Críticas


GOLPISTA DO ANO, O

De: GLENN FICARRA, JOHN REQUA
Com: JIM CARREY, EWAN MCGREGOR, RODRIGO SANTORO
24.06.2010
Por Daniel Schenker
TRANSAS E CARETAS

Quando O Golpista do Ano começa, Steven Russell (Jim Carrey, sem abrir mão totalmente dos exageros que o notabilizaram) mora na Geórgia e trabalha como policial unicamente com o intuito de encontrar a mãe biológica. Frustrado, muda-se para o Texas, onde troca o sexo sem graça com a esposa carola por transas endiabradas com desconhecidos de plantão. Sofre um acidente de carro e decide viver do seu jeito. Joga mulher e filha para o alto, ruma para a Flórida, assume de vez a homossexualidade e não demora a disparar uma conclusão bem lugar-comum: “ser gay é realmente caro”.



Para sustentar um cotidiano abastado, passa a praticar golpes. Os namorados, como Jimmy (Rodrigo Santoro, ainda sem muita oportunidade em terra estrangeira), saem, claro, favorecidos, mesmo que não sejam cúmplices das falcatruas de Russell. Mas em que medida os diretores Glenn Ficarra e John Requa estariam investindo numa associação direta entre homossexualidade e contravenção? A suspeita é desfeita pouco tempo depois, numa rápida tirada protagonizada pela tonta, agora ex-mulher, de Russell: “o fato de ser gay tem relação com roubar?”. Assim é O Golpista do Ano , um filme que provoca o espectador, tangencia o politicamente incorreto e chega a flertar com o preconceito, sem, porém, incorrer nele.



Na prisão, Russell conhece o Phillip Morris do título (Ewan McGregor), por quem se apaixona. Ambos ensaiam uma relação estável, temperada por eventuais doses de perversão (a exemplo da reação de Morris diante da responsabilidade de Russell na punição de um preso). São românticos, mas não ingênuos. Sabem perfeitamente que a forma mais fácil para conseguir o que se almeja dentro da cadeia é aderindo à prática sistemática do sexo oral.



A inverossimilhança de O Golpista do Ano pode não estar aí, mas a fidelidade ao real passou longe dos planos dos cineastas, independentemente de terem se escorado numa história real relatada no livro do jornalista Steven McVicker. Basta dizer que Russell dá golpes em supermercados e shoppings como se não houvesse câmeras de vigilância. Os protagonistas engatam uma love story atrás das grades sem cogitar retaliações, excetuados os temores de Morris em transitar pelo pátio do presídio. Eventuais quedas de ritmo (em particular, na parte que enfileira os sucessivos golpes protagonizados por Russell) não chegam a atrapalhar esse filme esperto, um dos destaques do Festival de Sundance de 2009.



# O GOLPISTA DO ANO (I LOVE YOU PHILLIP MORRIS)

EUA, 2008

Direção e Roteiro: GLENN FICARRA, JOHN REQUA

Produção: ANDREW LAZAR, LUC BESSON

Fotografia: XAVIER PÉREZ GROBET

Trilha Sonora: NICK URATA

Elenco: JIM CARREY, EWAN MCGREGOR, RODRIGO SANTORO

Duração: 97 minutos

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