Então, não foi Napoleão que morreu na ilha onde estava exilado, Santa Helena, no dia 5 de maio de 1821? Era um impostor, em seu lugar?
Levando para a tela o romance The Death of Napoleon, de Simon Leys, o diretor e co-roteirista Alan Taylor – que vem dirigindo episódios das séries de TV The West Wing e Sex and the City - e os outros roteiristas, Kevin Molony e Herbie Wave, propuseram essa possibilidade.
Um certo Eugene Lenormand, sósia do Imperador, chega na ilha no mesmo cargueiro que, depois, transporta Napoleão de volta a Paris. E eles trocam de lugar. Eugene ficaria na ilha até que o trono fosse retomado por "quem de direito", e, então, revelaria sua identidade. Napoleão reclamaria a coroa e teria todo o povo francês do seu lado.
Mas deu tudo errado. Eugene tomou-se de amores por seu ilustre personagem e resolveu representá-lo até o fim. Quando morreu, anunciou-se ao mundo o desaparecimento de Bonaparte. O que tornou mais difícil ainda ao outro provar que era o verdadeiro imperador.
As Novas Roupas do Imperador é um filmezinho apenas simpático, com a atuação que se poderia esperar de um ator com a sensibilidade de Ian Holm (o Bilbo de O Senhor dos Anéis) no papel dos sósias.
Ao seu lado, o calor humano da dinamarquesa Iben Hjejle (de Mifune e Alta Fidelidade), como a viúva Pumpkin, que se apaixona por ele e não leva a sério o homenzinho de ares importantes quando ele "pensa que é Napoleão", como tantos internos do manicômio de onde ele foge, apavorado. O papel de Iben, no entanto, é tão pouco estruturado que o espectador só chega a se incomodar com ela pelo carisma da atriz. Quando a vemos, ela está, quase invariavelmente, fazendo trabalhos domésticos.
Um pouco história de amor, um tanto farsa histórica, o filme parte de uma boa idéia inicial mas, com um roteiro simplista, não se sustentaria se não fosse o trabalho de Holm e daqueles profissionais por trás das câmeras – diretor de arte, fotógrafo, figurinista – que lhe dão autenticidade e verossimilhança.
É curioso lembrar que Ian Holm tinha sido Napoleão duas vezes antes. Num pequeno papel em Os Aventureiros do Tempo,1981, de Terry Gilliam, e numa minissérie de 1974.
Taylor dirige com alguma eficiência mas, como muitas vezes na televisão, sem definir os personagens secundários. Só Napoleão tem vida, que vai, entretanto, perdendo, à medida que se conforma em ser apenas um homem comum.
AS NOVAS ROUPAS DO IMPERADOR (THE EMPEROR´S NEW CLOTHES)
Inglaterra,2001
Direção: ALAN TAYLOR
Roteiro: ALAN TAYLOR, KEVIN MOLONY, HERBIE WAVE
Produção: UBERTO PASOLINI
Fotografia: ALESSIO GELSINI TORRESI
Montagem: MASAHIRO HIRAKUBO
Música: RACHEL PORTMAN
Design: de Produção: ANDREA CHRISANTI
Elenco: IAN HOLM, IBEN HJEJLE, TIM McINNERNI, TOM WATSON, NIGEL TERRY
Duração: 107 minutos