butique: uma carga autoral estéril embalada com uma estética que dialoga com o universo jovem e o contemporâneo. Jason não constrói nada filme após filme, porém é exaltado e superestimado pela imprensa americana e por parte do público. Esse incensamento é caracterizado pela carência de novos nomes em um mercado dominado por realizadores como Clint Eastwood e Martin Scorsese, que para muitos já estão ultrapassados e não merecem tantos louros na atualidade.
Os três longas dirigidos por Reitman partem de um mesmo ponto a partir da escolha de um tema polêmico na sociedade: o cigarro e a indústria tabagista (Obrigado por Fumar, 2005); o aborto (Juno, 2007); e o desemprego (Amor Sem Escalas, 2009). Todos guiados por um fundo moral bem óbvio e que pretensamente criticam e alfinetam com um humor negro canhestro para, na verdade, domesticarem e aplicarem lições em seus personagens e, por consequente, no espectador. A roupagem é sempre atraente à primeira vista, pois Jason não filma como seus pares que investem em câmera na mão e improviso. Ele aposta no classicismo narrativo em um roteiro de segmentações dramáticas escorado pela presença de um protagonista em um momento de crise de identidade. A crueldade da encenação do diretor está em criar e desenvolver desenhos específicos de personagens nos quais o público se identifica de alguma forma, mesmo que seja pela diferença, e promover uma falsa mudança interna para puni-los.
Em Amor Sem Escalas, Ryan Bingham é autossuficiente e vive uma rotina extensiva de viagens para demitir funcionários de diversas empresas. Ele é descrito como um perfeccionista em tudo e de distanciamento afetivo, até mesmo com a família. Bingham não está em crise e Reitman não consegue traduzir em imagens a sua solidão. Ou seja, ela é sugerida através das falas dos personagens a seu redor, como a irmã. Aliás, os únicos símbolos que vão ser destacados em toda a narrativa são as inúmeras propagandas feitas em referência a companhias aéreas, hotéis e restaurantes, que por alguns instantes soam tão constrangedoras quanto qualquer exposição de produto em uma produção de Luiz Carlos Barreto. Não se descrevem os locais, os moradores da região ou quaisquer outras características que façam do filme uma referência de observação do americano. Os personagens são tipificações que passeiam pela tela sem interesse ou vida em rumo ao esquecimento de suas existências cinematográficas.
As frases dos diálogos são feitas e Clooney interpreta a si mesmo, com aparentes toques biográficos em sua relação de preservar imagem e esconder a sua vida privada. Nessa composição equivocada, só resta a Reitman criar situações para que algo soe verdadeiro na tela. Essa aproximação com o real torna-se explícita na câmera documental durante os depoimentos das pessoas que são demitidas por Bingham. O movimento do plano e a busca por foco são tão banais quanto o texto lido e ensaiado por cada um deles.
O verdadeiro paradoxo que se forma em Amor Sem Escalas é que a modernização do serviço de dispensa de funcionários torna a tarefa ainda mais impessoal do que já é. Mas tanto Bingham quanto Jason Reitman querem que o espectador acredite que realmente isso será um abalo notável na vida de seu personagem. Entretanto, é exatamente o contrário: o computador é acusado de afastar as pessoas e tirar resquícios de humanização nas relações. Algo que o personagem principal realiza todos os dias, só com a diferença de esbarrar em pessoas de vez em quando. O único desfecho possível para Bingham seria demitir as pessoas por laptop dentro de um avião. Mas essa conclusão não existe, pois ele é desprezado pelo diretor em meio a sua felicidade em ser solitário.
# AMOR SEM ESCALAS (UP IN THE AIR)
EUA, 2009.
Direção: JASON REITMAN
Roteiro: JASON REITMAN & SHELDON TURNER
Fotografia: ERIC STEELBERG
Montagem: DANA E. GLAUBERMAN
Produção: IVAN REITMAN, JEFFREY CLIFFORD, DANIEL DUBIECKI & JASON REITMAN
Música: ROLFE KENT
Elenco: GEORGE CLOONEY, VERA FARMIGA, ANNA KENDRICK, JASON BATEMAN & AMY MORTON
Duração: 109 minutos
Site oficial: http://www.theupintheairmovie.com/