O universo dos filmes do diretor irlandês Jim Sheridan sempre foi o do país pobre e conflituado em que o cineasta, hoje com 60 anos, cresceu. A começar por Meu Pé Esquerdo (de 1989), seguindo com Terra da Discórdia (1990) e Em Nome do Pai (1993), em comum a estes e mais filmes, o mundo sujo e violento. Como diretor ou produtor, Sheridan também se envolveu na concepção de obras que falavam de greve de fome e IRA, como Mães em Luta , ao lado de seu parceiro mais constante, o roteirista Terry George. Entre Irmãos tem todos estes temas: guerra, disputa, conflitos familiares, culpa. Originariamente é remake de um filme dinamarquês de mesmo nome, dirigido por Susanne Bier e Anders Thomas Jensen e, com certeza, para criticá-lo com mais propriedade, teria sido necessário assistir aos dois.
Sam (Tobey Maguire) é um oficial exemplar do exército americano casado com Grace (Natalie Portman) e pai de duas filhas. Seu irmão Tommy (Jake Gyllenhaal) é seu oposto: acaba de sair da cadeia por furto. Quando Sam é convocado para o Afeganistão e dado como morto, Tommy tem a chance de se aproximar das sobrinhas e ajudar a cunhada, sempre observado de perto por seu rígido pai (Sam Shepard). Mas assim que a família começa a se reestruturar, uma surpresa: Sam foi encontrado com vida.
É visível e bem sucedido o esforço de Tobey Maguire de migrar para a primeira parte do filme – que nos situa numa família tipicamente classe média americana – para sua segunda parte, quando vamos conviver com os talibãs, onde Sam é cruelmente torturado. Torturas estas compartilhadas com o espectador, pancada por pancada. Natalie Portman também compõe bem como a mãe deprimida que tenta atender às filhas. Sam Shepard e Jake Gyllenhaal estão afiados como pai e filho rejeitado. Só que o elenco dá de cara com duas limitações: a pobreza dos diálogos do roteirista americano David Benioff (de X Men e Tróia) e a limpeza da produção americana.
Normalmente os personagens de Entre Irmãos estão dando informações irrelevantes ou discursando lugares comuns. Exemplos: Sam vai andar em volta da casa e, quando retorna, Grace pergunta aonde foi. “Lá fora”, ele diz - como se já não soubéssemos. Mais graves são as frases de Sam Shepard: “Você deveria ser como seu irmão”, diz a Tommy. “Ele é um herói de guerra”, repete. Benioff parece não confiar nas imagens e na inteligência do espectador. Na única vez em que ousa – colocando a criança mais velha para mentir para o pai, aos gritos – há um estranhamento. Dificilmente uma criança de oito anos falaria de sexo com aquelas palavras.
De resto, fotografia, iluminação, figurino, edição: tudo é arrendondado e certinho demais para que o filme se pareça com uma obra sobre culpa. Ficou mais um drama comum cheio da atual melancolia americana sobre seu estado de guerra.
# ENTRE IRMÃOS (Brothers)
EUA, 2009
Direção: Jim Sheridan
Roteiro: David Benioff
Fotografia: Frederick Elmes
Elenco: Tobey Maguire,Jake Gyllenhaal, Natalie Portman, Sam Shepard, Mare Winningham.
Trilha Sonora original: Thomas Newman
Produtores: Michael De Luca, Ryan Kavanaugh, Scott Fischer
107min